O DESTINO DE DÉDALO

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Por que monstro?

Escondido dos olhares sarcásticos, a abominação taurina era nada mais e nada menos do que um filho não amado, como tantos há desde que a divindade hebraica preferiu um deles.

Como amar aquela atrocidade?

Evidente que de touro nada tinha. Seu porte monstruoso, suas deformações, seus esgares nada traziam de bom para a linha genética de Minos.

Pasífae, a mulher, dormira com seus soldados, com seus oráculos, com seus deuses, com a ilha toda de Creta, e de repente, deita-se com Zeus em pessoa e dá à luz um filho doente? Que diferença tinha esta figura da beleza de Ariadne, a traidora. De que valia Ariadne, com sua juventude, se teceu o fio dourado que levou a livrar os tebanos do tributo que alimentavam o idiota Minotauro?


Perdeu-se o filho desprezível, perdeu-se a prezada filha. Nas terras e nas ilhas do Helesponto era proibido conceber filhos impuros, alquebrados, fracos, destruídos... e o fim deles era a morte. O esquecimento. Olvidar a doença. Filho de Rei não pode ser doente. Filho de Rei tem que mostrar vigor e comando. Se não for lançado pelo abismo, como mandam os argivos, o monstro será oculto de todos. Mesmo que humano, ou filho semidivino, aprenderá os modos do animal.

- Dédalo! – ecoou a voz de Minos, alquebrado pela tristeza, - sobre você pesa a ordem de construir uma prisão. Lá colocarei esse... Touro. Longe do olhar do inimigo. Longe do olhar de Zeus. Longe do riso de todos. Meu tributo a ele será a terna juventude do povo tebano. (Nesse momento Minos tocou um gongo para determinar que os escribas anotassem sua palavras). Tributo: - 14 jovens tebanos, todo ano, para alimentar a sanha do animal. Todo ano a fúria do prisioneiro será aplacada com essa leva de sangue fresco e carne tenra. O resto do ano fica por conta dos incautos e dos animais que deixaremos à porta: cabras, bodes... Fica por conta de suas caçadas. (pensou) Se pudesse matá-lo sem enfurecer Zeus Cronida assim o faria.

- Dédalo!, - a voz de Minos, entre queixosa e ordenança, marchetava o ouvido do arquiteto, - quero muros intransponíveis. Quero corredores imensos e falsos. Quero que a estrebaria vizinha alimente o local de animais novos para que o Touro se alimente deles.

Na verdade Minos o queria morto. Queria morta a Ariadne. Queria ver Teseu morrer. Queria matar Pasífae que engendrou a abominação. Mas não tinha nem forças nem coragem para nada disso.

- Dédalo!, - a ordem final, arrogante e pesada, - ninguém deve saber como entrar ou sair. Arquitete caminhos secretos. Engendre paredes nuas e lisas. Alimente alturas de pedras.

Dédalo não sabia mas seria  primeira vítima da própria obra.

Queima de Arquivo.

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