20 - fim do acordo

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Você pode pegar tudo o que eu tenho

Você pode quebrar tudo o que eu sou

Como se eu fosse feita de vidro

Como se eu fosse feita de papel

Vá em frente e tente me derrubar

Eu vou me levantar do chão como um arranha-céu

Demi Lovato

Scyscraper

👽


Em uma gélida terça-feira, Cristhine procura qualquer roupa dentro do armário, vestindo-se rapidamente.

— Garota burra! — xinga-se ao recordar o beijo que trocou com Austin na pista de patinação. Precisa se convencer de que tudo faz parte do lance sobre causar ciúmes em Melissa. — Idiota, estúpida, imb...

— Tá maluca? Deu pra falar sozinha agora? — Carly a assusta, enfiando a cabaça no vão da porta.

— Eu só estava treinando para uma apresentação da escola. — mente, jogando os livros de qualquer jeito na mochila.

Em silêncio, Carly estuda o cômodo, notando que está arrumado e cheiroso.

— Desde quando você arruma o seu quarto? — enruga o nariz, estranhando.

— Eu... bem. — murmura sem jeito.

Como ela poderia dizer à mãe que estava querendo impressionar certo garoto caso ele decidisse visitá-la?

— Você o quê? — a mãe pergunta, impaciente. Entra no quarto. — Está namorando?

— O quê? — arregala os olhos. — Claro que não!

Se bem que ela está namorando sim, mas nem de verdade é.

— É bem melhor assim. — a mulher se aproxima. — Homem não presta. Depois de destruírem nossas vidas, vão embora e sequer sabemos se ainda estão vivos. — Carly começa a soluçar histericamente, fazendo Cristhine se afastar em um pulo.

Às vezes, a mulher têm esses rompantes sobre o quanto odeia os homens e suas atitudes condenáveis. Isso explica o fato de Cristhine não ter interesse em se aproximar de um.

Segundos depois, o choro cessa como se nunca tivesse acontecido e a mulher abraça a adolescente, assustando-a. Carly não demonstra afeto desde que o marido foi embora.

— Minha filhinha. — Cristhine para de resistir, deixando-se ser abraçada. — Sou uma péssima mãe, não sou?

— Um pouco. — Cristhine responde sem titubear, fazendo a mãe rir antes de se afastar. — Mas continuo te amando apesar disso. — confessa, meio sem jeito.

Desde que começou a andar com Austin, não tem se reconhecido mais.

— Tudo bem, doçura. — Carly fala calmamente, deixando-a boquiaberta. — Vou tentar ser uma mãe melhor de agora em diante.

— Você poderia começar trocando essas roupas. — murmura com cautela, esperando uma explosão a qualquer momento.

Cristhine não tem nada contra a cor preta, aprecia, na verdade, mas parece que a cor não tem o mesmo efeito sobre a mãe, afinal Carly decidiu se vestir assim quando o marido a deixou, e isso de alguma forma simboliza um estado de viuvez proposital, como retaliação pelo abandono.

— Você tem razão. — concorda, surpreendendo a garota. — Agora vá para a escola. Você já está atrasada. — aperta-a em um último abraço antes de deixar o cômodo.

Cristhine apenas balança a cabeça, pega a mochila e sai.


***


Após receber um olhar de reprovação do professor de biologia, Cristhine para de caminhar, confusa.

Austin está sentado próximo à Melissa, exalando intimidade pelos poros. Nathan está sentado, um pouco distante, escrevendo furiosamente algo no próprio caderno.

Tentando disfarçar a surpresa, Cristhine passa por eles sem dizer uma palavra, sentando na última carteira da classe.

Força-se a esconder a decepção ao se dar conta de que Austin está com os fixos na garota ao lado.

Melissa lança um sorriso trunfante para Cristhine por sobre o ombro, fazendo-a pensar em escalpelamento público. Tentando afastar os pensamentos sanguinolentos, concentra-se na tarefa que o professor acabou de passar.

Pelo canto de olho, assiste o braço de Melissa estendido casualmente sobre o ombro de Austin.

Minutos depois, assim que o alarme soa, sai da sala a passos largos, tentando evitar certo casal.

— Cristhine! — ignora a voz de Austin, caminhando mais rapidamente.

Sente alguém puxar o seu braço, virando-a. — Por que você correu daquele jeito?

Parece que o garoto perdeu mesmo a noção do perigo. Já nem treme de medo quando está perto dela.

— Não é da sua conta! — segue até o próprio armário, enfiando alguns livros dentro, aliviando a mochila do peso anterior.

— Preciso conversar com você. — diz Austin com impaciência.

— Pode dizer. — fecha o armário de forma estridente, chamando a atenção de um grupo de alunos que param de conversar. — Perderam o quê? — levanta os braços de forma ameaçadora e eles se afastam, pressentindo o perigo.

Austin respira fundo.

— Posso falar agora?

— Claro. — resmunga.

— Quero te entregar uma coisa. — retira um pacote pardo da mochila. — O seu pagamento.

— Mas ainda nem é a formatura. — murmura confusa.

— Eu sei. — ele suspira. — É que... eu voltei com a Melissa. Mas não se preocupa porque, mesmo que o acordo tenha sido cancelado, vou deixar a quantia que combinamos.

Cristhine tenta disfarçar a decepção sem sentido que a inunda. Permanece em silêncio por um instante, então decide aceitar o dinheiro, enfiando-o na mochila.

— Valeu pela grana. Até que a farsa foi divertida no fim das contas. Agora eu tenho que ir. — diz com o sarcasmo habitual, sua marca registrada, antes de seguir calmamente pelo corredor.

Austin observa as costas da garota, ainda desnorteado com a calma dela.

Não era assim que ele esperava que o acordo terminasse.

Ou era?

Não se entende mais. Esperava sentir alívio ao se livrar da garota para ficar com Melissa, mas só o que sente é...

Um vazio inexplicável.


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Cristhine - A Namorada De AluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora