PROMETEU MOLDANDO EM BARRO

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A figura trágica... A figura rebelde... A figura de Prometeu, moldando em barro suas criaturas... dobrando sobre si mesmo como se pensasse em orações ou fortalecesse planos... chorando sobre elas... dando-lhes a vida...

- Prende o filho de Jápeto nas pedras. Envia o abutre para comer o fígado do filho de Clímene. Se eu pudesse eu daria fim a esse Titã importuno. Mas, nem Zeus pode desconcertar um dos descendentes de Urano e Gaia, meu primo, meu parente, meu traidor. Inimigo dos deuses olímpicos.

Hesíodo, o poeta, tomou da pena e relatou aquele discurso. Montou um livro com bastas folhas papiras e mandou que lessem. Escreveu em sua Teogonia, como Prometeu roubou o fogo escondido no Olimpo para entregá-lo aos seres humanos, aquelas criaturas animalescas, tontas, vagabundas sobre a terra. Fez do limo da terra, mágico escultor, toda a humanidade. A memória dos seres que brotam do barro vem das memórias antiquíssima do povo grego, copiada por tantos outros povos. Estátuas, por assim dizer. Milhares delas espalhadas sobre a superfície do planeta desabitado, olhando o nada. Multidão de estátuas. A horda precisava de vida. Prometeu não pensou duas vezes e roubou uma fagulha do fogo divino a fim de dar vida às estátuas de barro.

- Antes disso eu quero que Pandora leve uma caixa, – sua própria boceta de males e bens, – e que se abra essa caixa para espalhar todos as virtudes, – positivas e negativas, - sobre a Terra.

- Mesmo acorrentado a rebelião está aberta contra a injustiça e a onipotência divina! Cuida do seu futuro, Zeus, pois eu sei como ele será. As criaturas terão a liberdade que esperam. O deus que virá em seu lugar tem seu nome escrito no Livro dos Mortos.

- Dessa forma a humanidade enfrentará com orgulho seu destino.

- Sim! Minhas criaturas... com orgulho.

Mas, Prometeu resistiu aos encantos da mensageira.

- Que a humanidade aprenda a enfrentar seus suplícios; a grande luta das conquistas civilizadoras e da propagação de seus benefícios será à custa de sacrifício e sofrimento.

Zeus acorrentou-o a um penhasco, onde o abutre lhe devorava diariamente o fígado. Seu corpo se reconstruía diariamente e, para seu horror, ele sofria diariamente os novos ataques da ave. Mas era um Titã e seres dessa estirpe aguentam qualquer coisa. No entanto Prometeu sabe. É sua sina, saber. É seu grande talento ser o previdente e ele sabe e prevê. E espera. Sabe que da mesma forma que Urano foi destronado por Cronos, e, este por Zeus, outra divindade virá para destroná-lo. Divindade de outro povo. Sabe também que escapará dessa fúria vulturina com ajuda de Héracles, descendente de Io para além de dez gerações.

Hesíodo dirá, em seu leito de morte, meditando sobre inteligência e arte: - Haverá altares consagrados ao culto de Prometeu. Haverá altares em Atenas. Nas festas das lâmpadas, reverencia-se aquele que roubou o fogo do céu. O deus que virá será reflexo de Prometeu.

Prometeu, o primeiro profeta. Certamente inspira o deus dos hebreus.

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