Capítulo 18

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Então gente, já faz um tempo. Como vocês estão? Espero que estejam bem.
Peguei corona. Não dá nem pra acreditar. Mas graças a Deus os sintomas foram leves e me recuperei.
Tomem cuidado. Se previnam e evitem aglomerações por favor.
Amo vocês.
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De pé no convés do navio pude ver todo estrago causado pela tempestade. A vela havia sido reduzida a frangalhos. Boa parte da madeira tinha partes quebradas ou arranhadas em algum ponto. O mastro, por sorte, havia resistido ao pior dos ventos, mas uma parte chamuscada ao longo do seu comprimento provava que em algum momento um raio o havia atingido. No entanto, incrivelmente, não era a condição do navio que chamou minha atenção.

Era a fumaça

Nos aproximamos o suficiente da costa para vê-la a distância. Não parecia vir de nosso destino, Tervas, mas de um lugar mais distante. Vários focos de incêndio pareciam acontecer com poucos quilômetros de distância entre si, se aproximando do interior cada vez mais em direção a costa.

O que poderia estar causando isso?

Senti alguém se aproximando por trás.

- É a guerra - Lianof disse, seguindo meu olhar.

- Guerra?

- Terva, a cidade onde vamos, faz parte de Canor, eles estão em guerra a vários anos com seu vizinho Ikar, o que você vê são os incêndios das cidades tomadas.

Senti um calafrio com a informação.

- A fumaça está se aproximando.

Ele deu de ombros.

- Acho que Ikar planeja dominar e anexar Canor completamente. Eles estão se aproximando de fora até a costa. Em algum momento Tervas será conquistada também se a situação continuar assim.

- Então a cidade deve estar um caos.

Imaginei como estariam as pessoas sabendo que a guerra se aproximava da sua porta a cada momento. Deveriam estar em pânico.

Lianof soltou um riso de desdém.

- Dificilmente. Essa guerra dura muito tempo e ainda não chegou aqui. Talvez eventualmente, mas não dá pra saber ao certo. No fronte tudo é confuso. Num dia eles recuperam território, no outro perdem - Ele deu de ombros - as pessoas estão acostumadas. A guerra tem tanta chance de chegar a eles amanhã quanto ano que vem.

Que triste. Quão horrível é se acostumar com esse estado de constante incerteza?

Lianof olhou na minha direção.

- Se serve de consolo, a maioria das pessoas que podiam já migraram para outra região - ele fez uma careta - E Tervas já era um lugar perdido muito antes dessa guerra.

- O que você quer dizer com isso?

Ele me deu um olhar divertido, como se achasse minha ignorância uma fonte de entretenimento.

- Você verá.

***

Chegamos a Tervas pouco tempo depois.

Não havia cais para aportar, vários navios junto com barcos menores apenas se juntavam na enseada. Mas não foi aí que paramos. Nosso navio, por ser de pequeno porte ao que parecia, conseguia navegar tanto em mar aberto como em rios. Então embarcamos em um canal e seguimos para o interior da cidade por outro local.

Olhei para Lianof de forma indagativa conforma avançamos, mas ele apenas apontou para um dos navios. A vela havia sido rasgada, várias partes do navio foram deterioradas para quase além do reconhecimento. Mas não havia dividas. Aquele navio, ou o que sobrou dele, era de Morgradet. Nossos perseguidores haviam sobrevivido a tempestade também. Não fiz mais perguntas.

A herdeira do tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora