Capítulo 45

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O corredor estava silencioso. Damien me deu uma capa com gorro e a coloquei escondendo meu cabelo e rosto. Não deixei que visse meu machucado, e mesmo que tivesse, não comentou nada.

Seu aperto de mão era forte e macio, me mantive próxima a ele com alguns centímetros nos distanciando.

— Damien, obrigada — sussurrei e ele me olhou de esgueira. Sua expressão era como se perguntasse pelo quê o agradecimento. — Por estar me salvando e por ficar ao meu lado. Mesmo depois de tudo que causamos um ao outro.

Ele voltou a olhar para frente e apertou levemente minha mão.

Não disse nada, talvez por medo de acabarmos brigando e estragando o plano.

Revirei os olhos sabendo que era bem possível, afinal ele sempre foi cauteloso, desde que o conheço. E não o perdoei, na realidade queria jogar isso constantemente na sua cara.

Enquanto caminhávamos sempre olhavamos para cada corredor conferindo se não havia guardas rondando. Já era três da manhã e todos deveriam estar dormindo.

Naquele silêncio pensei sobre o que faríamos depois, se conseguíssemos fugir. Não tínhamos dinheiro, havia só o que juntei com essa maldita competição.

Clarissa me prometeu que eu tinha dinheiro na conta, não a vi depois de ser trancafiada e esperava que estivesse bem. Teríamos que passar no banco e depois pegar sua irmã Mad em casa e embarcar em um dos navios e construir uma vida longe desse reino.

Isso não me faria o perdoar ou voltar com ele. Mas ele ainda era meu amigo, meu único amigo, já que não sabia onde Edward estava e porque Ivna o sequestrou.

Não havia motivos para ir até minha casa, minha. Nunca foi e nunca seria.

Porém mesmo assim eu gostaria de falar com ele, perguntar sobre minha verdadeira mãe. Ele me devia isto. Era o mínimo que podia me dar.

Uma parte de mim temia, pois talvez ela estivesse viva em algum lugar.

Pensei na promessa que fiz a rainha e da adaga que ainda estava na masmorra em baixo do travesseiro.

Uma promessa que eu não poderia cumprir, mas faria outra. Iria viver longe o bastante de Mountsin e de Leon. Nem que para isso precisasse ficar fugindo constantemente, eu o faria.

Envelheceria e depois morreria de alguma doença de velho, isso se eu pudesse envelhecer.

Esperava que sim.

Não podia arrastar Damien e sua irmã comigo, mas sabia que ele viria junto. Por mim, ele iria. Porque apesar de tudo que me fez, as mentiras e traições, foi para me salvar.

Não poderia perdoar, mas podia aceitar em partes.

Passamos por um corredor estranho.

— Onde estamos indo? — perguntei baixinho.

Ele balançou a cabeça e colocou o dedo nos lábios em sinal de silêncio, obedeci.

Vi uma porta que me lembrava vagamente a sala do espelho.

Lembrei das imagens que ele me mostrou e que algumas se realizaram. Tantas imagens embaralhadas preencheram minha mente e tentei lembrar de alguma de forma concisa, só que eram tão confusas. Foi a tanto tempo.

Fiquei nesse castelo durante meses e mal sabia o fim que tudo levaria. Porém eu tinha recebido tantos avisos, a plebéia, o rei, a rainha, Lucyus, Imyir e até Amália me avisaram. Eu não ouvi e me condenei.

Apertei mais a mão de Damien. Ao menos ele veio me salvar, me ajudar. Porque era o que fazíamos quando um se metia em confusão, o outro ajudava.

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