Capítulo 19

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             A parte divertida seria contar ao meu pai que Juliano estava vindo para a praia para ficar na nossa casa. Mas me sentia mais forte e segura agora que sabia que não estaria sozinha, que teria um amigo com quem contar, um para quem eu pudesse contar tudo e não ter que fingir como Ana.
Limpei as lagrimas e fui para casa, já preparada para o ataque que meu pai daria. Troquei a musica da Taylor, para musicas de balada, animadas, estava cansada de ficar sentindo pena de mim mesma. Minha única escolha era ser forte daqui para frente, por mim e por Gabe. Tirei os fones assim que cheguei em casa, encontrei meu pai na sacada, no sofá baixo, com cara de poucos amigos.

- Custa atender o celular? – Ele disse ríspido e se levantando, erguendo seu aparelho na altura da cabeça.

- Estava ouvindo musica e já estava vindo para casa de qualquer maneira.

- Ia esperar mais cinco minutos e então iria atrás de você. O combinado era que...

- Estou bem pai! Estou aqui não? Não estou acostumada a sair e ter que dar satisfações. – Falei provocando, mas me lembrei que tinha que contar do Juliano, então precisava segurar a língua.

- Não abuse da liberdade que lhe dou, seria muito fácil tira-la de você! – Ele apontou o dedo indicador para mim.

- Você tem razão me desculpe! – Meu pai pareceu meio em choque por eu ter baixado a bola tão facilmente.

- Que isso não se repita.

- Tudo bem. – Minha voz parecia de seda, me senti meio falsa, mas precisava que ele aceitasse meu amigo aqui.

Ele voltou a sentar, como se estive esgotado de alguma forma. Me sentei na outra ponta de forma que ficamos um de frente para o outro.

- Pai?

- Hum. – Ele respondeu sem me olhar.

- Preciso te fazer um pedido, na realidade está mais para um comunicado já que já foi tudo combinado. – Ele me deu uma encarada nada amigável. – Eu convidei um amigo para ficar aqui em casa...

- O que? Você acha mesmo que vou abrigar um sugador aqui, já não bastava saber que seu ex-namorado vivia lá em casa? – Sua voz estava esganiçada, demostrando toda sua irritação, devia estar preocupada com sua reação, mas só consegui focar no "ex-namorado".

- Ele não é um sugador. – Vi meu pai recuar em sua posição de alerta. – Juliano é...

Minha cabeça estava um turbilhão, o que ia dizer um hibrido? Não podia trair a confiança de Juliano revelando seu segredo, mas meu pai saberia que ele não é humano assim que o visse, ou quem sabe não, já que ele não sabia do Gabe, não com certeza, talvez eu estivesse mesmo bloqueando suas habilidades, mas não podia contar com isso, nem sabia como bloqueei Gabe dele.

- Ele é o que Jasmim? – Ele perguntou impaciente, sentindo que pela demora lá vinha uma mentira.

- Ele é um caçador! – Assim que falei me arrependi. Se meu pai era o líder deles, talvez conhecesse todos. Eu estava ferrada.

- Um caçador? Tem certeza? Quantos anos ele tem? – Meu pai estava com uma das sobrancelhas erguida, meu coração sapateava no peito.

- Tenho certeza, ele tem... 17. – Chutei, não sabia quantos anos ele tinha.

- Em fase de aprendizado ainda, só atingimos o amadurecimento aos 21, é com essa idade que conseguimos...

- Eu sei. – O interrompi, sabia o que ele ia dizer e não queria ouvir "matar um sugador", isso gelava minha alma.

- Como o conheceu? Ele sabe do seu ex? – Adoraria que meu pai parasse com o interrogatório, sentia minha bílis querendo subir pela garganta.

- O conheci no trabalho, não acredito que ele saiba do Gabe... – Dizer seu nome era excruciante. – Nem de você!

- Ele vai, assim que vir.

- Como assim? Perguntei engolindo em seco.

- Sou seu líder, ele vai saber assim que me ver, e quando ouvir minha voz fará tudo que eu mandar, inclusive tiraria sua própria vida se eu o ordenasse. – Um arrepio percorreu minha coluna, tive calafrios. – Assim como um alfa comanda sua matilha, eles não podem deixar de obedecer, nem se quisessem.

- Como isso pode funcionar? É impossível que você tenha contato com todos os caçadores do mundo.

- Tenho meus betas, os segundo em comando, seria inconcebível liderar todos pessoalmente, em media tem um por estado, do mundo todo. – Como devia estar com cara de confusa, ele continuou a explicação. – Minhas ordens são passadas diretamente aos betas, em reuniões ou até mesmo vídeo conferencias, que as repassam aos ômegas, os terceiro em comando e em maior numero, cerca de 4 ou 5 por cidade.

- E os ômegas por fim repassam a todos os outros?

- Exato. Mas ao todo somos em muitos, mas do que possa imaginar, então preciso desses níveis de hierarquia para liderar, senão seria impossível.

- É você quem escolhe os betas e ômegas?

- Não. Assim como nascer líder é um presente de família, ser beta e ômega também é. Isso é repassado de geração em geração, claro que em algumas vezes esse "dom" pula um ou outro, apenas os que têm muita sorte.

- Você queria ser normal... – Foi mais uma constatação, uma obvia.

- Todo mundo quer ser normal, mas no fundo ninguém é. Não conheço uma só pessoa no mundo que seja normal, cada um tem os seus problemas e desafios que os tornam únicos.

- Profundo. – Resmunguei.

- Mas porque Jasmim? Porque chama-lo?

- Porque não queria ficar aqui sozinha. – Não era esse motivo que tinha pensado em dar a ele, mas quando dei por mim já tinha falado, meu pai ficou transparente.

- Você não está sozinha, eu estou aqui com você!

- Está, mas...

- Mas?

- Você o odeia! – disse ríspida, ofegante e cheia de raiva na voz. – Você não entende minha dor, meu sofrimento. Preciso de ajuda nisso, você não pode me ajudar porque está muito feliz que Gabe não faça mais parte da minha vida. Isso me irrita e enoja. – Terminei a frase desviando o olhar.

- Querida não é assim, eu entendo sua dor, mas definitivamente foi melhor assim, com o tempo você vai perceber que... – Levantei do sofá e o interrompi, não queria ouvir aquela ladainha.

- Como disse era mais um comunicado do que um pedido, Juliano chega amanhã cedo, seria bom se pudesse me dar carona até a rodoviária, mas se não puder eu dou um jeito.

- Que horas? – Ele perguntou sem me encarar, o estranho foi que me senti mal por isso.

- Ele vai me ligar de manhã para passar o horário que vai chegar. – Respirei profundamente. – Desculpe pai, convida-lo sem perguntar a você antes, fiz isso num impulso, mas realmente o quero aqui.

- Ele deve ser muito especial e importante.

- Ele me entende! – Rebati e fui para o meu quarto.

Tomei outro banho, apenas para matar o tempo, coloquei um pijama e me enfiei na cama, o sono demorou a vir para meu desgosto, até meu pesadelo recorrente era melhor que minha realidade agora. Repassei mentalmente tudo o que aconteceu na casa da Ana e a imagem de Gabe trancafiado após ter quase matado Chris não saia da minha cabeça, graças a Deus comecei a sentir o sono vindo e junto dele um sonho arrebatador.

"Estava no meio de uma floresta, olhei para o chão e me vi descalça, analisei meu corpo, eu estava de vestido, um vermelho, o que Michael me obrigou a usar, meu coração dispara ao me lembrar dele, comecei a olhar em volta assustada, ele poderia estar ali à espreita. Não vi ninguém, mas meu extinto me mandou correr, e assim o fiz. Corri. Galhos de arvores arranhavam meu rosto, meu pé escorregava em trechos onde a terra estava úmida, meus pulmões ardiam, meu coração parecia que ia explodir. Continuei correndo até que cheguei à borda de um rio, onde eu estava? Estava apavorada, escutei lobos uivando ao longe, estremeci. Pus as mãos à cabeça em sinal de desespero, olhei para todos os lugares em busca de uma saída ou algo conhecido. Nada. Meus joelhos estavam quase cedendo ao chão quando ouvi uma voz familiar.

- Perdida? – Ele perguntou cinicamente.

Meu coração falhou uma batida, me demorei a virar para vê-lo, sabia que isso me destruiria, mas inevitavelmente o fiz. O Olhei.

- Gabe. – Sussurro fechando meus olhos, sentindo meu coração na boca, pronunciar seu nome e vê-lo fez meu corpo tremer e vacilar. Um alivio incomum me atravessou, uma paz seguida de agonia.

- Eu posso ajuda-la. – Ele diz tranquilamente, já eu mal me aguento em pé.

- Não, você não pode. – Digo a ele, olhando-o atentamente.

Gabe está saudável, forte, sem olheiras e a palidez já habituais, ele estava curado. Me pergunto se ele está sem camisa para me enlouquecer. Ele está apenas de jeans, também descalço, com os braços cruzados no peito.

- Eu vou odiar você, para sempre! – Ele diz com olhos vagos, raiva e fazendo que não com a cabeça.

- Eu sei! – Respondo com os olhos cheios d'água. – Me perdoe. É para o seu bem.

Sinto frio, a mata está gelada, o barulho de água atrás de mim não é o suficiente para me acalmar. Pisco algumas vezes e quando volto a olhar para Gabe, ele está a centímetros de mim, o calor emanando de seu corpo, me tentando. Olho em seus olhos negros e me sinto entorpecida. Ele toca meus braços e em segundos sou envolvida por eles, me rendo e o abraço, passando minhas mãos pelo seu pescoço. Me sinto plena, ele beija meu ombro esquerdo. Suas mãos vão subindo pelas minhas costas, ele beija meu pescoço, suas mãos passeiam pelos meus braços, ele me olha penetrantemente, preciso pedir que ele pare, mas não tenho forças. Fecho os olhos pelo beijo que está por vir, sinto suas mãos em torno do meu pescoço, abro os olhos e não é mais Gabe e sim um sugador de olhos brancos, o qual sempre sonho. Ele está me sufocando, ele me faz andar de ré até o rio e antes de me afogar ele diz: "De um jeito ou de outro, eu vou te achar". Fico submersa, com suas mãos ainda em torno do meu pescoço, começo a sucumbir. "
Acordo com meu pai me chacoalhando, com cara de assustado e olheiras enormes.

- Jasmim acorde! – Ele dizia sem parar.

- Pai? – disse sonolenta.

- Graças a Deus! – Ele me pareceu muito aliviado.

Fui puxada para um abraço, ao qual fiquei sem jeito, estávamos sentados na cama e ele demorou alguns minutos para me soltar, ficou mexendo em meu cabelo como se me embalasse.

- Não queria te acordar – disse sem graça.

- Você estava gritando, nunca te vi assim. Sei que sempre tem pesadelos, já lhe vi ter vários deles, mas esse foi diferente, você estava transtornada, aos berros e por segundos até parou de respirar. Com o que sonhou?

- Eu estava em uma floresta... – Coloquei a mão esquerda em minha garganta, ela parecia doida, como se realmente tivesse sido estrangulada e então me lembrei de Gabe. – Ele estava lá, com raiva. – Não precisei dizer quem era meu pai entendeu.

- Só isso?

- Só. - Não achei que fosse necessário contar que um sugador apareceu para me matar.

- Não sei como posso ajuda-la. – Meu pai parecia desolado, me imaginei no lugar dele, vendo a filha sofrer sem poder fazer nada e me senti péssima por ele.

- Com café da manhã talvez – disse ao ver que o sol já estava nascendo.

- Isso eu posso fazer. – Ele parecia relutante em me deixar, mas acabou indo para a cozinha após eu dar um sorriso amarelo.

Assim que ele saiu me joguei de volta no travesseiro.

CONTINUA... CAPÍTULO NÃO FINALIZADO...

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