#24 Encontro Inesperado

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Sábado 10:08

Eva

Eu estava sentada na bancada da minha cozinha comendo o meu cereal favorito, pensando na merda da prova de física que eu precisava estudar. Por incrível que pareça, minhas notas estavam melhorando consideravelmente, depois que eu comecei a ter algumas aulas extras com a Sana.
Minha mãe aparece na cozinha e prepara um pouco de café pra ela, uma coisa que somos acostumadas a fazer é não falar nada de manhã além do "Bom dia", é como se a nossa alma demorasse a retornar aos nossos corpos depois que levantamos. Mas naquela manhã minha mãe não estava querendo seguir a rotina que eu tanto prezava.
Infelizmente eu não sou o tipo de pessoa que sabe disfarçar as emoções quando se trata da minha mãe, é como se ela pudesse sentir quando eu estava mal. A um tempo atrás ela ignoraria pensando que estava me dando espaço e que isso era o que ela devia fazer, mas ultimamente nós estávamos conversando mais, e isso é uma coisa da qual eu sempre torcia para acontecer, mas hoje eu não queria falar, hoje eu só queria comer o maldito cereal em paz.

- Tá tudo bem? - ela pergunta.

Balanço a cabeça confirmando, torcendo pra ela aceitar isso como uma ótima resposta. Mas o seu olhar insistente sobre mim deixava um leve sinal de que ela não estava satisfeita.

- Está... - eu suspiro. - Indo...

- O que está exatamente "indo"? - ela pergunta depois de beber um gole do café.

Eu paro para pensar nessa pergunta.
Sinceramente eu não faço a menor ideia.
Eu simplesmente dou de ombros.

- Esse seu "indo" tem haver com o seu namorado? - ela pergunta com um ar de inocente.

Eu não queria falar sobre isso, eu nem sequer queria pensar nisso, eu estava tão disposta a ignorar que eu nem fazia ideia de como eu me sentia em relação a isso.
Eu levanto e coloco a louça na pia, dou um beijo na minha mãe e digo que vou dar uma volta. Eu precisava de ar, precisava saber o que eu queria. Esse sempre foi um dos meus problemas, além de ser muito indecisa, eu penso demais.
Eu estava andando pela calçada, não estava indo a nenhum lugar específico, apenas queria caminhar. No meio do caminho eu acabo esbarrando em alguém, automaticamente eu já peço desculpas.

- Sinto muito...

Eu olho para cima e vejo um cara alto, um cara que eu bem reconheço, me arrependo amargamente de ter saído de casa.
Ele me encara firme, antes de segurar o meu braço.

- Que tal um café? - ele pergunta, mas sinto como se fosse uma ordem.

Ele me arrasta até a uma cafeteria ali perto, quando entro sinto o clima tenso que fica no local, ou talvez seja impressão minha, ele me põe sentada em uma cadeira e vai até o balcão para pedir alguma coisa, eu poderia aproveitar esse momento para correr, mas minha pernas estão paralisadas,  e depois que eu fugisse para onde eu iria? Eu não tinha para onde ir, minha única opção era ficar ali e ver aonde essa merda ia dar.
Vejo o cara voltando com pedaço de bolo e dois cafés, ele se senta a minha frente e me estende o bolo e o copo de café, tento transparecer calma, mas as minhas mãos que tremem constantemente acabam me traindo.

- Quanto tempo em... Por falar nisso, sinto muito pelo nosso último encontro...

Eu abaixo o olhar, a lembrança daquele beco imundo revira o meu estômago.

- O que você quer? - eu quase sussurro cada palavra.

- Tá aí uma excelente pergunta. Sabe Eva você parece uma menina incrível, de verdade, não entendo o que uma adorável garota como você faz com um cara como ele...

Eu finalmente levanto meus olhos em sua direção,  seus olhos escuros em sem vida me encaram de volta.

- Nem eu... - respondo.

Ele ri.

- Preciso que me diga onde ele está.

Eu balanço a cabeça tentado pensar no que dizer. Meu estômago revira outra vez, eu não faço a mínima ideia de onde ele poderia estar, só sei que ele está fora da cidade nada mais, e mesmo que eu soubesse eu não diria.
Meu coração está a mil, estou orando por dentro, torcendo para alguma coisa me tirar dessa situação.
Eu o olho sem saber o que dizer, ele lentamente estende sua mão sobre a mesa e alcança a minha mão, seu toque me causa repulsa instantânea, mas disfarço.

- Você sabe o meu nome... - eu tento respirar com calma, ele me olha interrogativamente. - Mas eu não sei o seu.

Ele se inclina sobre a mesa, depois de alguns bons segundos me observando, ele responde.

- Aïden, já ouviu falar?

- Nunca... - digo sem pensar - Quer dizer...

Antes que eu diga alguma coisa, ele ri novamente, não sei dizer o que, mas algo no seu sorriso me deixa tensa.

- Isso não me surpreende, você parece ser uma boa menina.

Meus dentes trincam, eu odeio esse cara.

- Sabe Eva, eu sou um cara paciente, sério mesmo. Mas tem coisas que me irritam profundamente, coisas como Wifi lento, quem mastiga de boca aberta... - ele aperta minha mão com mais força.  - e principalmente pessoas que não me dão o que eu quero...

- Eu não sei onde ele está... - Eu digo torcendo para ele me deixar em paz.

- Ah qual é, ele não te deixaria aqui sem respostas... - eu abaixo o olhar - É melhor você...

Ele para de falar de repente, olho para cima e bem atrás dele está alguém que eu não imaginava ver, suas mãos repousam firmemente nos ombros do Aïden.
Eu respiro de alívio.

- Olá Eva.

Aïden retira suas mãos nojentas das minhas e estende uma cadeira oferecendo para o Maxwell se sentar, ele balança a cabeça e estende sua mão em minha direção.

- Sério, você está atrapalhando uma conversa. - Aïden diz levantando.

Maxwell segura a minha mão e me puxa para trás dele.

- Da próxima vez que quiser conversar fala comigo. - ele se aproxima um pouco mais. - E é melhor deixar ela em paz.

Aïden olha na minha direção com seu olhar indecifrável, ele ri cinicamente.

- Você já passou Maxwell, seu tempo nessa cidade já era.

Eles se encaram sem vacilar.

- Mexe com a Eva de novo, e você vai ver quem já era.

Dito isso ele vira e me leva junto com ele para fora da cafeteria. Um carro preto está parado aqui na frente, ele abre a porta do passageiro e da a volta. Eu hesito por um momento, mas assim que eu olho para trás e vejo o Aïden nos encarando eu entro no carro imediatamente.
Essa manhã foi mais agitada do que eu pensei, meu estômago revira de novo e minha cabeça começa a girar, eu tento controlar a minha respiração, esfrego o meu rosto com as duas mãos.

- Você está bem?

Sua voz firme corta o silêncio que habitava no carro, eu sorrio de forma sarcástica.

- Depende da sua definição de bem...

Ele não responde, seus ombros se encolhem enquanto ele dirige, eu o observo e acabo notando que ele e o Chris se parecem. Desvio o olhar e encosto minha testa na janela, pensando em como as coisas se complicaram tanto na minha vida.

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