Capítulo 17

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Pra quem não acredita em milagre de natal...

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A tempestade não demorou muito para cair do céu com força total. Gotas grossas de água pinicavam contra a minha pele, cada impacto doendo como um tapa. O vento assobiava com a fúria de um animal selvagem liberto depois de uma longa prisão. As nuvens escuras logo tomaram o céu, dando ao dia o aspecto da noite. O breu era interrompido apenas por constantes clarões de relâmpagos.

Mas isso não era o pior de tudo. Eu poderia lidar com isso com uma onda de medo e seguir em frente.

O pior eram as ondas.

O navio balançava sobre as águas sem nenhum controle. Tudo que a tripulação podia fazer era se proteger o melhor possível. Eu finalmente entendi a importância das cordas, se eu não estivesse amarrada provavelmente já teria sido lançada para o fundo do mar onde seria nada mais do que comida de peixe.

Um novo relâmpago iluminou o navio e eu pude ver o restante da tripulação.

Lianof rugia ordens que eram levadas pelo vento enquanto segurava o leme, os demais tentavam ajudar de outras formas, alguns tentavam segurar as cordas do mastro que ameaçavam se soltar, outros, junto comigo, tentavam amarrar os objetos que ficavam derrapando pelo chão junto com o movimento do navio. Se eles caíssem no mar o navio ficaria ainda mais leve, aumentando as chances de naufrágio. Eu não queria pensar nessa possibilidade, no entanto, quando um barril de água com aparência pesada derrapou na minha direção, quase me acertando, comecei a hesitar.

Talvez as cabines fossem um lugar mais seguro. Considerei. Mas a ideia dos móveis lá dentro se movendo e me esmagando foram o bastante para me dissuadir dessa ideia.

O estrondo de um raio particularmente alto me tirou dos meus pensamentos. Meus ouvidos zumbiram com o som e eu tremi, apertando firmemente a adaga entregue a mim por kian. Todo o conforto anterior que ela tinha me dado havia sumido, não havia como lutar com chuva, vento e ondas. No entanto, eu a mantive comigo, caso o navio virasse eu cortaria a corda antes de ser arrastada para o fundo do mar.

Tentei não considerar isso. Era pouco provável que eu sobrevivesse em águas tão turbulentas, além disso eu não era a melhor das nadadoras.

Outro raio soou e a madeira do navio estalou em algum lugar. Olhei ao redor mas não consegui localizar a fonte do som.

Ansiedade revirou meu intestino junto com o medo. Tentei me confortar. Lianof estava vivo no futuro, então era improvável que o navio tivesse naufragado aqui.

No entanto até onde eu sabia ele era imortal. Vi com meus próprios olhos ele se curar de um ferimento de espada que deixaria alguém de cama por um longo tempo. Mesmo que todos morressem nessa tempestade, ele poderia sobreviver.

Não havia garantia para mim ou os outros ali.

Diana, a herdeira da água, estava no meio do navio, aplacando algumas das piores ondas. Sem ela, provavelmente o navio já teria afundado. No entanto, até para ela havia um limite. Eu não sabia até quando essa situação poderia continuar.

Outro estalo suspeito chamou minha atenção em outro lugar. Isso não era bom. A própria embarcação não ia aguentar.

Foi quando eu olhei para frente. Bile revirou meu estômago e me senti entorpecida por um segundo. Uma grande onda se aproximava de frente. Era enorme. Eu nunca tinha visto nada igual. O navio era minúsculo em comparação. Íamos ser varridos.

Vi ela se aproximar cada vez mais com o coração na mão.

- Segurem-se! - ouvi o rugido de Lianof sobre o pesado som da chuva. Foi o que me acordou.

A herdeira do tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora