44| problema em não esquecer

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Ter você por perto era ter sempre a certeza que algo ruim aconteceria.

| 15/12/2016

Eu tinha conseguido concluir o meu TCC com a nota 9,5. Segundo a bancada avaliadora, minha Monografia de Especialização em Educação; Métodos e Técnicas de Ensino tinham impressionado eles.

E aqui estava eu. Indo pegar o meu diploma. Eu usava um vestido longo azul que Laura e minha mãe escolheram. O meu cabelo esta num penteado elaborado. Minha maquiagem era delicada.

Tinha mãos soadas enquanto esperava para ser chamada, e quando o apresentador chamou meu nome, eu sorri pela primeira vez em muito tempo.

— Com punhos fortes e um cérebro poderoso, eu chamo para receber o seu diploma, Ayla Nicácia Silva, a 1ª da turma de Matemática de 2016.

Segui em passos lentos, e quando peguei o canudo, que o professor Alberto me estendeu, eu o puxei para um abraço, e assim foi também com a professora Gorete.

— Parabéns, menina — murmurou ela, no meu ouvido.

Eu olhei para a platéia, e lá estava minha mãe, meu tio, Mateus, Laura e Berenice. Eu acenei para eles. E eles bateram palmas em pé para mim, minha mãe chorava. Eu segui para os primeiros bancos, com os outros formandos, e fiquei lá, até o fim da cerimônia de entrega.

— Há alguém que queira pronunciar algumas palavras para os formandos? — perguntou o apresentador, oferecendo o espaço.

Não achei que alguém da minha família se pronunciaria, mas eu escutei alguém gritar que sim. E logo, quem tava subindo os pequenos degraus do palco era você, Bernardo. Com sua característica jaqueta preta, calças jeans escuras e botas.

Você não olhou para ninguém dos outros formandos da primeira fila. Você apenas me olhou.

— Há algum tempo, eu reparei em uma mulher que andava sempre apressada pelo campus, e que não me dava muita abertura. Ela, com um sorriso encantador e um punho certeiro, tinha um objetivo traçado. E nada e nem ninguém a faria sair do caminho...

Sentia quando lágrimas se formavam e juntavam nos meus olhos.

— O objetivo ela conseguiu alcançar hoje. E a única coisa que posso dizer é: parabéns. Parabéns por ter vindo até onde você veio. Por ter passado pelo que você passou. E por estar realizando o seu maior sonho. E eu não posso colocar em palavras o quão orgulhoso estou por você, Ayla... Meu docinho, meu amor e minha professora...

Eu tinha mãos trêmulas.

— Eu me orgulho de você, Ayla. Meus parabéns, docinho. O mundo acaba de ganhar a melhor professora que poderia existir. E você, acaba de conseguir o mundo. Meus parabéns, novamente! Eu te amo!

E dito isso, você entregou o microfone para o apresentador, e saiu do palco. Enquanto você andava pela plateia, eu corri por uma porta lateral, até estar numa varanda.

O vento da noite batia no meu cabelo, enquanto eu tentava controlar o choro. Você ainda tinha esse efeito devastador em mim. E quando você entrou onde que eu estava, com olhos lacrimosos, e um sorriso triste, eu aceitei o seu abraço.

— Foi um bonito discurso — murmurei, em seu pescoço.

— Algo bonito para alguém bonita — retrucou.

Ficamos abraçados por muito tempo, ainda.

— Desculpe — pediu.

— Talvez um dia eu consiga perdoar você — sussurrei, mais lágrimas caíam dos meus olhos. — Mas isso não quer dizer que voltaríamos.

— Eu entendo, e eu sinto muito por ter estragado tudo, Ayla. Realmente sinto.

Você pegou o meu rosto com as mãos, e limpou com os dedos minha maquiagem borrada.

— Eu sempre pensei que você estaria tão linda quanto essa noite no nosso casamento — confidenciou.

Eu balancei a cabeça, concordando. Você sorriu, Bernardo.

— O mundo será pequeno para a sua inteligência, Ayla. E eu estarei vendo o seu sucesso onde for... E eu repito; estou muito orgulhoso de você. Você pode duvidar de muita coisa... De tudo, praticamente, mas nunca duvide disso, tudo bem?

— Sim — concordei.

Você me abraçou novamente.

— Eu te amo, Ayla, nunca duvide disso também — murmurou pela segunda vez naquela noite, ao beijar a minha testa.

O seu toque em mim permaneceu por muito tempo ainda, Bernardo. Como se quisesse gravar cada detalhe meu em você. Você respirava fundo. Sentia o seu peito tremer.

Você se virou para ir embora.

— Bernardo? — chamei.

— Sim?

— Tome cuidado — pedi.

— Eu sempre tomo, docinho — ponderou, sorrindo ainda mais.

Àquele foi o nosso último abraço, Bernardo. E a última vez que vi o seu sorriso também. 








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  "eu passaria uma vida ao seu lado, mas não essa"

Autor desconhecido

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