46| o problema em partir

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Nada parecia real, naquele momento

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Nada parecia real, naquele momento. Nem o meu coração batendo...

Era verdade. Você estava morto. Bem ali, na minha frente. A faculdade liberou para que o seu velório fosse no estádio. Tinha tanta gente, Bernardo. Tantas pessoas. E cada uma ali dava para mim, Mateus e seu pai suas condolências.

Pelo final da tarde, anunciaram que fechariam o seu caixão. O seu pai andou até estar ao seu lado. Ele murmurou alguma coisa antes de beijar a sua testa. Mateus foi o próximo e ele disse alguma coisa para você antes de beijar a sua bochecha.

Eu que estava sentada do lado do caixão, me levantei. Eu sentia todo o meu corpo tremer. Eu olhei para você uma última vez, Bernardo. E lá estava você. Parado, sem se mexer, com olhos fechados, cortes no rosto, e mãos dobradas ao peito.

Você usava a sua camisa 10 do Ajax. E a sua jaqueta, o seu pai entregou para mim. No bolso dela tinha um cigarro e a sua aliança de noivado. Eu beijei a aliança e coloquei acima do seu ombro do lado esquerdo. O cigarro eu coloquei do lado direito.

— Eu sinto muito, Bê — murmurei, quando lágrimas caíam dos meus olhos e ficavam nas suas bochechas.

Eu às limpei. E deixei ali um beijo casto na sua testa.

— Eu realmente sinto muito por não ter conseguido perdoar você... Me desculpa, Bernardo, me desculpa...

Laura e minha mãe seguraram meus braços. E quando o seu caixão descia para a cova, eu deixei que o meu coração fosse sepultado também. Eu amava você, Bernardo. Mas isso não foi o suficiente para nada. Nem para ficarmos juntos, ou para você viver.

Às vezes, amar não é o bastante.

Beijei uma rosa e a joguei sob o seu caixão, Bernardo, joguei sob a madeira o meu coração que sempre iria ser seu.

E quando Mateus e seu pai me ajudavam a andar e a entrar no carro, eu deixei que às lágrimas que eu segurava por toda a madrugada caírem.

Uma vez você me disse que não gostava de me ver chorar, Bernardo. E eu disse que não choraria mais. E assim como você fez, eu não segui o que havia prometido. Nesse dia, eu chorei por todo tempo. Chorei quando o seu pai me abraçou, ou quando via Mateus ser confortado por Laura.

Chorei quando meu tio limpou minhas lágrimas e prometeu que ficaria comigo. Chorei mais ainda quando minha mãe me prometeu que aquele tormento que eu estava passando, passaria.

Pois eu não queria aceitar aquilo, Bernardo. O meu tormento passaria quando eu aceitasse que você tinha partido. E eu não queria aceitar a sua partida. Porque quando eu aceitasse isso, eu estava aceitando a sua morte.

E eu nunca a aceitaria. Eu não suportava pensar que você estava ali, morto. Você tinha um futuro pela frente, Bernardo, comigo ao seu lado ou não. Você não merecia aquilo.

Você tinha me falado que jogaria futebol e que tentaria sua carreira profissional naquilo. Você até tinha sido aceito num time que estava em ascensão no campeonato brasileiro. E você queria mais. Queria mais oportunidades para você e Mateus. Queria o mundo.

O seu futuro iria ser avassalador, Bernardo. Porque onde você ia, você encantava, surpreendia e trazia sorrisos. Pois esse era você, Bê. Você tentava mesmo quando estava nervoso ou chateado trazer alegria para quem estava ao seu redor.

Eu tive uma dose dessa alegria por ter tido você brevemente na minha vida. Mas assim como o sol antecede a tempestade, a alegria antecede a dor.

E eu aceitaria essa dor enquanto ela latejasse no meu peito, porque enquanto eu a sentisse, você ainda estaria vivo em mim. 




. . .




"não está tudo bem agora porque estamos todos machucados de alguma forma. mas vai ficar tudo bem, porque somos jovens e fortes, e o tempo passa rápido e nenhuma dor dura pra sempre.

nenhuma."

autor desconhecido

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