Fourth Chapter

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S/n foi indo para trás até bater no armário, seu medo a deixando sem muitas opções de movimento, a fazendo seguir se abaixando até atingir o chão e se sentar, logo se encolhendo e abraçando as próprias pernas. Ela estava apavorada, não só por si, mas por Lia. S/n, além do medo, estava também sendo consumida pela sensação de culpa. Por não ter podido proteger sua amiga, não ter podido evitar tudo aquilo.

O destino sempre nos pega naquilo que menos esperamos, com S/n não havia de ser diferente. Achar que algo não pode piorar sempre potencializa o fato daquilo ocorrer e quando ela menos esperou, uma sensação de desconforto crescente a atingiu no peito, como se algo pesado a pressionasse, por um mero segundo S/n se lembrou das aulas de física onde lhe fora ensinado sobre a gravidade da Terra ser estável, pois ela se sentia no contrário oposto. Respirar era um desafio e se mexer nem poderia ser considerado enquanto seu corpo era quase esmagado por uma força invisível superando toda a experiência do último acontecimento fora do comum que ela havia vivido.

S/n soltou suas pernas, e abriu seus olhos lentamente. Embora não tivesse certeza de onde Lia estava, ela não podia ignorar a sensação de algo ruim extremamente perto de si, mesmo com toda a aura imensamente desagradável ao redor preenchendo todo o cômodo e fazendo uma pressão insuportável contra seu corpo. Persistindo em enxergar através do meio breu, S/n foi capaz de processar rapidamente a imagem de Lia à sua frente, o susto foi tão ácido que quase a levou de vez para o outro lado, uma sensação cabível, uma vez que ao abrir os olhos a primeira coisa que capta são olhos totalmente brancos lhe encarando tão de perto. S/n pôde jurar que seu coração explodiria, dada a força de seus batimentos. Lia, ou melhor dizendo, a criatura, abriu um sorriso de canto como se estivesse debochando de algo, de S/n, talvez, e de todo o tormento que estava lhe causando. Ela não sabia do que ou porque, mas de uma coisa S/n tinha total noção: a criatura medonha à sua frente não era sua amiga, Lia. E talvez não fosse desde o aparecimento da figura masculina na escada. S/n observou sua visão ficar mais fosca a cada segundo, ela não controlava mais seu corpo, por mais que desejasse ou tentasse, podendo apenas senti-lo ficar mais e mais pesado. A coisa continuava a observando e ela temia mais que tudo o que iria acontecer consigo dali para frente.

(...)

O despertar foi súbito e a percepção do início de outro dia espantou S/n, uma vez que ela poderia dizer facilmente que acabara de sair daquele pesadelo tão vívido. Seu corpo estava sob o colchão macio de sua cama, com o que parecia ser Lia ao seu lado. O que havia acontecido ontem à noite? Se questionou. As questões continuaram, como ela havia ido parar em sua cama? Se sua última memória era estar no chão. E a Lia, era de fato a Lia?

Quis se levantar e assim fez, os flashs da noite passada lhe causando leves arrepios. Seus braços se ergueram e suas mãos puxaram as cortinas, de acordo com o que ela conhecia, tudo o que tinha que fazer era esperar.

- S/n... Fecha essa merda! Eu quero dormir.... - Lia se fez reclamar e um alívio se instalou no corpo da mais velha. Embora soubesse que isso não resolvia magicamente nem metade dos problemas, saber que sua amiga estava de volta já lhe confortava. Mesmo que ela estivesse de mau humor e aparentemente sem saber o que aconteceu.

S/n não pôde conter a necessidade que tinha de um abraço. Os últimos dias tinham sido difíceis e não ter um colo para onde correr apenas drenava mais sua força de vontade. Ela correu até Lia e se jogou sob seu corpo esguio, a abraçando com braços e pernas.

- Sai, caralho. - Lia reclamou um pouco abafada por conta das cobertas. - Estou ficando sem ar! S/n!

S/n deixou o corpo de sua amiga com lágrimas nos olhos, o peso de ter passado por um imenso susto sem ter para quem correr voltando aos poucos. À despeito da sensação um tanto infantil, S/n se levantou por completo da cama e se virou para a porta. Como nada está ruim o suficiente, um vulto passa pelo corredor. No final das contas Chan estava certo, a baixa vibração frequente havia aberto outros portais. Chan voltou para a janela e fechou as cortinas para Lia poder continuar a descansar. Saindo sem bater a porta a morena se encaminhou para o andar de baixo, seus olhos atentos procurando por qualquer anormalidade possível, mas não precisou ir muito longe, Chan a esperava no sofá.

The Curse [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora