28| o problema da verdade

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Você era um misto de emoções. E me fez gostar da indecisão.

| 09/08/2016

Eu tinha mandado você de volta para Goiânia no dia seguinte da alta da minha mãe, Bernardo. Tudo bem, você não aceitou muito bem quando eu imobilizei você e coloquei no carro.

Você me olhava feio, e no canto da sua boca tinha um sorriso.

— Toma cuidado! — pedi, encostada na porta do carro.

— Sempre tomo, docinho... Sempre tomo! — retrucou.

— Bernardo, muito obrigada — agradeci. —, sério, muito obrigada, mesmo.

O seu olhar era duro em mim, você me olhou por alguns instantes antes de sorrir mais. Você não respondeu. Apenas sorriu, beijou a minha bochecha e um cantinho dos meus lábios, e saiu da porta da minha casa.

Duas semanas depois da alta da minha mãe, ela me mandava embora de casa também. Ela já estava recuperada, e eu só estava ali ainda, porque não queria tirar os olhos dela.

Laura me ligava todo dia dizendo que estava com saudades, até Mateus disse que o meu mau humor e agressividade faziam falta. Você me mandava algumas mensagens, Bernardo, que eu nunca respondia. E então, num sábado à noite, eu escutei o motor de uma moto estacionar na porta de casa.

Abri minha porta para encarar você. Minha mãe estava atrás de mim, e eu apostava que ela estava sorrindo.

Você marchou na minha direção, Bernardo. Seu olhar era duro. E eu dei um passo para trás, não de medo, mas porque eu não estava entendendo a sua aproximação.

— Não consigo tirar você do meu pensamento — confessou. —, durmo pensando em você, ou em seu sorriso. Acordo e tento aliviar isso em qualquer merda, mas eu não consigo tirar você da minha mente. Parece que você fez um feitiço em mim.

Eu não respondi. Sentia a respiração pesada da minha mãe atrás de mim.

— Nesses dois meses eu me mantive afastado, ou tentei. Mas você, Ayla, caralho, não sai daqui. — E você bateu em seu peito.

Os seus olhos pareciam estar em chamas.

— Eu gosto de você, Ayla — admitiu. —, eu gosto muito de você, porra!

Eu não conseguia responder. Você sorriu. E eu não conseguia processar tudo...

— Eu estou dizendo a verdade, Ayla. Desde o dia em que coloquei os meus olhos em você, naquela sala de orientação comportamental, e você bufava e reclamava do que a psicóloga dizia. Eu me encantei com você.

Você me encarou, antes de virar e sair andando para a moto. Eu não entendi o que você estava fazendo, mas sai correndo atrás de você, e cutuquei o seu ombro. Você olhou para trás e me encarou.

— Aonde você vai? — indaguei. — Você vem aqui, diz que gosta de mim e saí correndo?!

— Eu não estou saindo correndo!

— Então para onde você ia?

— Ia me afastar de você para não beijar você, caralho! — vociferou.

— E por quê?

— Porque eu não sei o que você sente por mim — resmungou.

— Me beija — ordenei. —, me beija, agora!

E você me beijou, Bernardo. Bem ali, com alguns vizinhos da minha mãe de testemunhas, e minha mãe que estava batendo palmas, você me beijou. Suas mãos estavam no meu pescoço e no meu rosto, as minhas puxavam os seus ombros para mais perto.

Quando o nosso beijo se rompeu, eu abracei você e sussurrei:

— Eu também gosto de você.

E escutei o seu riso contente encher a noite, enquanto você passava o braço nos meus ombros, e íamos para dentro da casa da minha mãe, que tinha lágrimas nos olhos.

— E então, vocês estão namorando? — Minha mãe perguntou, assim que sentamos no sofá da sala.

Você me encarou e sorriu. Eu dei de ombros.

— Se a sua filha aceitar, sim — disse, beijando a minha cabeça.

Minha mãe cozinhou um jantar simples para nós, e depois de comermos, ela sorriu e não se opôs quando eu puxei você para o meu quarto.

— E então, estamos namorando? — Você indagou, sentando na minha cama.

— Você sabe, namorar significa fidelidade, e eu não aceito traição — argumentei.

— Eu não sou do tipo que trai — retrucou.

Conversamos por muito tempo, Bernardo. Até que deitamos na cama, e ficamos em silêncio, escutei a sua respiração, e você dormiu agarrado em mim. Aquela foi à primeira noite de muitas que confessamos o que sentíamos um pelo outro. E que também, você mentiu.

De todas às lembranças, essa é a que mais dói.



. . .

AaaAAAAAaaaaa 








  "E quando o amor veio a nós pela segunda vez,
E mentiu para nós pela segunda vez
Decidimos nunca mais amar novamente
Isso era justo
Justo com a gente e justo com o amor mesmo."

Charles Bukowskiao acender um charuto 

O que Restou de NósOnde histórias criam vida. Descubra agora