Ter você por perto era ter sempre a certeza que algo ruim aconteceria.
| 15/12/2016
Eu tinha conseguido concluir o meu TCC com a nota 9,5. Segundo a bancada avaliadora, minha Monografia de Especialização em Educação; Métodos e Técnicas de Ensino tinham impressionado eles.
E aqui estava eu. Indo pegar o meu diploma. Eu usava um vestido longo azul que Laura e minha mãe escolheram. O meu cabelo esta num penteado elaborado. Minha maquiagem era delicada.
Tinha mãos soadas enquanto esperava para ser chamada, e quando o apresentador chamou meu nome, eu sorri pela primeira vez em muito tempo.
— Com punhos fortes e um cérebro poderoso, eu chamo para receber o seu diploma, Ayla Nicácia Silva, a 1ª da turma de Matemática de 2016.
Segui em passos lentos, e quando peguei o canudo, que o professor Alberto me estendeu, eu o puxei para um abraço, e assim foi também com a professora Gorete.
— Parabéns, menina — murmurou ela, no meu ouvido.
Eu olhei para a platéia, e lá estava minha mãe, meu tio, Mateus, Laura e Berenice. Eu acenei para eles. E eles bateram palmas em pé para mim, minha mãe chorava. Eu segui para os primeiros bancos, com os outros formandos, e fiquei lá, até o fim da cerimônia de entrega.
— Há alguém que queira pronunciar algumas palavras para os formandos? — perguntou o apresentador, oferecendo o espaço.
Não achei que alguém da minha família se pronunciaria, mas eu escutei alguém gritar que sim. E logo, quem tava subindo os pequenos degraus do palco era você, Bernardo. Com sua característica jaqueta preta, calças jeans escuras e botas.
Você não olhou para ninguém dos outros formandos da primeira fila. Você apenas me olhou.
— Há algum tempo, eu reparei em uma mulher que andava sempre apressada pelo campus, e que não me dava muita abertura. Ela, com um sorriso encantador e um punho certeiro, tinha um objetivo traçado. E nada e nem ninguém a faria sair do caminho...
Sentia quando lágrimas se formavam e juntavam nos meus olhos.
— O objetivo ela conseguiu alcançar hoje. E a única coisa que posso dizer é: parabéns. Parabéns por ter vindo até onde você veio. Por ter passado pelo que você passou. E por estar realizando o seu maior sonho. E eu não posso colocar em palavras o quão orgulhoso estou por você, Ayla... Meu docinho, meu amor e minha professora...
Eu tinha mãos trêmulas.
— Eu me orgulho de você, Ayla. Meus parabéns, docinho. O mundo acaba de ganhar a melhor professora que poderia existir. E você, acaba de conseguir o mundo. Meus parabéns, novamente! Eu te amo!
E dito isso, você entregou o microfone para o apresentador, e saiu do palco. Enquanto você andava pela plateia, eu corri por uma porta lateral, até estar numa varanda.
O vento da noite batia no meu cabelo, enquanto eu tentava controlar o choro. Você ainda tinha esse efeito devastador em mim. E quando você entrou onde que eu estava, com olhos lacrimosos, e um sorriso triste, eu aceitei o seu abraço.
— Foi um bonito discurso — murmurei, em seu pescoço.
— Algo bonito para alguém bonita — retrucou.
Ficamos abraçados por muito tempo, ainda.
— Desculpe — pediu.
— Talvez um dia eu consiga perdoar você — sussurrei, mais lágrimas caíam dos meus olhos. — Mas isso não quer dizer que voltaríamos.
— Eu entendo, e eu sinto muito por ter estragado tudo, Ayla. Realmente sinto.
Você pegou o meu rosto com as mãos, e limpou com os dedos minha maquiagem borrada.
— Eu sempre pensei que você estaria tão linda quanto essa noite no nosso casamento — confidenciou.
Eu balancei a cabeça, concordando. Você sorriu, Bernardo.
— O mundo será pequeno para a sua inteligência, Ayla. E eu estarei vendo o seu sucesso onde for... E eu repito; estou muito orgulhoso de você. Você pode duvidar de muita coisa... De tudo, praticamente, mas nunca duvide disso, tudo bem?
— Sim — concordei.
Você me abraçou novamente.
— Eu te amo, Ayla, nunca duvide disso também — murmurou pela segunda vez naquela noite, ao beijar a minha testa.
O seu toque em mim permaneceu por muito tempo ainda, Bernardo. Como se quisesse gravar cada detalhe meu em você. Você respirava fundo. Sentia o seu peito tremer.
Você se virou para ir embora.
— Bernardo? — chamei.
— Sim?
— Tome cuidado — pedi.
— Eu sempre tomo, docinho — ponderou, sorrindo ainda mais.
Àquele foi o nosso último abraço, Bernardo. E a última vez que vi o seu sorriso também.
. . .
"eu passaria uma vida ao seu lado, mas não essa"
Autor desconhecido
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O que Restou de Nós
RomanceHá uma música do Ed Sheeran que diz: "amar pode doer, às vezes". Talvez ele tenha composto essa música pensando em nós. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | Copyright© 2018. PLÁGIO É CRIME. +18