- Ele piorou. – Meu coração afundou no peito, vendo meu desespero Ana segurou minha mão. – O trancaram em uma sala na casa do Luke...
Eu até sabia que sala era essa, já o tinha visto preso nela, com trancas por fora, gritando e esmurrando a porta, só de lembrar daquilo senti minha bílis subindo pela garganta.
- Porque o trancaram?
- Ele... Ele. – Ana fez uma pausa me deixando à beira de um ataque de nervos. – Gabe espancou Chris.
- O que? Por quê? – alguns flashes de Chris me passaram pela cabeça, sempre animado, alegre, brincalhão.
Christofer era o menos bonito de todos os sugadores, mas sua animação substituía isso facilmente. Cabelos e olhos castanhos, quase da mesma altura de Gabe, mas seu corpo era esguio e não tinha nada de malhado. Estava sempre com um sorriso enorme estampado no rosto e não consegui repelir uma imagem dele todo ensanguentado que me veio a cabeça.
- Ninguém sabe, ele está fora de si... Enlouqueceu. – Ana abaixou a cabeça. Coloquei uma mão na boca, não sei se pelo choque ou para reprimir minha bílis que estava logo abaixo de minhas amidalas. – Ele quase matou Chris, se não fosse por Alan, ele teria conseguido.
- E como está o Chris?
- Regenerado, graças a... – Assenti com a cabeça, graças a seu poder de regeneração pela alimentação. – Danny disse que foram precisas varias pessoas para que, bom ele melhorasse, se tivesse sido apenas de uma ele a teria matado.
Me senti completamente tonta, me atirei no encosto do sofá. Lagrimas escorriam de meus olhos, as sequei com raiva, não podia mais me dar ao luxo de ser fraca.
- O que ele suga? – Ana me olhou em duvida. – O que Chris suga? – Me lembrei do que meu pai falou, das pessoas precisarem de proteção, só de imaginar que ele sugou algo de varias pessoas e devolveu algo horrível no lugar, fez com que meu cérebro fervesse.
- Preguiça. – Ela respondeu rindo.
- O que? – Perguntei ficando ereta novamente.
- Também fiquei assim quando Danny me contou. Ele suga preguiça e devolve vitalidade, energia, força, iniciativa, chame como quiser.
- Graça a Deus! – Respirei aliviada por um segundo.
- Talvez nem todos, suguem coisas boas, quero dizer perder um pouco de preguiça não faz mal a ninguém.
- É. – Mas Chris não era minha única preocupação. - Gabe está conseguindo se alimentar? – Ela apenas negou com a cabeça.
- Sei que terminou com ele, para fazer com que ele melhore, mas Acaiah não está funcionando, alias está piorando tudo.
- Você me chamou de Acaiah. – Desviei o assunto. Doutor havia me alertado que antes de melhorar Gabe pioraria e muito, e que eu precisa ser forte quanto a isso.
- Como se eu conseguisse ficar brava com você por muito tempo... Na realidade estou magoada.
- Eu sei. – Afirmei. Ana suspirou profundamente.
- Quem é Juliano? – Ela perguntou secamente.
- Um amigo, mas...
- Gabe contou ao Danny sobre ele.
- Certo.
- Acaiah ele acha que esse tal de Juliano foi o motivo do termino.
- O que? – Fiquei tão nervosa com a hipótese de Gabe que fiquei de pé.
- Todos... Estão achando isso.
- E você? Perguntei cuspindo as palavras.
- Não, mas você não me conta mais nada, então seria possível... – Sentei no sofá novamente, na verdade me joguei e coloquei a cabeça entre as mãos. – Danny também não acredita nisso, que seja por esse Juliano, mas...
- Por isso Beth quase me matou quando foi abrir a porta?
- Sim. Acaiah Gabe acredita nisso fielmente, mas questão é: Você vai deixa-lo acreditar nisso?!
- Eu... Não... – Odiava com todas as minhas forças não conseguir terminar as frases quando estava nervosa. – Juliano é importante. – De fato ele era, mas não da maneira como Gabe achava que fosse. – Mas não sei de onde Gabe tirou isso.
- Ele deve ter tido boas razoes. – Ótimo ela estava do lado de Gabe.
- Ana preciso falar com Danny. É urgente.
- Só com ele? – Ela fez biquinho, eu sorri para isso.
- Não, você pode participar.
- ok. Vou chama-lo, ele me disse que ia entrar no banho a hora que você chegou.
- Eu espero!
Ana saiu da sala me deixando sozinha com os meus pensamentos, depois de uns dois minutos como ela não voltou imaginei que Danny estivesse mesmo no banho, ela deve ter ficado no quarto o esperando. Luiza apareceu na sala e se sentou em uma cadeira, do lado oposto de onde eu estava. Ela mexia no celular e notei que ela digitava com uma rapidez atordoante.
- Oi Lu – disse, mas fui ignorada por um tempo.
- Sabe, se você quer que seu ex-namorado acredite nessa historia do Juliano, você terá que fazer com que todos acreditem nela primeiro.
Quase me afoguei com minha saliva. Ela falava como se aquilo fosse nada, nem sequer me olhava, continuava olhando para a tela do celular e digitando como louca.
- Hã? – Meu queixo estava lá no pé. Ela finalmente levantou os olhos para me encarar, se levantou e sentou do meu lado.
- Bom, enquanto ele sentir que há duvidas nas pessoas quanto a isso, ele continuara tendo esperanças e se ele tiver esperanças... Acho que seu plano não vai dar certo!
- Você acha? É eu estava pedindo conselhos para uma menina de doze anos.
- Acho. – Luiza já tinha voltado a mexer no celular.
- Sua irmã vai me matar! – Desabafei, como se Ana fosse meu único problema na coisa toda.
- Faz parte. – Acho que pelo jeito como me remexi no sofá ela percebeu que eu não havia entendido e me olhou sem paciência. – Você não achou que não teria consequências não é?
- Para falar a verdade não pensei...
- Que todos além dele também a odiariam?
- É. – Estava meio em choque com Luiza, mais em choque ainda com as verdades esfregadas em minha cara.
- Se quer que realmente de certo, acho bom ser convincente quanto ao seu novo amor.
- Ele é só meu amigo.
- Se é um bom amigo, vai ajudar. – Ela alternava o olhar entre mim e o celular e dava risadinhas quando lia alguma mensagem recebida, como se aquele assunto não fosse pesado demais para sua idade.
- Vou ficar sozinha, não dá para perder Gabe e Ana. Não consigo.
- Isso vai depender do quanto você quer que ele melhore. – Quase desmaiei a hora que ela disse isso. – Tenho ouvidos e não sou estupida. Já saquei varias coisas. E você disse que esse Juliano é um amigo, então não estará sozinha.
- Você é tão parecida com sua irmã. – A frase acabou escapando de meus lábios.
- Não sou não.
- Por que acha isso? – Perguntei por reflexo.
- Porque no final de tudo, ela vai acabar te perdoando. – Luiza me olhou penetrantemente. – Eu nunca faria isso.
Engoli em seco, ela apenas levantou e saiu digitando no celular como se não tivesse dito absolutamente nada. Ana cruzou com ela no corredor e veio para a sala seguida de Danny.
- Você está bem Acaiah? Está pálida como papel.
- Sim. – Minha cabeça girava, mil pensamentos me inundaram, me senti como se tivesse levado uma surra.
- Queria falar comigo? Perguntou Danny, já se sentando.
- Quero. É sobre meu pai. – Ana sentou ao lado dele e os dois ficaram de mãos dadas, fiquei olhando obcecadamente para isso. Tive que me forçar a continuar falando. – Gabe me disse quando... – Limpei a garganta, ainda olhando para suas mãos dadas. – Terminamos, que ele protegeria meu pai, que ia contar com sua ajuda e de Beth para continuar enrolando os outros e que depois de algum tempo vocês iriam embora.
- Embora? – Ana perguntou se sobressaltando, olhando Danny indignada.
- Isso teria que acontecer alguma hora meu anjo, mas isso não é agora, podemos fazer isso se prolongar inventando falsas pistas, até o fim do colégio e então você se muda conosco com a desculpa de ir para a faculdade em outra cidade. – Danny disse em voz baixa para que os pais da Ana não ouvissem. – Conversarei com Gabe, uma mão lava a outra, eu o ajudo a esconder o pai da Jasmim e ele me ajuda a ganhar tempo.
- Isso não vai ser possível. – Os dois me olharam sem entender. – Meu pai deu o prazo de seis meses para todos vocês saírem de Imperial ou ele vai caça-los. – Bom, ele não havia dito isso com essas palavras, mas tinha ficado implícito. – Ele não vai tolerar sugadores em Imperial por mais do que esses meses.
- Você precisa falar com ele! – Disse Ana elevando a voz.
- Já falei, ele não ia dar tempo nenhum, consegui seis meses.
- Mas isso é para protegê-lo também. – Danny falou com o olhar perdido.
- Eu sei, e acho que foi por isso que ele concordou em dar um prazo. – Afirmei.
- Isso não está acontecendo! – Ana enterrou a cabeça entre os joelhos e Danny ficou passando a mão em suas costas.
Mas a frase dela me abalou, Gabe usou essa mesma frase enquanto terminávamos e isso desencadeou vários pensamentos sobre ele. O imaginei preso naquela sala, gritando, com dor, sem se "alimentar", sofrendo e por fim indo embora.
- Desculpe! – Pedi aos dois.
- Tudo bem. Ao menos você nos deu mais tempo – disse Danny sendo gentil como sempre, mas ele estava acabado por ver Ana sofrendo.
- Consegui imunidade para vocês. – Danny me olhou intrigado e Ana também, ao menos ela tinha saído da posição semi fetal. – Faz parte do trato que fiz com meu pai, ele não sabe em quantos vocês são, mas obviamente conhece você, Gabe e Luke. – Vi Danny relaxar um pouco os ombros, isso me deu certo alivio. – Então desde que não matem ninguém durante a alimentação, ele não os caçará, nem os entregará aos "irmãos" como ele diz.
- Isso é reconfortante. Imaginei que ele não iria atrás de Gabe, por sua causa, se bem que depois que você terminou com ele tive minhas duvidas. Mas não achei que eu e os outros fossemos escapar dessa assim tão fácil. – disse Beth entrando na sala, com ar de poucos amigos. Senti que se pudesse ela voaria em meu pescoço.
- Isso vale por seis meses. – Disse olhando para Danny e então foquei nos olhos cor de mel de Ana. – Desculpe não ter conseguido mais tempo, desculpe por tudo isso!
- Você tentou. – Ela disse num fiapo de voz. Era angustiante ver Ana assim, abalada.
- Não queria que vocês fossem embora! – Acabei soltando.
- Não? Certeza? – Beth perguntou entre dentes.
- Beth! – Danny chamou sua atenção.
- Eu não queria magoa-lo Beth. Eu... – Quase deixei escapar um "eu o amo", mas freei minha língua. – Ele estava definhando, por minha culpa. Não posso vê-lo morrer.
- Ele continua morrendo, você agora só não está vendo! – Ela saiu em velocidade não humana da sala e logo após ouvi uma porta sendo batida.
- Ela não está errada – disse Danny cabisbaixo. E as coisas que Luiza me disse começaram a martelar minha cabeça.
- Eu quero ele viva...
- Ele não vai querer viver sem você! – Foi a primeira vez que vi Danny elevar a voz para mim. Ana olhava com uma atenção excessiva para uma almofada no sofá.
- Gabe vai ter que aprender... – Deixei o resto da frase no ar. – Preciso ir, está ficando tarde.
- Seu pai está te esperando? – Ana perguntou preocupada como sempre com minha segurança, ela esticou o pescoço para olhar lá fora.
- Não eu vim a pé.
- Onde estão hospedados? – Apesar de estar ali conversando Ana parecia estar em outro mundo, com o olhar meio vago.
- Em uma casa, não sei onde é exatamente, fica uns 40 minutos andando daqui – disse já me levantando e pegando meu celular.
- Em qual direção? – Danny perguntou.
- Pra lá. – Apontei com o polegar para trás de mim. – Saindo do centro para o lado direito.
- Serio? – Ana perguntou finalmente ficando seu olhar em mim.
- Sim, por quê? – Perguntei sem entender nada.
- Porque é a parte elitizada de Riviera, só tem umas quinze casas naquela área, nem no mar de lá os banhistas entram, e as casas são todas acima de um milhão.
- É meu pai anda fora da casinha. Te conto depois. – Engoli em seco, e meu pai queria comprar a casa, louco. – Agora realmente preciso ir.
- Posso leva-la, não estou de carro por causa dos meus ogros, mas posso lhe fazer companhia a pé – disse Danny solicito.
- Não precisa, gosto de andar, me ajuda a pensar.
- Tem certeza? – Perguntou Ana.
- Tenho. Deixa um beijo pra tia Su e pro tio Roberto.
- Claro, eles se enfiaram no quarto para nos darem liberdade, pedi a eles assim que você chegou.
- Imaginei.
Nos despedimos, recoloquei o fone e a mesma musica, e comecei o caminho de volta. Mas não demorou muito para as lagrimas me alcançarem e depois de ouvir a musica umas três vezes enquanto chorava, minhas pernas cederam e me afundei na areia. Fiquei ali sentada, chorando, olhando para o mar, ouvindo repetidamente a voz da Taylor Swift em meus ouvidos. Gabe estava sem se alimentar, meu plano não estava dando certo, esperava que para o bem da integridade física do doutor, ele estivesse com razão, que Gabe ia piorar antes de melhorar, senão o mataria lentamente. Ana estava agora com o problema de perder Danny em poucos meses e vice e versa. Os outros sugadores me odiavam e eu havia levado uma lição de moral da Luiza. Tudo isso se resumia a um choro desesperado.
- Isso não é justo!!! – Gritei para o mar e para as estrelas, por sorte não havia ninguém por perto para me ouvir.
Peguei meu celular e relutei contra o impulso de ligar para Gabe, precisava ouvir sua voz, tocar sua pele, sentir seu cheiro, mas não poderia por tudo a perder, precisava salva-lo de mim. Então liguei para a única pessoa que podia me abrir no momento, Juliano.
A ligação estava quase caindo de tanto que chamou, mas finalmente ele atendeu.
- Alô!
- Juliano? – Pronunciei meu seu nome com dificuldade, pois estava segurando o choro.
- Sim. Jasmim?
- Preciso de você! – Disse e então voltei a chorar compulsivamente.
- Onde você está? – Sua voz atingiu um tom de preocupação.
- Na praia. – Só conseguia falar frases curtas, coitando ia ficar boiando já que ele não sabia que eu tinha viajado.
- Sozinha? – Como não respondi e continuei chorando, ele deve ter presumido que a resposta era sim. – Você precisa ir para um lugar seguro, está escuro. Consegue fazer isso?
- Sim. – Finalmente consegui me acalmar a ponto de poder conversar com ele, fiz isso enquanto secava meu rosto. – Só preciso andar por um tempo. – Ri de mim mesma e minha piada sem graça.
- Está me deixando de cabelos brancos. – Nós dois rimos, para amenizar a situação. – A coisa está assim tão ruim?
- Você não faz ideia! – Respondi mordendo o abio para não voltar a chorar.
- Como posso ajudar?
- Vindo aqui, passar uns dia comigo. – Na minha cabeça aquilo parecia uma ótima ideia, mas assim que pronunciei as palavras a coisa todo me soou ridícula. – Se quiser e puder.
- Adoraria fugir um pouco do meu pai. – Sabia que Doutor não dava folga para Juliano quanto à segurança e se manter invisível e que ele queria viver o mais próximo do normal possível. – Seu pai vai concordar? – Senti receio em sua voz.
- Acho que meu pai vai amar ter outro caçador para tomar conta de mim. – Com meu pai eu me entendia depois. – Você vem?
- Me passe o endereço, amanhã cedo vou comprar minha passagem na rodoviária, dirigir até aí ia causar muitas suspeitas, te ligo para passar o horário que vou chegar, mas será antes do almoço. – Respirei aliviada, uma pequena sensação de paz me preencheu. – Mas Jasmim?
- Hum?
- Eu gosto do meu bife grelhado. – Idiota, só ele para me fazer rir depois do dia que tive.
- Anotado. Vou te buscar na rodoviária e Juliano, obrigada por vir.
- Claro, adoro ser usado de step. Não se esqueça de me mandar o endereço por mensagem e vá para casa!
- Sim. Senhor! – Desliguei o telefone um pouco mais aliviada, ao menos agora sentia que podia chegar em casa.
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O Último Olhar
Teen FictionOUO - O Último Olhar - É o segundo livro da Serie The Last (que contará com 5 volumes). Esse livro será publicado de forma independente em 2017. Esse livro NÃO está revisado, mas a pedidos de diversos leitores será postado assim mesmo, portanto não...