#14 Efeitos

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Segunda 14:08

Eva

Após comermos, Chris me levou até em casa. Já em frente a minha porta, nós paramos e nos encaramos por meros três segundos, mas esses três segundos criaram tantas borboletas no meu estômago que eu cruzei os braços e acabei por desviar o olhar, quando ouso olhá-lo novamente vejo um sorriso triste se forma no seu rosto, eu não sei dizer o que significou exatamente já que em menos de um segundo o seu semblante já havia mudado, mas de alguma forma aquilo mexeu comigo.
As perguntas que tanto ronda a minha cabeça não são exatamente  para justificar o fato de ser ameaçada em um beco, mas queria entender esse mundo em que Chris vive, pois se eu conseguisse entender essa confusão, talvez eu conhecesse um pouco mais o Christoffer Schistad, e admitir para mim mesma que eu quero de fato conhecê-lo me causa um arrepio que percorre todo o meu corpo, não consigo julgar dizendo se isso é bom ou ruim. Às vezes me pergunto se ele se culpa por tudo o que houve ou se ao menos ele se importa, tento alimentar a minha a minha imaginação dizendo que ele é só um babaca que não se importa com ninguém além de si mesmo, mas sempre quando tento me convencer desses meus pensamentos, meu coração me trai dizendo que não sou capaz de acreditar em nenhum deles, e talvez eu realmente não seja.
- Você quer entrar?
Ele me olha e mais uma vez um sorriso triste aparece e, mais uma vez, some.
- Não posso.
Eu, ainda de braços cruzados, dou um passo em sua direção.
- Você acha que eu não percebi? - ele recua discretamente, mas eu dou mais um passo adiante. - Você me convidou para me contar alguma coisa e disfarçou me pedindo desculpas. - ele abaixa o olhar. - Por que não pode entrar Chris?
Ele, que antes recuava, avança da minha direção, instintivamente dou um passo para trás, mas logo recupero a minha falsa confiança.
- Vou me encontrar com Ivan. - meus olhos se arregalam. - Preciso que fique aqui... Segura.
Ele se afasta e da às costas.
- É só isso que vai me dizer? - ele não reage, pelo menos não consigo ver sua reação, mas continua parado no lugar. Meio receosa vou na sua direção e coloco uma das minhas mãos nos seus ombros, ele se afasta bruscamente e se vira em minha direção, meu coração se aperta. - Só não se machuca...
Muitas pessoas passaram por mim e a maioria delas foram embora, e todas elas levaram uma parte de mim, mesmo que eu não quisesse isso. Agora nesse exato momento percebo que esse menino bem na minha frente tem uma parte de mim agora, isso me assusta, e de alguma forma me tranquiliza.
Suas mãos passam pelos seus cabelos que, antes em perfeito estado, se encontram admiravelmente bagunçados, ele anda até mim, fazendo me encostar na parede, ele põe uma das mãos apoiadas acima da minha cabeça, seus olhos me invadem da cabeça aos pés, sinto uma mistura de nervoso e desejo, com sua outra mão ele a deposita na minha nuca e, sem que eu esperasse, me puxa para um beijo, estranhamente calmo e maravilhosamente doce. Eu simplesmente o deixo conduzir minha cabeça, enquanto sinto o gosto dos seus lábios quentes sobre os meus, me surpreendo em como eu posso ser terrivelmente melosa em relação a esse momento.
Então ele para.
Abro meus olhos devagar enquanto sinto sua mão sair lentamente da minha nuca, porém nossas testas ainda permanecem coladas, ele abre os olhos e me olha com intensidade e depois se afasta. Por um momento penso que talvez ele tenha se arrependido, e me julgo por ter sentimentos tão  infantis, mas que cismam em fazer parte de mim.
-  Tchau.
Ele diz e vai embora.
Minha cabeça está tão confusa, não sei bem o que acabou de acontecer, eu já beijei o Chris antes, mas parecia a primeira vez, como se houvesse sentimentos e me assusta o fato de ser em uma linha única. Entretanto eu não o culparia, afinal eu sabia onde estava me metendo, eu conhecia seu passado, bom pelo menos eu achava que conhecia, eu achava que sabia onde estava me metendo, a questão é que ele me mostrou ser um tanto diferente daquilo que eu poderia imaginar, e isso não poderia ser mais fodidamente clichê.

***

Terça 7:23

Ainda no pátio da escola, aguardávamos o horário para a próxima aula. Olho para o lado e vejo a Vilde correndo desesperadamente em nossa direção, ela equilibrava desajeitadamente a mochila em um ombro, enquanto segurava um monte de papéis, com certeza ela tinha alguma fofoca em mente. Ela, esbaforidamente, puxa todo o ar que foi conseguiu e soltou de uma vez só.
- Vocês estão sabendo?
Eu e as meninas nos olhamos sem saber do que essa loirinha poderia estar falando.
- Não. - Chris diz.
- Ontem os caras do Klør foram atrás de Chris e do William, mas eles encontraram só o Chris, fiquei sabendo que ele apanhou feio.
No mesmo instante o ar foge do meu peito e sinto o meu estômago revirar. Era isso que eu temia, ele sabia, sabia que não iria acabar bem, por isso que ele estava tão estranho ontem. Saco. Eu estou preocupada com ele sim.
Muito estranho admitir isso para mim mesma.
Vilde continuou dizendo que ela não sabia muito bem o motivo, mas havia descoberto que ele estava devendo algo para os Klør e que havia apanhado por não ter conseguido quitar essa tal "dívida misteriosa", palavras de Vilde.
- E como você poderia saber de tudo isso? - Sana pergunta, incrédula.
Em uma sincronia perfeita ouvimos um som de um carro, reconhecendo o carro de William, paramos de falar e observamos atentamente o carro, assim que ele estaciona vemos William, seguido de Christoffer descendo do carro, meus olhos acompanham seus movimentos, observo seu olho machucado, com manchas roxas ao redor da maçã do rosto e um corte no nariz, esse são os únicos machucados que eu consigo ver, já que ele usava uma blusa de manga preta, com sua famosa jaqueta preta por cima, ainda acompanho seus movimentos, eles passam direto por nós, não sei se ele me viu ou não, mas isso sinceramente não me importou nesse momento. Também observei Noora não tirar os olhos de William, o que me deixou um tanto curiosa.
O sinal toca nos obrigando a ir para a próxima aula, mas como sempre minha cabeça cisma em focar na mosca que passa por todos os lados, menos na maldita aula que preciso, me obrigo a me concentrar na matéria, mesmo eu querendo pegar o meu celular para mandar uma mensagem para ele, me repreendo dizendo a mim mesma que posso me preocupar com ele sem ter que virar uma repetente por isso.
Está fora de cogitação que eu deixe Chris ver esse meu lado que se preocupa com ele, pelo menos até essa confusão toda acabar... Ok, ontem foi um leve deslize, de qualquer forma ontem foi um turbilhão de perguntas sem respostas que se passaram pela minha cabeça, afinal foi ele quem me beijou.
Saco.
Mente você quer fazer um favor e focar na merda na matéria de história?!
Depois de mais alguns longos minutos me forçando a focar na aula, o sinal toca, até que para uma distraída de primeira eu estou orgulhosa do meu pequeno esforço nessa aula, só falta agora em todo o resto das matérias.

16:57

O dia se passou lento e tedioso, depois daquele momento no pátio não encontrei mais o Chris, de qualquer forma se ele quisesse conversar ele teria vindo falar comigo, eu acho, mas ele não veio então me obriguei a esquecer, afinal de contas ele não é minha responsabilidade.
Sem ter mais o que fazer, resolvo pegar o meu notebook e ficar de bobeira na cama, minha mãe desde daquele dia não voltou para casa, o que me deixa preocupada, obviamente ela passa muitos dias foras, mas não por tanto tempo, mando uma mensagem a ela perguntando se está tudo bem. Como havia se passado dez minutos e nada dela me responder, resolvo voltar a minha atenção ao notebook e me abrigo a acreditar que ela está bem e simplesmente esqueceu de me mandar notícias.
Já totalmente entediada e quase dormindo, ouço batidas na janela do meu quarto, assustada com o barulho do um leve pulo em cima da cama, de costume pego o meu celular para verificar que horas são.
19:48
Levanto da minha cama, cambaleando um pouco, abro a janela e me deparo com a pessoa que irritantemente tem feito parte dos meus pensamentos o dia todo, ele entra. Meu coração, que antes se encontrava em perfeita calmaria, batia tão forte no meu peito, que temi que ele escutasse o feito que, sem eu querer - ressalto o SEM - ele causava em mim, um efeito que me alegra, mas também me apavora, uma sensação de que eu poderia perder o chão a qualquer momento, mas parecia tão lindamente arriscado que atraía sem ao menos eu perceber. E sem saber muito o que fazer, ando em sua direção e envolvo seu pescoço com os meus braços e alguns segundos depois, como se ele ainda estivesse processando, ele envolve seus braços na minha cintura e costas. E naquele momento só isso importava.

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