Capítulo 2

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Giovanna, apesar de ter passado por mudanças mais dramáticas do que Miguel, via as coisas de um prisma diferente. Sua atitude era mais positiva. No intervalo, foi para o pátio da escola e tentou se aproximar de outros alunos. Ela observou que a turma se dividia em grupos, e isso não dizia respeito apenas aos trabalhos escolares. Os jovens dos grupos andavam grudados o tempo todo, tanto dentro como fora da escola. As horas de lazer, é claro, também não ficavam de fora. Sempre que possível, faziam algo juntos. Os alunos de sua turma pareciam bem unidos, pois já se conheciam desde o ano anterior.

Giovanna queria se enturmar, mas reconheceu que levaria tempo até que a aceitassem como parte de um grupo. Apesar de serem gentis com ela, sempre davam um jeitinho de se retirarem sem a convidar, e ela acabava sozinha. Mas isso não afetava os seus ânimos. Ela dizia para si mesma que era só uma questão de tempo, até a conhecerem melhor. Com certeza encontraria o seu lugar. Portanto, não tendo mais ninguém ali com quem conversar, retornou para a sala de aula antes de findar o intervalo.

Quando entrou na sala, notou que o grandalhão da turma caminhava furtivamente em direção a um jovem sentado nos fundos. Não havia mais ninguém além deles ali. O rapaz estava cochilando com o rosto enfiado nos braços cruzados sobre a mesa. Giovanna previu que as intenções do brutamonte não eram boas, então tossiu, para que ele soubesse que estava sendo observado. Ele se assustou, voltando-se rapidamente para ela. Giovanna percebeu que ele segurava em uma das mãos uma bexiga cheia d'água. Sem dúvida alguma, ele era muito maldoso.

Fingindo não ter notado, Giovanna estendeu a mão para ele.

— Prazer... Meu nome é Giovanna. E você? Como se chama? — Giovanna se apresentou, forçando um sorriso para disfarçar.

Visivelmente aborrecido, o rapaz largou a bexiga d'água em cima de uma mesa, apanhou sua mochila, fechou o zíper e a colocou nas costas. Depois, lentamente se voltou para Giovanna, a qual ainda se encontrava com a mão estendida para ele.

— Júlio! — respondeu entredentes, desconfiando que ela houvesse visto algo que não devia, de modo que apertou sua mão com força, propositalmente, para intimidar. — Mas... se comentar com alguém sobre o que viu aqui, você não vai ficar nada feliz em ter me conhecido! — Júlio prosseguiu, dizendo em tom de ameaça.

O que Giovanna não tinha notado ainda, era que ele não estava se referindo ao que ia fazer com o dorminhoco. A preocupação de Júlio era com o conteúdo de sua mochila, que pouco antes se encontrava aberta sobre a mesa. Havia um monte de papelotes expostos, como pequenos envelopes brancos, alguns maiores e outros menores. Ninguém podia saber que carregava aquilo com ele. Aquela garota parecia ter visto algo, e poderia estragar seus negócios.

Inicialmente, Giovanna engoliu em seco. Não esperava aquela reação, pois não estava acostumada a presenciar esse tipo de comportamento na região de onde veio. Em geral, os rapazes de Laje do Muriaé eram cavalheiros e não batiam em garotas. No entanto, recobrou os ânimos em instantes e, esticando-se para encará-lo nos olhos, reagiu.

— Pois saiba que não me intimido com ameaças de valentões metidos a besta, não! Eu me chamo Giovanna Maia, fique me conhecendo desde já, seu mal-educado! — respondeu em alto volume, colocando-se na ponta dos pés para ficar cara a cara com ele, pois a diferença de tamanho entre os dois era grande.

Júlio, além de obeso, parecia um armário, de tão alto. Não era mais um simples adolescente, em breve faria vinte anos. Giovanna, porém, era de pequena estatura, parecia ter pouco mais de um metro e meio. Mas ela não se intimidava por isso. Naquele momento, achava justificável sua posição, por estar defendendo alguém em condição desfavorável. E se tinha uma coisa que ela não conseguia fazer, era ficar parada, ou em silêncio, quando via um ato de covardia contra um indefeso.

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