Capítulo 1

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Abri os olhos naquela manhã e já senti o peso da minha vida sobre mim. Na verdade o peso era meu marido com as pernas jogadas sobre meu corpo e todo espalhado sobre nossa cama. Ver aquela cena foi como sentir, mais uma vez, um balde de água sobre minha cabeça.

Olhei para o lado e, inevitavelmente, um sorriso apareceu em meus lábios ao ver a imagem de meu filho, tão inocente, dormindo agarrado ao seu cavalinho de pelúcia. É por ele que me levanto todos os dias, pelo meu filho, pois ele me dá a força para continuar, mesmo diante de tantos desafios.

Com cuidado, retiro a perna do meu marido de cima de mim, que resmunga um pouco, mas logo se vira e continua dormindo, saio da cama e vou para o banheiro. Olho para o relógio e são pouco mais das 06:00, hora certa de estar de pé.

Faço meu asseio matinal e, ao me olhar no espelho consigo ver minhas olheiras e meu cabelo em desalinho, suspiro pesadamente.

Vou para a cozinha e começo o meu dia de labores. Daqui a pouco preciso levar Gabriel para a creche e depois, mais uma vez só essa semana, sair distribuindo currículos por aí.

Infelizmente estou desempregada, mais uma para as estatísticas do governo, e tenho um filho pequeno para criar, então preciso me recolocar o mais rápido possível.

Passo um café fresquinho, esquento um pouco de leite e... droga! Não tem pão! Preciso correr para comprar, antes de dar a hora para acordar meu filho. Visto uma roupa rapidamente, vou até minha bolsa e pego uns poucos trocados que ainda tenho e saio apressadamente.

Assim que alcanço a rua, dou de cara com Isabel, minha cunhada, chegando em casa provavelmente de mais um plantão no hospital onde ela trabalha.

- Bom dia Paola! - Fala me cumprimentando animadamente.

- Bom dia Isabel, chegando agora do trabalho? - Perguntei sorridente.

- Sim! Estou morrendo de cansaço, vou tentar dormir um pouco. - Respondeu fazendo uma careta engraçada. - Vai aonde agora tão cedo?

- Vou na padaria, preciso comprar pão para o café.

Isabel faz uma cara de preocupada e se aproxima um pouco de mim. - Precisa de ajuda para comprar algo? - Pergunta baixinho.

Isabel sabe das minhas dificuldades financeiras e sempre foi minha amiga e parceira para todos os momentos. Ela sabe que nossa situação não está fácil e, por isso, faz de tudo para me ajudar.

- Obrigada Isabel. - Agradeci. - Eu tenho um pouco aqui. - Respondi de maneira cortês.

- Tudo bem, mas se precisar não fique com vergonha de me falar, entendeu?

- Eu sei, mais uma vez obrigada. Agora me deixa ir porque daqui a pouco tenho que acordar o Gabriel.

- Tá bom, vai lá.

Nos despedimos com dois beijos e segui meu caminho até uma venda pequena que havia ali naquela rua há anos. Compro o pão e volto correndo para casa, estou com o horário apertado agora, mas não vou me desesperar.

Chego em casa, coloco os pães na mesa e sigo para o quarto. Ao chegar a imagem não havia mudado muito. Meu marido continua dormindo junto à Gabriel. Aproximo-me cautelosamente de meu filho e faço carinho em seus cabelos, o que o faz se mexer.

- Bom dia meu amor! - Falo com voz baixa. - Tá na hora de acordar.

Gabriel resmunga um pouquinho e esfrega os olhinhos tentando abri-los. Vê-lo assim é a minha alegria. Ele significa tudo para mim, pois, tudo que passei e que deixei de ter, foi por conta dele e, posso dizer sem hesitar um segundo, faria tudo de novo se ao final o visse abrir os olhos assim todas as manhãs.

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora