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Eu me olho no espelho tentando achar vestígios de quem eu fui.
|19/01/2017
Você está morto, Bernardo. E nunca mais voltaria para mim. Eu confessei isso.
E eu nunca tinha chorado como chorei naquele momento.
Percebi que você estava morto quando Laura me deu um tapa na cara. Literalmente.
— Acorda, Ayla! — gritou ela. — Ele não irá voltar!
Eu não lembro ao certo sobre o que estávamos falando quando o assunto da conversa voltou a sua morte. Não lembro o que disse, mas lembro o desespero da Laura quando ela segurou os meus ombros e os chacoalhou.
— Você age como se ele estivesse em outro lugar, mas encare a situação: ele está morto. Há um mês! E o que você tem feito?
Eu não respondi.
— Eu respondo, você não tem feito nada! Nada além de beber e se afundar. Sabe o que a sua mãe me pergunta toda noite? Se você voltou para casa. Essa era a mesma preocupação que o pai de Bernardo tinha, Ayla!
Nessa hora, eu entendi.
Eu estava me afundando da mesma forma que você tinha se afundado, Bernardo. E eu não queria o fim que você teve. Eu não tinha medo da morte, como muitas pessoas têm. Eu só queria viver mais antes de encontrar o fim inevitável da vida.
Eu queria desbravar o mundo.
Entender mais teorias.
Poder sorrir novamente sem ter o coração em tristeza.
E quando eu soluçava, ela me embalou como ninava Berenice. Com todo amor, calma e paciência do mundo.
Eu a abracei. E deixei que tudo que estava segurando se libertasse. Que toda a culpa, toda raiva e prepotência saíssem de mim. E que todo o amor ainda guardado por você, Bernardo, ficasse apenas como uma lembrança boa, e não como o meu inferno.
— Eu não posso mensurar a dor que você sente, Ayla, mas saiba que você não foi a única a perdê-lo...
— Eu o perdi de duas formas diferentes — resmunguei.
— E eu sinto muito por isso... Sinto muito por ele ter fodido com o relacionamento de vocês. Sinto muito que você teve que passar por tudo isso. E sinto muito por não conseguir ajudar você de outra forma.
Eu coloquei minha mão sobre a bochecha dela, que também estava molhada em lágrimas.
— Você me ajuda estando aqui, comigo — murmurei. —, eu sinto muito por não ter conseguido processar tudo o que sinto, e ter usado a bebida como válvula de escape...
— Cada um usa o jeito que acha mais cômodo para tentar continuar... Você sempre usou os punhos e as bebidas para entender tudo que afligia você. E eu respeito isso. Você tem todo o direito de processar como quiser, mas eu tenho medo de em uma das suas noites de bebedeiras, você não voltar.
Eu sorri, mesmo em meio às lágrimas.
— Eu entendo, me desculpe — pedi, limpando minhas lágrimas.
E naquele momento, Bernardo, eu decidi enfrentar o luto. Eu o estava levando com a barriga, fingindo que nada tinha mudado desde a sua morte.
E aqui era o ponto que eu tentava fugir: você estava morto, e eu continuaria levando minha vida. Sem você nela.
Eu te amava, Bernardo. Mas isso não foi o bastante para você preservar o nosso relacionamento e nem para você viver. E eu me amava o suficiente para perceber que o nós havia acabado há algum tempo.
Esse era o nosso fim.
. . .
"Eu amo te amar. Mas o nosso amor tem que morrer."