Capítulo 8

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Ótimo, bela ideia Jasmim sair andando no meio do nada, sozinha. Começava a suspeitar que certas coisas na vida só aconteciam comigo, onde diabos estava Gabe?! Agora não ouvia só barulhos, ouvia vozes também.

- Você ouviu alguma coisa? – Merda, tinham me ouvido, agora estava ficando bom, a voz do homem era bem forte ou ele estava bem perto de mim.

- Não, por quê? – Aquela voz era de um rapaz, não passava dos vinte anos com certeza.

- Acho que ouvi alguma coisa... Tem mais alguém aqui. – Não tem não, ignora, ignora, comecei a implorar mentalmente, mesmo achando que não daria muito certo. – Eles não podem te achar Juliano. – O baque de ouvir isso foi tão grande que quase sai de trás da arvore, onde estava escondida. – Você é único, tem que se manter em segredo, saia daqui.

Juliano saiu de lá correndo, será que era o mesmo Juliano que conhecia?! Como assim você é único?! Cadê Gabe afinal?! O outro homem continuou lá, me procurando.

- Sei que tem alguém aí. Você não vai tirá-lo de mim. – Meu corpo todo tremia, queria tanto que Gabe aparecesse agora para me salvar.

Ficar parada ali não ia adiantar, fechei meus olhos, tomei fôlego e comecei a correr, não demorou muito para sentir que o cara estava logo atrás de mim, alguns galhos de arvores acertavam meu rosto, minha bronquite começou a se manifestar, olhei para trás para ver se ele ainda me seguia, enquanto meus olhos estavam procurando o tal homem, senti uma mão me puxar, fui jogada contra uma arvore e tive a boca coberta por uma mão.

- O que você está fazendo aqui?

- Eu é que pergunto. – Meu coração parecia que ia sair pela boca.

- Você estava atrás de mim?

- Claro que não. Agora para com o joguinho bobo e fale de uma vez. – Estava cansada de segredos, de historias sobrenaturais.

- Não sei do que você está falando Jasmim.

- Acho que sabe Juliano. O que significa "você é único"? – Ele ficou transparente coitado, começou a olhar de um lado para o outro desesperado.

- Quem mais está com você? – Comecei a ficar com pena dele, Juliano estava à beira de um ataque de nervos.

- Acho que estou sozinha, Gabe estava na estrada e...

- Por favor, não conte nada a ele. – Juliano segurou minhas mãos para reforçar seu pedido.

- Contar o que, se você ainda nem me respondeu? – Tirei minhas mãos da dele.

- Vou contar prometo, mas estou implorando, não conte nada a ele. Me prometa. – Podia ter mentido ou ignorado seu pedido, mas o desespero em seus olhos me convenceu.

- Tudo bem prometo. – Disse contra vontade.

- Agora volte para a estrada, lhe conto tudo amanha. – Juliano parecia ter pressa em me tirar dali, provavelmente o cara que estava com ele, não ia gostar da idéia, dele ter me deixado ir.

Ele me levou até perto da estrada, mas estava bem atrás de onde Gabe havia parado, sabia disso porque havia visto a placa de sinalização, quando passamos, teria de andar um pouco e provavelmente Gabe já teria ido embora, ia ser outro dia maravilhoso. Nos despedimos as pressas e comecei a andar, porque confiei nele?! Começava a achar as coisas sobrenaturais normais na minha vida, o que de certo modo queria dizer "estou louca".
Avistei o carro, incrivelmente Gabe ainda estava lá, com as mãos enfiadas no bolso da sua calça jeans escura, cabeça baixa e uma das pernas apoiada no eclipse preto.

- Cansou de ser orgulhosa e resolveu voltar? – Aquele cinismo dele, aquele meu orgulho... – Ou aconteceu alguma coisa e você não tinha a quem mais pedir socorro?

- Gabe... – Ouvi um barulho na mata, estávamos bem ao lado dela, não sabia o que aquele cara era, ele podia ferir Gabe.

- Odeio quando você banca a orgulhosa. – Precisávamos sair logo dali.

- Odeio quando você faz um monte de coisas, mas ainda estou aqui, não? – Parei ao lado da minha porta, esperando que ele a abrisse, queria sair correndo dali, queria Gabe longe deles, porque ele não entendia o quanto era importante?! Talvez o erro fosse meu, deveria dizer isso a ele, em vez de querer que Gabe simplesmente presumisse sozinho.

- O que aconteceu? Com quem você estava? – Droga essa maldita habilidade dele, de sempre saber o que sinto, podia estar sendo paranóica, mas achava que Gabe estava cada vez mais se utilizando dessa habilidade comigo.

- Nada, com ninguém.

- Não me insulte mentindo. – Estávamos nos olhando por cima do carro, só queria que aquela briga idiota parasse, nem me lembrava mais porque tinha saído do carro, o que estava acontecendo conosco?! – Se não quer me contar tudo bem, só não minta.

Entramos no carro, ele dirigiu normal, como se aquilo o estivesse esgotando tanto que... Gabe estava ficando indiferente e eu estava ficando, não sabia o que estava ficando. Comecei a chorar silenciosamente, tentei disfarçar as lagrimas, ele encostou o carro perto de um restaurante que havia no meio do caminho da casa dele para a minha.

- Não imaginei que as coisas fossem ficar assim, talvez fosse melhor eu... – Gabe fechou os olhos, estava lutando para dizer aquilo, não queria ouvir. Comecei a negar com a cabeça, antes mesmo dele dizer. – Você sabe que seria o melhor a fazer, se eu fosse uma boa pessoa, mas não sou... Não vou abrir mão de você porque sou egoísta, não admito sua ausência da minha vida. Só quero saber se você...

- Eu amo você Gabe. Sinto muito, não sei o que está acontecendo comigo. –Precisava me abrir com ele. – Ultimamente sua presença me irrita e quero que você fique longe, mas não... Não sei explicar, meu corpo quer isso...

- Isso deve ter relação com o fato de você ter matado Michael. – Ele deu um soco no volante, não sei como não o quebrou, depois ficou uns minutos olhando para frente. Se virou para mim, secou minhas lagrimas. – Você quer que a deixe em paz? Se quiser, você terá que me mandar fazer isso, porque não consigo.

- Não! – Berrei. – Nunca.

- Talvez uma pessoa possa nos ajudar com isso, com o que está havendo com você e comigo.

- Com você? – Sabia do seu problema para se alimentar, mas algo me dizia que não era só isso.

- Você já tem coisas demais na sua cabeça por hoje minha flor. – Paz, gostava da paz que sentia, quando as coisas entre nós, estavam normais. – Posso dormir na sua casa hoje?

- Claro. – Não derramei mais lagrimas, isso porque minha noite seria excelente, adorava dormir abraçada com ele, sentindo seu cheiro, me fazendo esquecer por algumas horas a carga enorme que havia em nossos ombros.

Ao chegarmos em casa meu celular tocou, não era coisa boa, olhei no visor, a ligação era do meu pai, o líder dos caçadores. Me enganei ao achar que a noite seria excelente, percebi isso assim que ouvi o tom de voz do senhor Alberto Acaiah.

- Onde você se meteu Jasmim? – Estava pensando em uma desculpa para dar. – E não minta para mim, porque em casa você não estava. – Droga, como ele sabia?! Meu pai nunca ligava em casa. – A psicóloga te esperou mais de uma hora na frente de casa e ninguém apareceu, o serviço social acaba de me ligar, para saber onde você estava, tive que mentir Jasmim.

- Estava na casa do Gabe pai. Esqueci completamente das seções com a psicóloga, desculpe.

- Desculpe? Casa do Gabe? Você está pensando que isso é festa Jasmim? – Ele estava muito nervoso, mas não me abalei com aquilo, já tinha coisas demais para me abalar. – Eles já acham que bato em você e agora...

- Já pedi desculpas, não vai mais acontecer. Estou cansada, vou dormir. – Ele tentou dizer algo, mas não ouvi. – Boa noite. – Desliguei o telefone.

- Onde ele está? – A mera menção ao meu pai deixava Gabe com um mau humor enorme.

- Não sei, ele não me disse e também não perguntei. – Acho que ele mentiria de qualquer maneira, então para que perguntar?!

- Com fome? – Quando o assunto era meu pai, sempre acabávamos desconversando.

- Não. Vou tomar um banho, você... – Não o encarei, não queria ver aquele olhar perdido que ele ficava, quando pensava nos caçadores.

- Vou ficar por aqui, esperando. – A cara dele era muito maliciosa, mas já havia tirado meu cavalinho da chuva, não rolaria algo desse gênero entre nós dois, primeiro porque ele dizia que agora não era hora, que me arrependeria depois, segundo porque quando ele perdia o controle, sempre aparecia alguém.

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