50| o problema em não ter paz

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Acho que a pior parte de tudo é ainda não acreditar que aconteceu.

| 25/12/2016

Era Natal.

E eu queria sumir.

Eu sempre gostei da data, Bernardo. Minha mãe sempre gostou também. E assim, todo ano juntávamos a família em Goiás Velho, bebíamos, jogávamos e riamos.

Essa era a nossa tradição, e você faria parte dela. Se não tivesse me traído e morrido.

Eu não consegui ficar naquela casa aquele dia, Bernardo. Diferente da outra noite, Laura, Mateus e Berenice foram ficar com os pais de Mateus. E minha mãe e o tio Eugenio conversavam sobre gados. Minha mãe tinha um olhar inquisitivo em mim, e meu tio queria que eu conversasse com ele.

Ele acha que por ter perdido a mãe de Laura num acidente tínhamos algo em comum. Ele estava certo, a morte nos ligou de forma única. Mas eu não queria conversar. Eu não queria conversar sobre você. Sobre o que tinha acontecido.

E então, no fim da tarde, eu chamei um Uber, e fui parar no primeiro bar que achei. E por ironia do destino, a localização tinha parado em cima do bar de motoqueiro que você tinha me trazido uma vez. Aquele em que você quase apanhou.

— Boa tarde, garota — cumprimentou Romenic, atrás do balcão, limpando-o.

Eu não o respondi imediatamente. Eu o analisei. Queria agradecer pela noite em que ele me ajudou a voltar para casa. Mas tinha certa curiosidade sobre ele. Do mesmo jeito em que eu o olhava, ele olhava de volta para mim.

— Uma dose de whisky — pedi, sentando-me no bar.

— Não é muito cedo para a senhorita beber? — indagou.

Eu bufei.

— Se eu pedi uma bebida, é porque eu estou com vontade de tomar uma bebida — resmunguei.

Ele não se moveu de onde estava. Tinha parado de passar o pano sob o balcão. Vi seus braços estendidos sobre o balcão, eles tinham tatuagens também. Os olhos escuros dele estavam em mim, e eu não gostava.

— Você não escutou? — indaguei, franzindo o cenho. — Eu pedi uma bebida.

Ele deu um pequeno esboço de sorriso.

— Eu não tenho problema de audição — respondeu.

— E então, o que está esperando? — perguntei.

— Estou vendo — comentou, dando de ombros.

Eu olhei para trás de mim, onde alguns homens jogavam sinuca. E fora eles, havia apenas eu e ele ali.

— Vendo o que, barmen?

— O meu reflexo... — murmurou.

Eu encarei ele. Sem entender.

O que Restou de NósOnde histórias criam vida. Descubra agora