MEDUSA

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Ah! Mulher!

Mulher? Quem sabe!?

Tem um poder extraordinário que, mesmo morta, petrifica quem olha para sua cabeça multiofídica.

Ela é ruiva para alguns. Outros já a viram, de longe, é claro, com cabelos cor de ouro ou cobre... muitas vezes cabelos a fumegar delícias, disse-me um sobrevivente. Difícil de acreditar já que a testemunha tinha  boca tora e estava cego.  

 Alguns fios de cabelos vermelhos surgem no meio das cobras e serpentes de sua constituição serafínica  e se deixam cair sobre os ombros. A mecha daquele cabelo afugenta qualquer exército e seu sangue tem o dom de matar e ressuscitar pessoas. Quando entrei em seu território, território de estátuas podres e ruínas majestosas,  vinha atrás de um pouco desse sangue. Derramar o seu sangue, mas, ainda não sabia como contê-lo. Só não me livrava, de maneira alguma,  da espada hermética.

Medusa é uma das três Górgonas, filhas das divindades marinhas Fórcis e Ceto. Isso todo mundo sabe; fingem que não que é para não comentarem nas ruas. Que me perdoem. Ao contrário de suas irmãs, Esteno e Euríale, Medusa é mortal. Bom para nós. No entanto, as outras são muito menos famosas e talvez por isso a inveja e, por incrível que pareça, muito mais bonitas, relativamente. 

Vale a pena dizer que não existe apenas uma Medusa. Pode ser que o leitor more com uma e não saiba pois já está petrificado.

Os sentimentos humanos são sempre projetados nos deuses e nos monstros que o ser humano cria. Aliás, o ser humano cria a projeção e esta projeção tem que ter imagem, certamente, no formato humano. às vezes animal. Às vezes a fusão dos dois. 

Todo mundo ainda tem medo das três irmãs. Todos. Temidas pelos humanos e deuses e santos, elas habitam o extremo Ocidente, junto ao país das Hespérides, país cantado por muitos bardos amedrontados, que é por onde, pé ante pé caminho, agora,  inequívoco segurando, decidido, a terrível espada do mensageiro. Não só a espada mas, também, um brilhante escudo. A espada está colada definitivamente em minha mão direita. O capacete eu deixei de lado por que não gostei do modelo. Tinha umas filigranas persas.

- Medusa!

Tem serpentes em vez de cabelos – mas há os cabelos ruivos, como já disse – e ela é dona de presas pontiagudas, carrega pesadas mãos de bronze e asas de ouro. Fede muito, o que facilita saber onde ela se localiza.

Um dia eu me aproximei dela pelas costas e não pude conter o vômito. Fui encarregado por Polidectes de decepar a cabeça da górgona. Para isso, muni-me de objetos mágicos como sandálias aladas, para quem acredita é claro, – fáceis de encontrar no Jardim da Frigia, - mas estas foram presentes divinos, para quem acredita, é claro  – e, com eles pude pairar acima do monstro num arremedo de estratégia.

Levo, também, além da espada cortante, o escudo de bronze, como também já disse. Quero, com o poderoso reflexo do escudo, neutralizar o olhar petrificador da mulher animal, da mulher coisa. Esse é o plano que me propus executar. Com a espada dada pelo deus Hermes em pessoa - ele é meio baixinho para um deus -  decapitarei a mulher e, imediatamente, a colocarei na frente do escudo de Atena, como proteção contra os inimigos.

- Ei! 

Lá está ela, comendo as partes de um cão. Prefere as entranhas. Elas e as cobras lambem os intestinos do cadáver.

Não tenho muito tempo. Para o reflexo funcionar e ela mesma se petrificar é preciso de luz e com isso a exposição do meu corpo. Ela está se virando! Ela fala como se mil águas desabassem sobre mim. E ouço:

- Perseu é novamente meu convidado? 

Caraca... ela me viu. E, agora? 

É agora!

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