ARIADNE EM NAXOS

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Dríades, hamadríades, ninfas e sátiros imbecilizados. Quando pisaram na areia escaldante – dos pés soltavam-se golfas escaldantes de certo material grudento somente reconhecido pelos geólogos - quando pisaram na ilha de Naxos, nas areias escaldadas por Helio, este brindou-os com dardejantes raios. Deuses – daqueles menores - erráticos, dançavam em torno deles em fumegante dança amorosa. Apolo flechou-lhes no flanco com certeiras investidas ardentes e as ancas empinaram em solícita cópula ou promessa dela. Mas, uma vez flechados na bunda fugiram espavoridos.

- Se pensou que Creta está perdoada, errou! – o jovem gritou. – Não só a ilha como todos os seus filhos e filhas serão malditos. Isso Inclui você.

Mas, labirintos não têm saída. Falta o segredo. Onde as encruzilhadas? Onde o fio condutor?

Com Ariadne estava a chave para desvendar os segredos.

Em nenhum momento importou se ela o ajudara a sair do labirinto ou não. O fio. O Príncipe vestido de túnica negra arrojou Ariadne ao chão de areia tépida. Ela chorava. Apesar de seus ferimentos o jovem carregava um cenho de peso e dor. Teseu devia partir. A testa ardia-lhe em febre, mas podia ser Helio incansável.

Ariadne ouviu os passou que se afastavam. Ouviu os barcos de cascos negros e os remadores batendo os remos na superfície das águas. Marinheiros gritavam ordens de partida e atos de velejar. O céu ecoava vozes e o roial dos azuis parecia chumbo pesado na tarde de Naxos. Ariadne ouviu a tocata olímpica das trompas ao longe. Musculosos marujos erguiam as trompas na direção do poente. Cada acorde era um degrau que Teseu escalava. O rapaz subira cada degrau de madeira como se fora um deus ardente. Lentamente os navios ganhavam as ondas e zarpavam.

Houve pausa seguida de mais passos.

Em seguida mãos pujantes a agarraram. Ariadne perdeu a noção dos tempos e do espaço. Um bafio de vinho e suor dançou no ar. Zéfiros carregavam aromas almiscarados enquanto Ariadne se via despida em rápidos movimentos. As roupas dançaram no chão. A areia fendeu brilhos de ouro e sílica. As mãos tomaram seus seios e ela sentiu derreter-se por dentro. Escorria de si um liquor pegajoso e enquanto, sob o suor, ela percebia que os navios negros se afastavam rápidos da costa, sentiu que estava possuída por uma moleza desenfreada. Deixou-se abrir. Fendida em carne deixou-se levar. O ser que tomava de seu ventre com fúria e determinação, empinou um pouco o corpo e enterrou o pênis em Ariadne. Ela apoiou seu corpo, com as mãos, no chão, e ficou segura pelas pernas enquanto Dionísio refestelava-se em gozos brutais, urrando, o que muito agradou Ariadne lá em seu íntimo. No meio das revoluções de corpo sentiu que ele, atarracado às coxas, passava seus dedos grossos pelas beiradas de seu ânus complacente. Ariadne urrou. Era o que ela desejava, na verdade.

Ariadne passou a frequentar as bacanais. Tornava-se um delas e mantinha empenho voraz no aprendizado das músicas. Entregou-se aos faunos peludos. Rolou nas areias da orla beijando a boca de cada sátiro bêbedo. Bêbeda ela também, sorveu de líquidos esverdeados que a punham em delírio. Tropeçou, insana, pelas pedras. Gorgolejava um sem número de nomes e descrevia cidades que somente ela via.

Estava louca.

"Deixaste-me morrer / filho do mar azul / Deixaste-me traída / filho da Tebas antiga / Caiu minha casa / o palácio naufragou em tristezas / minha salvação jaz em gozo de prata / nos abraços monumentais de Dionísio / de suas Bacantes.

Ariadne - a filha de Minos. Amou Teseu. Fodeu com Dionísios. Ariadne queria ir a Atenas. Casar-se com Teseu. A espada e o novelo de linha de ouro; achar o caminho de volta. Ela se perdeu em seu caminho de paixão. Ela se perdeu, enquanto segurava uma das pontas.

Enquanto isso, Ariadne, líder das coruscantes mênades, bacantes, dançarinas vitoriosas, alucinadas mulheres seguidoras de Dionísio, permanecia insana e selvagem. Muito diferente da doce filha de Minos. Ela passou a tratar dos rituais femininos da Vila dos Mistérios. Esta vila era um lugar destinado à iniciação de mulheres. Durante a colheita de uvas Ariadne se manifestava à entrada das cavernas do submundo, mostrando a sátiros meio-humanos e meio-animais, e a Sileno, velho gordo e bêbado, toda sua exuberância de mulher copiosa de desejos, mas dotada de imenso conhecimento do passado e do futuro.

Como se davam as danças nas longas noites de orgia? As mulheres se iam desfazendo das vestes, como se despissem de antigos papéis e atitudes. Era coisa de receber a nova imagem de si mesmas. Depois, tendo recebido o coito de Dionísio, elas ganhavam cestas contendo o falo ritual. Ariadne se tornava, então, capaz de olhar o poder fertilizador do deus, uma força regenerativa primordial.

Na noite extremada, entre luas e brisas febris, uma deusa alada, armada de chicote comprido, fustigava os ares, erguia-se sobre a iniciada, que se submetia com humildade. A iniciante, ajoelhada, pousava a cabeça sobre o colo da mulher mais velha que não a protegia mas lhe dava apoio.

Um dia, em delírio perdida, escondidas as mulheres, trazia o mar as últimas ondas do dia, Ariadne pareceu notar que uma cabeça de homem rolava sobre as ondas, indo e retornando, ao som angustiado da lira. Ela se lembrou de Orfeu, e pensou em fugir para Lesbos.

Talvez ali se livrasse de tanto prazer.

MITOLOGIA PELO MÉTODO CONFUSOOnde histórias criam vida. Descubra agora