#10 Olhares

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Quinta 21:37

Chris

Estou completamente necessitado, e para saciar essa vontade exorbitante, que corre pelo meu corpo, vim até a casa da Carly, e olha, essa garota não brinca em serviço.
No final, caímos um do lado do outro exaustos. E apesar do sexo, Carly era a única menina que transava comigo sem nenhum tipo de frescura, ela sabia que eu não iria ligar no dia seguinte, ela sabia que eu só dormia com ela para satisfazer minha vontade e ela satisfazer a dela. Conversávamos, éramos - estranhamente - amigos de uma certa forma. Crescemos juntos, nossas mães eram amigas, isso até a mãe dela morrer, ela se mudou com o pai, mas assim que pode ela voltou para Oslo, dois meses depois fazíamos nossas visitas sempre que podíamos. No começo foi por pura diversão e atração, mas a verdade era que nos encontrávamos para desabafar, não com palavras, mas sim com movimentos de prazeres incríveis.
Carly é uma garota linda, não posso negar, altura mediana, cabelo liso até a curva da costela, loira, olhos castanhos claros, mas nada que me atrai de fato.
Ela me encarava como se esperasse que eu falasse primeiro, como eu disse Carly é, estranhamente, minha amiga, a única pessoa que me conhece mais que ela era o William, a questão é que eu vim atrás dela, eu vim até a casa dela pedindo por isso, então ela já imaginava que eu estava com algum problema, ela estreita os olhos, com um sorriso sacana no rosto. Carly tinha um rosto de anjo, mas com certeza não era uma.
- Não é nada.
Eu levanto enrolado no lençol e vou até o banheiro, posso ouvir sua risada.
- Eu sei o que aconteceu.- Saio com a escova de dentes pendurada na boca, já vestido com uma calça jeans preta, eu a observo enquanto ela ri divertido. Volto para dentro do banheiro, limpo minha boca e vou para o quarto, ela continua deitada, ela se vira de lado, apoia a sua cabeça em sua mão, me olhando como se soubesse de todos os meus segredos. Espero ela falar.- Tem haver com o seu pai.- Minha cabeça automaticamente pende para o lado, mostrando a minha cara de "completamente confuso". Ela ri.- Meu pai. Ele me contou que o seu estava tentando entrar em contato com você.
Eu levanto da cadeira em frente a mesa de computador, em busca da minha camisa, encontro ela jogada perto da cama.
- Isso não te diz respeito.- Falo enquanto ponho a camisa. Ela sorri.- Porra! Quer parar com esse sorriso cínico do caralho?!
Ela gargalhada dessa vez.
- Eu amo irritar você.- Reviro os meus olhos.- Bom, antes que você vá embora, quero te falar uma coisa.- Volto a minha atenção a ela.- Acabou.
Dessa vez, eu ri.
- Como é?- pergunto enquanto calço o meu tênis.
- Essa bagunça que nós temos.
Eu a encaro e percebo que ela está falando sério.
- Ok.
Ela respira fundo.
- Conheci um cara, gosto dele.
Balanço a cabeça, eu não precisava saber da vida amorosa dela com os outros caras, acreditem isso não me interessa nem um pouco, mas admito que fiquei surpreso.
- Você? Afim de alguém? É, quem disse que milagres não existem.
Ela joga um travesseiro na minha direção, eu agarro no ar com facilidade.
- Foi a última vez!
Eu vou em direção a cama, subo em cima dela e desço minha boca até o seu pescoço, passo meus lábios suavemente até chegar no seu ouvido, sinto o seu corpo arrepiar, o que me traz uma sensação egoísta de orgulho.
- Você não sobrevive sem mim.
Após alguns segundos, ela me empurra para fora da cama.
- Vai se ferrar.
Eu sento na cama ao seu lado.
- Carly, o que o seu pai de contou?
Ela se senta na cama, cuidando para que o lençol cubra o seu corpo.
- Só que ele não estava conseguindo falar com você. E que o seu pai faria algo a respeito.
Passo minha mão no meu cabelo, meu coração está descompensado, meu oxigênio parece que diminui em questão de segundos.
- Puta merda!
É só o que eu consigo dizer.
O que será que esse babaca quer comigo?
Eu não estou com cabeça para ele agora, e nem sei se um dia vou estar.
- Chris...
Ela me olha de forma preocupada, eu me levanto, pego minha chave do carro e vou em direção a janela pela qual eu entrei.
Sei que ela está preocupada comigo, mas, como eu disse, isso não diz respeito a ela, quanto menos pessoas envolvidas melhor.
- Valeu Carly.
Saio e vou para o carro.

...~...~...~...

Sexta 10:32


A aula de biologia com certeza não é umas das coisas que eu estou precisando agora, o professor é legal, mas hoje eu não estou com humor para essa maldita aula. O professor para de falar quando batidas na porta interrompem a aula, o diretor aparece e leva o professor para o corredor, alguns minutos depois ele volta.
- Turma, o professor de biologia do primeiro ano entrou de licença de última hora, então, para eles não ficarem à toa, eles terão algumas aulas conosco a partir de agora.
Em um timing perfeito a porta é aberta e a turma do primeiro ano começa a entrar e, como uma coincidência quase surreal, a turma do primeiro ano é nada mais e nada menos do que a de Eva. Assim que ela me vê, ela desvia o olhar, mas eu percebo que sua expressão se torna um pouco mais sombria, como se me olhar fosse quase que dolorido, como se eu fosse um pecado. Aquilo não devia, mas me incomodou de uma maneira irritante, ela sentou duas fileiras na minha frente, eu não faço ideia de como foi o resto da aula, pois minha cabeça só pensava em o porquê de Eva estar tão incomodada com a minha pessoa.
Porra.
Por que infernos isso me preocupa tanto? Me obrigo a lançar todos esses pensamentos pra longe. Eu, sinceramente, já tenho muitos problemas, não quero mais nenhum. Assim que o sinal toca eu junto as minhas coisas e jogo tudo na mochila, quando saio da sala sinto uma mão me agarrar no braço e me puxar para baixo da escada que ficava ali perto, ela me joga contra a parede e me observa. Ela estava com o seu gorro cinza, um casaco enorme verde, um jeans preto, tênis preto, sem nenhuma maquiagem no rosto, ela estava basicamente (na forma mais literal possível) bonita, seu rosto como antes não me encarava de modo algum, como se eu fosse um erro, e talvez eu realmente fosse.
- Sabe, eu sei que eu sou irresistível, mas aqui? Sério?- falo tentando descontrair.- Isso não é baixo até para você, Eva?
Seu olhar finalmente sobe ao encontro dos meus, e quando olho no fundo dos seus olhos, meu sorriso se desfaz na hora. Ela estava com lágrimas nos olhos, eles estavam vermelhos e um pouco inchados, obviamente penso que ela chorou a noite toda, e me pergunto o porquê disso ter alguma coisa haver comigo. Ela dá um passo para trás, seus ombros estão caídos, e seu casaco estava caído sobre os seus ombros, e eu pude perceber uma marca nos seus ombros, que me pareceu muito como um machucado, como se alguém tivesse batido nela. Sem pensar muito, eu me aproximo um pouco, levo minha mão na direção dos seus ombros, ela recua como se eu fosse machucá-la, eu levanto as minhas mãos em rendição.
- Eva, está tudo bem. Não vou machucar você.- Ela continuou um pouco distante.- Eu prometo.
- E a sua palavra vale alguma coisa?
Ela pergunta, passando os braços em volta dela mesma. Isso não deveria, mas faz um nó enorme na minha garganta.
- Não muito.
Ela me olha, como se ela não esperasse uma resposta tão sincera. Aos poucos ela se aproxima novamente de mim, levo minhas mãos em direção ao seu ombro e puxo o seu casaco para baixo, expondo sua pele, dos ombros e braços, com manchas roxas, ela estremece quando a toco levemente no ombro, como se o meu toque fosse como ácido sobre sua pele, recolho as minhas mãos imediatamente, seu olhar estar perdido em algum lugar do chão, enquanto os meus olhos estão fixados nela.
Será que isso tem haver comigo? Óbvio! Ela não me traria aqui sem motivo, isso deve ser culpa minha, mas por quê? E como?
Espero ela falar alguma coisa em relação a isso, mas ela não diz nada. Então eu quebro esse silêncio de morte que se instaurou entre nós.
- Quem fez isso com você?
Eu a seguro pelos ombros e de leve a coloco apoiada na parede, ficando de frente com ela.
- O nome dele era Ivan.
Meus olhos logo se arregalam.
- Ivan Klør?
Ela confirma com a cabeça.
- Segundo ele, eu sou seu novo interesse especial, e que me machucaria de novo caso você não devolvesse o que era dele por direito.- Ela respira fundo e colocando as mãos no rosto, visivelmente, frustrada.- Meu Deus! Eu vou morrer!
Eu apoio minhas mãos na parede com a Eva entre os meus braços.
- Eva, olha pra mim...- ela levanta os olhos na minha direção.- Me encontra no estacionamento depois da aula.- sem reação. - Confirma Eva.- ela balança à cabeça em concordância.
Pego a minha mochila que havia jogado no chão, enquanto ela se afasta levantando o casaco. Eu a chamo antes que ela se afaste completamente. Ela se vira me olha.
- Não vou deixar que te machuquem.
Ela dá um sorriso.
- Eu não deveria, mas confio em você.
Então ela segue rumo a próxima aula, enquanto eu fico um pouco mais pensando no que eu vou fazer.

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