Os guardas não tiveram a menor chance. Em um momento estavam tremendo, mas pelo menos um pouco confiantes que os escravos que sempre os obedeciam iriam cumprir suas ordens, no outro, estavam cercados, engolidos pela turba furiosa. E eles não pegaram leve. Essa era a chance de vingança que com certeza sonharam muitas vezes em praticar, mas foram impedidos por a realidade, por as correntes, as mesmas que não estavam mais em seus pulsos.
Fiquei parada, a única a não se mover fora o homem estranho ao meu lado, observando o desenvolver da chocante rebelião.
- Você parece surpresa.
Observei a violência na minha frente e não respondi.
- O que você achou que aconteceria quando eles fossem libertados? Que eles iriam fugir? Ignorar todos os maltratatos? Esquecer tudo o que passaram e seguir em frente? Perdoar?
Eu não sabia o que esperava. Algum pensamento primário meu talvez pensasse em fugir, como um instinto básico para a sobrevivência. Mas é claro que aquelas pessoas não fariam isso. Eu passei só um dia presa aqui e já achei que era o bastante para a vida toda. Mas e quanto a eles? Uma vida cheia de tormenta e privações não se extingue tão rápido.
- Você esteve aqui por quanto tempo? - perguntou ele em um tom mais brando.
- Um dia.
- Então você ainda não sabe, a sensação se ser preso contra a sua vontade e não poder fazer nada a respeito.
- E você sabe?
Ele não respondeu.
Nesse momento os guardas já tinham perdido a vontade de lutar, alguns fugindo para logo ser pegos por uma súbita onda de vento ou por uma lança de gelo enquanto os herdeiros faziam o que sabiam fazer de melhor, o que eram treinados para fazer : lutar.
Muitos corpos ja enfeitavam o chão , notei e estremecei, era ciente da violência no mundo, mas presenciá-la era uma coisa totalmente diferente. Senti que nunca esqueceria essa cena enquanto vivesse.
Alguns dos guardas soltaram as armas, se ajoelhado e clamando por misericórdia.
- Chega! - O homem do meu lado gritou, o som da sua voz revestida de comando dando uma pausa no massacre, e eu agradeci mentalmente.
- Por que devemos parar? Eles nunca pararam conosco - respondeu um dos herdeiros, com os olhos ainda reduzindo com desejo de vingança.
- Matar eles não vai mudar o que vocês viveram - um lento sorriso se formando em seu rosto -Além disso eu tenho uma ideia melhor.
Isso apareceu fazer os herdeiros furiosos se acalmaram um pouco, embora hesitantes, dispostos a ouvir a proposta daquele que os libertou.
O homem se aproximou lentamente de uma cela e a abriu , estendendo a mão em um gesto convidativo.
- Por que não damos a eles um pouco do seu próprio veneno?
Observei os olhares dos guardas mudarem de alívio a horror enquanto observavam a cena.
- Como vocês ousam? Vocês coisas malditas só foram feitas para servir a nós ! - falou um dos guardas sobreviventes.
- Pare de falar merda e entre aí dentro - o homem o arrastou pela cela, a fechando com um estrondo que ressoou no silêncio antes de olhar as demais pessoas que o observavam, paradas - E vocês, o que vão fazer?
Os herdeiros restantes vendo o óbvio horror no rosto do guarda agora prisioneiro seguiram o exemplo, jogando os sobreviventes nas celas vazias e as trancando em seguida. Dando a eles um pouco do que passaram todos esses anos.
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A herdeira do tempo
FantasyUma vez que algo esta feito, é impossível ser desfeito. Isso pode ser verdade para a maioria das pessoas. Mas não todas. Ana era uma herdeira, um dos humanos capazes de controlar algo que era impossível para pessoas comuns, e a sua herança era o te...