Princesa de Vidro

Capítulo 15

Acordei atrasada e o Anjo me esperava com uma carranca encostada na lousa.

Entrei e pedi desculpas.

— Graças ao rei não terei mais que lidar com você.

— Finalmente vai se aposentar? — perguntei, esperançosa.

Ela estalou a língua e começou a escrever enquanto eu me sentava.

— Não, o seu professor vai chegar semana que vem. E ele não é tão gentil quanto eu.

Céus, se o Anjo era gentil o novo professor era o próprio demônio.

— Tão ruim assim?

Ela apenas me lançou um sorrisinho cruel e quase a implorei para que ficasse.

Depois da aula percorri os corredores e vi o rei conversando com um dos guardas.

— Mande uma carta para o exercito C agir imediatamente. Essas revoltas em Cychod devem ser interrompidas, a qualquer custo.

Exército C? Revoltas no reino da Pietra?

Seria por causa da negligência do rei? E pôr que o nosso reino estava agindo?

— Sim, majestade. Com sua licença — ele fez uma reverência e saiu.

Tive que fingir não ter ouvido e tentei passar o mais despercebida pelo corredor, afinal ele estava entre a minha saída.

Seus olhos azuis me viram e ele me encarou e fiz uma reverência mantendo a cabeça baixa.

— Majestade — torci para que minha voz não saísse tremida. Ele era intimidade.

— Ainda não foi eliminada — disse e não era uma pergunta. — Mesmo quando duas princesas já se foram. Me faz pensar no que você fez, e talvez ainda faça, para continuar aqui.

Não ousei encara-lo, nem mesmo quando ele sugeriu que eu estava fazendo algo com o príncipe.

Esse tipo de rumor surgiria e eu sabia disso. Quanto mais tempo ficasse, mais aumentaria.

— Perdão, majestade eu devo voltar ao quarto agora.

Seus olhos quase sem vida ganharam um brilho fraco. Ele sabia que o quarto não era meu e não havia fundamento em denomina-lo assim.

Levantei a cabeça e me virei, mas sua voz me fez parar.

— Seja lá, quais forem seus truques para ter ficado aqui todo esse tempo eu sugiro que de um fim nele. Não ganhará nada ficando aqui e eu só terei que lidar com outro problema.

Outro.

Seria a outra plebéia? Ele sabia sobre algo?

Minha cabeça ferveu, cada vez que descobria algo mais perguntas eu tinha e as respostas estavam fugindo do meu alcance.

— Obrigada pelo conselho, vossa majestade - disse sabendo que não era um conselho.

Era um aviso.

Continuei andando até ter certeza que ele não conseguia mais me ver e me apoiei na parede com as pernas bambas.

Sufocante, era extremamente sufocante ficar na sua presença. Como se algo ruim estivesse ao seu redor, uma presença maligna.

Quando me senti mais composta fui até o quarto e Amália estava ajeitando os vestidos e resolvi fazer algo para me distrair. Eram tantas coisas para assimilar, tantos suspeitos que eu não sabia o que fazer.