53| o problema em aceitar

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Eu me olho no espelho tentando achar vestígios de quem eu fui.

|19/01/2017

Você está morto, Bernardo. E nunca mais voltaria para mim. Eu confessei isso.

E eu nunca tinha chorado como chorei naquele momento.

Percebi que você estava morto quando Laura me deu um tapa na cara. Literalmente.

— Acorda, Ayla! — gritou ela. — Ele não irá voltar!

Eu não lembro ao certo sobre o que estávamos falando quando o assunto da conversa voltou a sua morte. Não lembro o que disse, mas lembro o desespero da Laura quando ela segurou os meus ombros e os chacoalhou.

— Você age como se ele estivesse em outro lugar, mas encare a situação: ele está morto. Há um mês! E o que você tem feito?

Eu não respondi.

— Eu respondo, você não tem feito nada! Nada além de beber e se afundar. Sabe o que a sua mãe me pergunta toda noite? Se você voltou para casa. Essa era a mesma preocupação que o pai de Bernardo tinha, Ayla!

Nessa hora, eu entendi.

Eu estava me afundando da mesma forma que você tinha se afundado, Bernardo. E eu não queria o fim que você teve. Eu não tinha medo da morte, como muitas pessoas têm. Eu só queria viver mais antes de encontrar o fim inevitável da vida.

Eu queria desbravar o mundo.

Entender mais teorias.

Poder sorrir novamente sem ter o coração em tristeza.

E quando eu soluçava, ela me embalou como ninava Berenice. Com todo amor, calma e paciência do mundo.

Eu a abracei. E deixei que tudo que estava segurando se libertasse. Que toda a culpa, toda raiva e prepotência saíssem de mim. E que todo o amor ainda guardado por você, Bernardo, ficasse apenas como uma lembrança boa, e não como o meu inferno.

— Eu não posso mensurar a dor que você sente, Ayla, mas saiba que você não foi a única a perdê-lo...

— Eu o perdi de duas formas diferentes — resmunguei.

— E eu sinto muito por isso... Sinto muito por ele ter fodido com o relacionamento de vocês. Sinto muito que você teve que passar por tudo isso. E sinto muito por não conseguir ajudar você de outra forma.

Eu coloquei minha mão sobre a bochecha dela, que também estava molhada em lágrimas.

— Você me ajuda estando aqui, comigo — murmurei. —, eu sinto muito por não ter conseguido processar tudo o que sinto, e ter usado a bebida como válvula de escape...

— Cada um usa o jeito que acha mais cômodo para tentar continuar... Você sempre usou os punhos e as bebidas para entender tudo que afligia você. E eu respeito isso. Você tem todo o direito de processar como quiser, mas eu tenho medo de em uma das suas noites de bebedeiras, você não voltar.

Eu sorri, mesmo em meio às lágrimas.

— Eu entendo, me desculpe — pedi, limpando minhas lágrimas.

E naquele momento, Bernardo, eu decidi enfrentar o luto. Eu o estava levando com a barriga, fingindo que nada tinha mudado desde a sua morte.

E aqui era o ponto que eu tentava fugir: você estava morto, e eu continuaria levando minha vida. Sem você nela.

Eu te amava, Bernardo. Mas isso não foi o bastante para você preservar o nosso relacionamento e nem para você viver. E eu me amava o suficiente para perceber que o nós havia acabado há algum tempo.

Esse era o nosso fim.












. . .


"Eu amo te amar.
Mas o nosso amor tem que morrer."

Mc Choice, nicolle

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