Capítulo 4

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   Todo o resto foi feito muito rápido, como prometido, todo o suprimento encontrado foi entregue aos herdeiros libertos, que partiram para o seu destino logo depois, me deixando sozinha com Lianof.

   - O que você tanto procura? - perguntei depois de passarmos pelo mesmo lugar cinco vezes seguidas.

   - Onde aqueles desgraçados a colocaram? - ele falou consigo mesmo, me ignorando.

   Desisti de perguntar e só o segui. 
  
   Agora que não estava mais presa notei que o que eu antes pensei ser um pequena caverna se mostrou maior do que o imaginado. Era composta por longos corredores iluminados por tochas que terminaram todos na prisão, fora isso havia pequenas habitações e umas poucas salas, que agora vasculhávamos uma a uma, procurando,sem muito sucesso, o que quer que ele estivesse atrás.

   - Não entramos nessa ainda - comentou ele, e entrou em uma sala suspeitosamente parecida com as demais.

   Não havia muitas coisas dentro dela, com exceção de uma mesa velha em que uma porção de documentos estavam amontoados e umas poucas cadeiras espalhadas, estava praticamente vazia.

   Um leve brilho refletindo algo na parede chamou minha atenção. Parecia uma lança . Muito maior do que eu e com uma aparência pesada, ela tinha longos arabescos que desenhavam ramos de hera ao longo do cabo, e na ponta da haste, uma lâmina de um só gume de aparência mortal brilhava afiada.

   - É uma glaive - comentou Lianof enquanto se aproximava e pegava a arma.

   - É isso que você estava procurando?

   - Sim, eles a pegaram quando me trouxeram pra dentro - notei que ele não falou prenderam, o que só confirmava minha suposição de que tudo fora um plano dele.

   - Qual o nome? - perguntei curiosamente.

   - Nome? - ele questionou, erguendo uma sobrancelha.

   - Grandes armas não tem um ?

   - Não achei um que soasse adequado, além do mais, onde eu cresci armas são apenas isso, dar nomes a elas como se fossem pessoas não é algo feito por lá.

   - E onde é este lugar?

   Ele só sorriu misteriosamente sem responder, e me perguntei onde ele tinha sido criado, que tipo de lugar deu origem a esse homem. Até onde se sabia, tudo sobre sua vida pessoal era um mistério, qualquer informação possível já era algo.

   Ele estreitou os olhos subitamente.

   - O que é isso?

   Acompanhei seu olhar e vi que estava olhando algo na parede atrás de mim. Ele se aproximou e enfiou os dedos em uma pequena abertura que eu não havia notado antes, puxando um objeto brilhante, uma coroa notei incrédula. A Minha coroa. Aquela que os guardas tinham pegado anteriormente.

   - Espertos - comentou ele - olhos menos treinados não teriam notado isso aqui.

   A coroa, uma tiara delicada cercada por pedras azuis e brancas, parecia deslocada naquela caverna escura, quase tão deslocada como eu mesma, como se fosse um elo do que eu precisava deixar para trás para cumprir minha missão.

   - Isso vai render um bom dinheiro.

   - Não! - exclamei antes que pudesse conter a mim mesma.

Ele me observou surpreso.

   - É sua?

   - Não...é só que... - tentei pensar em qualquer coisa que pudesse me ajudar no momento, se ele desconfiasse de algo... afastei o pensamento - Vai parecer suspeito de você aparecer com uma coroa a venda por aí.

A herdeira do tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora