ÁRTEMIS DIANA BRUXA

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De quantas Dianas podemos falar?

Depois, tendo passado por quiméricos ventos noroeste, associou-se à luz da lua e à magia. Tomou nome de Lilith ou Hécate, um dos dois, e andou pelos desertos vermelhos, misturando o sangue menstrual com a areia escaldante.

Escondia-se m cavernas de pura acidez. Lutou com magos e profetas, arreganhou as pernas para um sem número de monstros podres e saiu ilesa na contenda com Semanguelof. Filha de Zeus e Leto, que brincavam com ela pequena entre aquários e fossas de leite; irmã gêmea de Apolo, muita vez fingia ser Apolo atrapalhando guerras a sorver o calor do sangue jorrado sem peias nas terras de barro e cal. Diana Caçadora. Diana Bruxa Ártemis. Diana.

Ainda assim, Leto, sua mãe foi perseguida por Hera, mas, cá entre nós, quem é que Hera não perseguia? Seria mais fácil cortar o bastão de Zeus enquanto este dormisse, mas preferia importunar suas amantes; Hera, a deusa rainha protetora do casamento e do parto, se com mais cuidado visse o parto de outra forma protegeria os filhos e filhas do parto, de qual parto fosse, não quis receber Leto quando esta estava prestes a dar à luz, pois Hera odiava e perseguia as amantes de Zeus, como já foi dito, e, principalmente os filhos de tais relacionamentos. Hera protegia partos que não fossem oriundos de Zeus. Todos menos estes e não causa espanto que Hera andasse emburrada para cima e para baixo tropeçando nas pedras marmóreas do Templo.

Leto esperava gêmeos e era uma quarta-feira, se não me engano. É o que posso dizer. Ventava... bem, isso também posso dizer. Ventava e o frio cortante subia as encostas como que para empurrar a paz para longe. Leto chegou à ilha de Delos e deu à luz no Monte Cinto.

O Monte Cinto se revelou áspero e recoberto de muita camada e terra ocre. Duas pessoas comuns – gentes do povo de Cinto – desciam as costas do monte de cume arredondado, como se deslizassem. Estavam alegres, os braços erguidos, gritavam para os ventos como alucinados. Se não me engano uma dessas pessoas, a mais baixa, era uma tal de Lady Mariana, loira de cabelos frizitas cuja cor de melenas combinava com o ocre das paragens. A segunda pessoa era um careca sem nome que se arrastava tentando lamber as canelas de Lady Mariana. Devo dizer que não conseguia. Leto esperou que passassem pois não dera espaço para ela, com toda a cortesia que uma grávida pode ter em tais circunstâncias. Leto subiu. Estava tensa. Sua roupa nacarada (olha o nácar ai novamente) flutuava ao zéfiro. De onde estava podia ver o cinzento do recorte das pedras do Cinto, como se fosse um nariz rasgado contra o céu em granito. Lá deu à luz a DianÁrtemis e Apolo.

Algum viajante engraçadinho havia pintado em vermelho com uma flecha o nome do monte como se fosse necessário.

Hera observava de longe amparada por lacaios furtivos. Furiosa. Pronta para vinganças.

Ela mesma, Ártemis, deusa criativa, revelou dotes de deusa dos nascimentos, também - auxiliara no parto do irmão gêmeo, Apolo. Recebera prêmios. Zeus presenteou-a com arco e flechas de prata; presenteou-a com uma lira do mesmo material. O irmão Apolo ganhou os mesmos presentes, de ouro, obra do exímio Hefaísto, sempre pronto a forjar metais preciosos, o deus do fogo e das forjas. Apolo recebeu uma corte de Ninfas para banquetear-se sempre que desejasse, afinal, as ninfas são muito úmidas e favorecem o coito. Favoreceu Ártemis com o poder de ser rainha dos bosques. Ártemis dos Bosques. Ártemis Bruxa e Caçadora. Ou Diana.

Independente de Hera e das lambidas dos animais – mero consolo - a jovem era a mais pura e casta das deusas, sempre amada pelas Ninfas; com elas dançava nas florestas sob a luz prateada da lua. Selene. Ártemis era para as mulheres o que Apolo era para os homens.

Tempos depois, já muito jovem e, apesar disso, apesar de caçadora, apesar do voto de castidade, apaixonou-se pelo jovem Órion, seu primo, filho de Poseidon. Um gigante que corria pelas estradas com seu cão Sirius. Orion também caçava. Caçou-a. Mas Apolo não queria saber daquele primo aquático. Apolo estava enciumado. Jovem e, enciumado, um dia decidiu impedir sua irmã de se juntar a ele em sexo e delícias.

A coisa se desenvolveu assim. Estavam os dois – Ártemis e Apolo - numa praia quando Apolo percebeu Órion mergulhado na água e percebeu que estava com a cabeça de fora. Tomando um sol, talvez. Assim de longe somente o olhar arguto do dourado deus pode discernir as forma do primo. Apontou naquela direção, sem nada dizer para sua gêmea, a não ser as sentenças do desafio. Apolo mostrou-lhe o objeto imenso, escuro e desafiou-a a acertá-lo com suas famosas flechas.

Ela, sem mais pensar e armando um sorriso argentino, retesou o arco e acertou a cabeça de Órion com sua flecha, sem o saber. De prima. O objeto balançou sobre as ondas e afundou num barulho metálico. Imediatamente uma onda vertiginosa alcançou os pés dos irmãos. Ártemis estranhou a violência das ondas, mas, Apolo nem se moveu. Só observava. Então as ondas trouxeram o corpo de Órion até a praia com uma flecha enterrada; Ártemis desabou em choro e dores. E, ela, não querendo que o amado desaparecesse para sempre, colocou-o entre as estrelas do céu, onde aparece como gigante que é, ornado de cinto e espada, pele de leão, uma clava, acompanhado cão. Uma triste história.

Ártemis, desse momento em diante perdeu muito da paciência e da cordialidade com a humanidade, nem se sabe por que. O certo seria enfiar uma flecha na goela de Apolo. É minha opinião. Mas, em todo caso, ela tornou-se severa com os mortais que ousavam desafiá-la. E, não há mortal que não desafie os deuses. Trata-se, no fundo, de uma certeza de que os deuses não existem.

Uma antiga história, contada a mim pelo velho Tirésias, cego de boa audição, dizia que, certa vez, como de costume, Ártemis banhava-se nas águas das fontes cristalinas; foi surpreendida pelo caçador Ácteon que ali se dirigiu, com um bando de cães atrozes na caça, para saciar a sede. Ácteon era conhecido, havia sido treinado pelo centauro Quíron, portanto era pessoa de fama e abrigo de soberba. Há quem diga que Ácteon parou para olhar a nudez de Ártemis, - se bem que não precisava parar para isso, - e lançou uns sorrisinhos estranhos na direção da deusa.

Ártemis, ao vê-lo assim ousado, saiu das águas, o líquido escorria pela pele, um apelo erótico para desviar a atenção; aproximou-se do caçador. Em um movimento brusco, mas, elegante Ártemis o transformou em um veado e tornou-o vítima da própria matilha que o estraçalhou. Assim simplesmente.

Outra história que o pândego do Tirésias conta era o que ela fez com Agamêmnon. Mas esse merecia mesmo. Sujeito chato. O Rei Agamêmnon, muitas vezes de má memória, matou um cervo no bosque consagrado. Sempre cervos e veados. Até ai tudo bem já que Agamêmnon era doidivanas e sempre que podia comia um veado. Ártemis exigiu do grego – no meio da viagem para Troia - o sacrifício da filha, Ifigênia. Os ventos voltaram a soprar. A viagem seguiu. Mas, Ártemis, diferente de Hera, a rude, teve pena de Ifigênia, a jovem, e levou-a para seu templo/santuário onde a moça se tornou sacerdotisa.

Diana é Ártemis, com certeza, mas, podem chamá-la de Cíntia. Tirésias garante.

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