Eu parei de chorar. Mas esquecer... Esquecer é outra coisa. Eu me lembro de tudo. E talvez essa seja a parte que mais me dói.
| 07/02/2016
Eu estava conversando com minha prima pelo celular quando vi você pela primeira vez. Seus passos eram determinados ao andar pelo campus. Reparei que eu não era a única a observar você, Bernardo. Todo mundo do campus te encarava. Algumas garotas piscaram em sua direção, e você fingiu não vê-las. Eu estava sentada debaixo de uma árvore, terminando um cálculo de física.
Eu continuei te seguindo com o olhar. E vi quando se escorou numa pilastra, e acendeu um cigarro. Seus olhos passaram por todos os universitários. Seus olhos passaram por mim, Bernardo, mas você pareceu não ter me notado, na verdade.
Era assim que eu seguia aqui, sem ser notada. E eu gostava disso. Eu suspirei.
— Você escutou o que eu falei? — Laura indagou.
— Não. — Sorri, culpada.
— Eu disse que irei para uma festa com Mateus — respondeu ela, apostaria que ela estava com um sorriso.
— E?
— E que eu queria que você fosse conosco. — Convidou.
Eu suspirei, novamente, cansada dessa vez.
— Não estou querendo ser vela numa esplendorosa quinta-feira — brinquei, sorrindo.
Levantei o meu olhar para ver o que estava acontecendo, enquanto Laura tentava me convencer a ir. E eu me surpreendi com o seu olhar em mim, Bernardo. Era insistente. O seu rosto estava contorcido, como se você não entendesse o que estivesse acontecendo.
Mas eu também não entendia o que estava acontecendo, Bernardo. E por isso, eu te encarei também.
Ficamos por algum tempo desse jeito, você desviou o olhar quando uma garota loira se aproximou.
— Não dá para conversar com você. — Laura resmungou, ainda no meu ouvido, eu sorri.
— Desculpe — pedi, levantando-me e indo para a sala.
No fim daquela aula, você estava em pé, na frente da minha sala, como se estivesse esperando alguém. Tinha um curativo no supercílio, óculos pendurados na cabeça e terminava de tragar um cigarro.
Você sempre foi bonito, Bernardo. Sempre. Do seu sorriso fácil até o seu gingado. Eu sabia, que acreditar em qualquer palavra que saísse da sua boca, era cilada.
Eu ouvia tudo o que falavam de você. Das suas brigas, das suas discussões e das suas conquistas. Não seria mais uma porque, você era problema. Eu sempre fui boa em matemática, mas você era problema demais para eu lidar.
Vi os seus pés andando na minha direção. E fiz uma carranca ao ver que me analisava. Tinha passado muito tempo desde que estava aqui, e ninguém tinha se interessado em se aproximar. E eu gostava assim. Sem assuntos que poderiam me distrair dos meus estudos. E por este mesmo motivo, eu me virei, e fui para a minha última aula da tarde.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O que Restou de Nós
RomanceHá uma música do Ed Sheeran que diz: "amar pode doer, às vezes". Talvez ele tenha composto essa música pensando em nós. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | Copyright© 2018. PLÁGIO É CRIME. +18