TESEU EM NEGRO

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A nave negra rasgava o mar.

Estandartes negros indicavam a morte do príncipe.

Egeu num ímpeto se joga nas águas, triste, o filho estava morto. Morria ele também. Ficava acéfala a terra dos heróis. O herdeiro morrera. Creta o absorvera. Assim diziam as velas negras do navio negro. A nave negra de bandeira negra rasgava os véus dos ventos.

Ariadne estava só. O Minotauro estava morto. Creta sem tributos. Voltavam as naus. Tudo fora um erro. Um golpe das Erínias. Mais um golpe das tecedoras das teias da vida.

O príncipe estava combalido em sua cabine de odorífera madeira. Doente. A vitória obtida sobre o monstro nascido dos amores de Zeus Cronida e Pasífae, mulher de Minos, o pusera doente. Quem era aquele? Abominação das abominações.

A luta renhida no escuro labirinto. O cheio de morte infestando as paredes. Mofo, larvas e carne pútrida. O sangue coagulado cobria o chão. O Touro de Minos se alimentava dos filhos de Tebas ainda vivos. O tributo. Sete jovens homens e sete jovens mulheres, todo ano, eram levados para Creta.

A nave negra se arrastava lenta, às vezes. O olhar de Teseu se perdia no céu, lembrando de certa Ariadne. O peso da traição caía sobre seus braços.

Teseu dormitava cansado e febril. O pai se lançava nas águas sem nenhuma noção da verdade. Todos sob o sol da Hélade.

- Se a bandeira negra estiver no mastro principal é porque morri.

Quando partiu de Naxos sentiu que perdera tudo. Em Tebas encontrou o trono vazio.

Então, era Rei.

*

Com três terríveis penetrações Teseu matou o Minotauro em meio à penumbra do labirinto mantido por Minos, na ilha de Creta. O filho de Egeu e Etra, que era filha do sábio Piteu, da Argólida, num rompante desesperado, durante a fuga, ainda foi presa de aranhas venosas, larvas e insetos nauseabundos. Uma golfada de sangue do Minotauro caiu sobre seu rosto. O líquido grosso e denso tingiu-o do vermelho/morte. Teseu chegou até o portal do labirinto, arfando, mãos recostadas nas pedras cortantes das paredes, seguindo o fio de ouro que Ariadne lhe havia dado. Mas a cabeça de Teseu estava empapada de suor e ele já fervia na febre. Febre e tontura. Um tanto envenenado, em meio a delírios lembrou-se do pai, da espada escondida, dos seus 16 anos e da decisão de livrar seu povo do pesado tributo devido a Creta, imposto por Creta: sete moças e sete rapazes que serviam de alimento do monstro, todos os anos. Era sua promessa. Cumprira.

Em seus devaneios febris, tomando do fio pela mão, correndo pelos corredores, sujando sua pele de terra podre, Teseu ainda pode ver a luz no fim do túnel. Caiu.

Ariadne o ajudou, com tremendo esforço, a encontrar o barco negro. Sim. Ele matara o deformado filho de Minos. Sim, ele salvou os companheiros. Sim, ele se vingou da jovem deixando-a na ilha de Naxos, mas, se serve de desculpa, ele delirava e falava sozinho ou pensava falar com Dioniso. Dioniso dizia que cuidaria bem dela. Teseu tencionava voltar? Toda a confiança depositada na fala mansa de Dionisio de uvas e vinhos.

As naves, em vez de se dirigirem para o continente navegam na direção de Naxos. Jogada na areia, a jovem filha de Minos vê Teseu partir. Cambaleante. Mas ele estava doente.

Durante a travessia, o séquito do príncipe levantou velas negras. O sinal de luto pois o herdeiro parecia não conseguir atravessar o mar ainda em vida.

Desesperado, vendo de longe que as velas tremulavam agourentas sobre o azul do intenso mar, Egeu se jogou nas águas. Esperava a vitória do filho e seu retorno. Jogou-se nas águas turbulentas de tantos azuis e profundidades. O pai orgulhoso não aguentou saber da morte do herói. Lançou-se nos braços de Posidônio.

Teseu assumiu o governo: uniu os povos da Ática, capital em Atenas, adotou o uso de moedas, criou o Senado, promulou leis e instaurou a democracia. Teseu arquitetou grandiosidades para sua terra.

Mas não é só disso que viverá Teseu.

Cumpridas as tarefas, o príncipe retoma a vida de aventuras. Ele é um homem comum que deseja a glória mas não deseja se sentar sobre ela. Sai para lutar contra as amazonas, e acaba por se unir à rainha delas, Antíope. Pura aventura de sexo e poder.

Ao lado do amigo Pirítoo, rapta Helena de Esparta, influencia na luta com os argivos em Ìlion. Não contente com isso desce, depois, aos infernos protuberantes de terra e rocha, para tentar raptar também Perséfone, esposa de Plutão, mas o deus da terra dos Mortos o manteve preso em suas cadeiras durante um banquete. Pura aventura de medo e horror.

Novamente preso, largado na terra além do Estige, rememora as canções do barqueiro Caronte, o feio e, é premido por lembranças dispersas das ideias platônicas, sorvendo os sofrimentos de Orfeu e Eurídice. Anos depois, Teseu é salvo por Heracles. Heracles que salva a todos mas se perde em fúria.

O retorno do herói é triste. Teseu encontra sua terra dilacerada por lutas internas. Os cidadãos o julgavam morto e prevaleceu a decadência. Ele, por fim, desiste do poder, manda os filhos para a Eubéia e, amaldiçoa a cidade.

Parte para o exílio na ilha de Ciros.

Lá é morto por seu primo Licomedes, o torto.

MITOLOGIA PELO MÉTODO CONFUSOOnde histórias criam vida. Descubra agora