Miguel tinha por hábito passar pela oficina mecânica de seu pai todos os dias antes de entrar em casa. Gastava alguns minutos conversando com Sr. Francisco, pois o considerava seu melhor amigo, seu confidente e quem melhor o compreendia.
— Oi, pai! Tudo bem?
— Oi, filho! Tudo! Como foi o seu dia hoje? — perguntou Sr. Francisco, com genuíno interesse, fechando o capô do carro no qual trabalhava e colocando as ferramentas de lado para ouvir seu filho.
— Hoje foi o dia mais estranho de toda a minha vida! — iniciou Miguel, ansioso para contar-lhe tudo, na esperança de que seu pai o pudesse ajudar.
— Como assim, Miguel? — Sr. Francisco indagou, puxando uma cadeira para que Miguel se sentasse. — Conte. O que aconteceu?
— Sabe a Giovanna, aquela jovem que havia sofrido ameaças de morte junto comigo?
— Sei. Lembro-me dela.
— A-acho que... que... — gaguejou e parou.
— Pode falar, filho! Não precisa se envergonhar. Não importa o que disser, estou aqui para ouvi-lo e tentar ajudá-lo — encorajou Sr. Francisco, tentando imaginar o que Miguel tinha a dizer.
— A-acho que estou apaixonado por ela, pai — disse Miguel, já corado de vergonha.
— Tudo bem, filho, isso não é um bicho de sete cabeças. Pelo que sei, ela é uma boa menina. E você também é um bom rapaz! A única coisa que te aconselho a fazer é não ter pressa, pois vocês são muito jovens, ainda têm muita coisa pela frente.
Miguel sentia-se feliz por seu pai não o recriminar, isso facilitava muito a comunicação entre eles. Mas será que ele acreditaria no que estava prestes a lhe contar? E, se acreditasse, teria condições de ajudá-lo? Bem, de uma coisa Miguel estava certo, seu pai nunca o desapontaria. Era a pessoa em quem mais confiava no mundo. Por isso, estava decidido a contar-lhe tudo.
— Mas, pai... Está acontecendo algo estranho comigo... Muito estranho... Eu flutuei por duas vezes enquanto estava ao lado dela. Na primeira vez, eu estava apenas a admirando. Na segunda, bastou ela segurar minha mão.
— É uma sensação inteiramente normal, filho. Quando conheci sua mãe, eu também me sentia assim. Estar com ela era como estar no paraíso. Aliás, ainda me sinto assim até hoje quando estou com sua mãe.
— O senhor não está entendendo... — interrompeu Miguel. — O que estou tentando dizer, é que isso aconteceu literalmente, pai!
— O quê?! Você quer dizer que flutuou de verdade? — perguntou Sr. Francisco, achando que não havia escutado direito.
— Isso mesmo, pai. Como eu disse, já aconteceu duas vezes. Na última, eu quase saí voando como um balão em direção ao céu. Por sorte havia uma árvore por perto, na qual pude me agarrar — explicou Miguel, enquanto observava a expressão de espanto no rosto de seu pai. — O senhor acredita em mim, não acredita?
Primeiro, Sr. Francisco riu, tentando imaginar seu filho voando feito um balão; parecia coisa de desenho animado. Depois ficou sério, pensando na tragédia que seria caso o efeito passasse enquanto Miguel estivesse a quilômetros de altitude.
— É muito estranho ouvir isso... Mas, sim, eu acredito, por mais incrível que possa parecer. Você nunca foi de mentir ou de inventar histórias, então imagino que esteja muito assustado com tudo isso. A adolescência costuma ser um período complicado, mas nem tanto... Pode ter certeza de que não está sozinho, Miguel! Vamos achar uma explicação para isso. E, talvez, uma forma de você se controlar, ok? — disse-lhe Sr. Francisco, repousando a mão em seu ombro.
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Na Frequência do Amor
General FictionMiguel dos Anjos é um jovem que, como qualquer outro adolescente tímido da sua idade, passa a maior parte de seu tempo no lar, lendo livros e quadrinhos, e que, quando dorme, tem sonhos estranhos onde voa prazerosamente pelos céus. Sua vida normal s...