Dona Márcia já não aguentava mais a espera. Fazia cerca de duas horas que Gabriel havia saído e nada de notícias dele também. Isso só aumentava sua aflição. Ficou sentada na varanda de casa, orando por eles enquanto aguardava impacientemente.
Mas, sua espera finalmente acabou quando ouviu o som de uma moto se aproximando, e dentro de alguns segundos, seu filho chegou com o pai montado na garupa.
— Francisco! Graças a Deus! — exclamou dona Márcia, levantando as mãos para o céu e correndo em direção ao portão para recebê-los. — Você está bem, meu amor? O que aconteceu? Por onde andou? Eu estava morrendo de preocupação... — inundou-o de perguntas.
— Me... desculpe... meu amor — Sr. Francisco falou pausadamente, sem encarar dona Márcia nos olhos. — Eu... estou bem. Só estou cansado... Muito cansado... Preciso dormir um pouco, querida.
— Mas... mas... O que aconteceu? — insistiu ela.
— Depois, querida... Depois lhe conto tudo — prometeu ele, segurando suas mãos com carinho.
Em seguida, caminhou para o quarto e encostou a porta. Do lado de fora, dona Márcia e Gabriel puderam ouvir o som abafado causado pelo impacto de seu corpo contra o colchão quando se jogou sobre a cama.
— Você sabe o que aconteceu, Gabriel?
— Os detalhes a senhora só vai saber se ele quiser falar a respeito depois, mamãe. Mas, pelo que o delegado me disse, parece que ele se livrou de vez daqueles que tentaram matar Miguel e Giovanna...
— O quê? O Francisco? Nã-não posso acreditar... E-ele é incapaz de matar até mesmo uma mosca! — observou dona Márcia.
— Eu sei, mãe. Também acho difícil de acreditar. Mas o delegado disse que o papai mesmo confessou. Fez isso para proteger a todos nós.
— Mas como? Ele não tem nem mesmo uma arma. O que ele fez?
— Acho que usou aquele invento dele... Lembra-se de como ele quase morreu quando aquele negócio explodiu? Então, ele fez de novo... Só que dessa vez com os bandidos dentro do carro — explicou Gabriel, segundo o que o delegado lhe havia contado na delegacia.
Dona Márcia ficou boquiaberta diante da declaração do filho. Nunca imaginaria que seu marido seria capaz de algo do tipo. Mas sabia que jamais faria isso por crueldade, tinha certeza que só fez o que fez por amor à família.
No dia seguinte, Sr. Francisco pôde contar para sua esposa, cabisbaixo, todos os detalhes. Ela ficou sentada ao seu lado em silêncio, segurando suas mãos enquanto escutava o marido narrar minuciosamente porque decidira fazer aquilo, o risco que correu ao entrar no território de Ronaldo, a maneira como o convenceu a fazer o teste com o carro, o momento em que voltou atrás e quis desistir de acabar com aqueles criminosos, e como foi deixado para trás e acabou sobrevivendo. Também contou como foi encontrado pela polícia próximo ao local da explosão e que confessou ter sido o autor da mesma. Por fim, explicou que o delegado, após ouvi-lo, decidiu deixá-lo responder em liberdade, por considerá-lo réu primário e por não ter fugido da cena do crime, mas confessado prontamente. Dr. Filipe lhe disse que ele pagaria sua dívida com a justiça de alguma forma, de acordo com que a lei determinasse. Neste ponto, Sr. Francisco se calou, indicando que não tinha mais nada a dizer. Sentia-se envergonhado diante de dona Márcia, imaginando quão decepcionada ela deveria estar com ele.
— Não fique assim, meu querido! Sei como deve estar se sentindo... E não se preocupe, não estou aqui para julgá-lo. Você cometeu um erro, mas continua sendo o mesmo homem bom e honesto que conheço. Eu sempre vou te amar e continuar ao seu lado, não importa o que aconteça. Enfrentaremos isso juntos, como sempre fizemos em todos esses anos de casados, está bem?
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Na Frequência do Amor
General FictionMiguel dos Anjos é um jovem que, como qualquer outro adolescente tímido da sua idade, passa a maior parte de seu tempo no lar, lendo livros e quadrinhos, e que, quando dorme, tem sonhos estranhos onde voa prazerosamente pelos céus. Sua vida normal s...