Ficar aqui com Alexis estava sendo um desafio. Eu apenas ia trabalhar duas vezes na semana em meu consultório, odiava deixa-la sozinha. Na primeira semana fiquei preocupado que ela cometesse uma loucura, mas graças a Deus ela ficou bem. Quer dizer, bem não é exatamente a definição do que ela se encontra agora. Se me permite dizer, ela está literalmente, no fundo do poço. Eu queria poder jogar uma escada, uma corda ou apenas estender a minha mão e puxá-la de lá.
O problema da maioria dessas pessoas é que quando elas não querem ser ajudadas, não importa o esforço que você faça. Elas irão continuar lá. Definhando. Sozinhas.
De qualquer forma, eu não a conheço tão bem assim. O nosso quase beijo no parque, foi o auge do meu mês, confesso. Sei que ela ama o tal bilionário, mas um homem pode sonhar, afinal. Sabe quando você vê a mesma pessoa, todos os dias, mas não consegue notar as mudanças sutis dela, porque está com ela sempre? Mas aí quando você deixa de ver essa mesma pessoa durante alguns meses ou anos, mas quando se encontram consegue ver se ele engordou ou se o cabelo está diferente ou até mesmo outras mudanças?
Esse foi o meu erro com Alexis: eu não vi suas mudanças.
Todos os dias, ela levantava, brincava com o café da manhã e passava o dia todo sentada na varanda observando o mar. Com chuva ou com sol, lá estava ela, na cadeira de balanço, vestindo um dos moletons que eu fiz questão de comprar no Walmart só porque ela ameaçou usar a mesma roupa todos os dias. Nas duas primeiras semanas, ela só sabia chorar e eu entendi que seu apetite havia diminuído pela tristeza, isso é comum em várias pessoas. Sua febre havia cedido a muito custo, creio que ela me esconderia se voltasse, só para não me preocupar.
Mas como eu comentei antes, esse é o problema quando nós convivemos com uma pessoa diariamente: nós não conseguimos notar as mudanças.
- Você quer dar uma volta no centro comigo? – Perguntei, pela milésima vez. Estava escorado na porta da varanda e ela me olhou, com um sorriso forçado. Ela segurou o celular descartável com força, como se tivesse alguma resposta ali e que ela não pudesse deixa-la escapar. Franzi o cenho.
- Obrigada, eu passo dessa vez. – Ela voltou a olhar o horizonte, totalmente perdida. Eu suspirei.
- Você tem passado todas as vezes, Lex. Precisa sair um pouco dessa casa, isso não faz bem pra você. – Falei, gentilmente. Ela colocou uma mexa do cabelo atrás da orelha, toda delicada. Eu quis puxá-la para os meus braços e não a soltar mais.
- Você quer que eu vá embora? – Murmurou e voltou a olhar pra mim, com os olhos úmidos. Passei a mão pelo rosto, cansado.
Tinha sido assim, todas as vezes que eu sugeria que ela fizesse algo fora de casa, ela pensava que eu não a queria ali.
- Por Deus, não vamos ter essa conversa novamente. Já disse que você pode ficar aqui o tempo que precisar, não disse? – Me aproximei e me ajoelhei, acariciando seu braço. Ela apenas assentiu. – Porque não vamos fazer um lanche? Hoje você não tomou café, eu vi. – Impliquei e ela mordeu o lábio, com a cara de quem acabou de ser pega fazendo algo errado.
- Eu estou sem fome. – Respondeu. Essa era sua resposta, todas as vezes. Até ai não pensava que existia algo estranho. Ela havia emagrecido, mas não se percebia tanto pelo moletom folgado que estava sempre usando.
Eu iria rebater, mas meu celular tocou e eu atendi por alguns minutos.
- O hospital precisa de mim, uma consulta de urgência. - Eu olhei para Alexis, pensando se seria ruim se a deixasse sozinha.
- Pode ir, eu vou ficar bem. Prometo não tentar me matar ou algo assim... – Dessa vez ela deu um sorriso de canto, já era alguma coisa.
- Talvez eu tenha que ficar mais de uma semana fora. Tem certeza? – Perguntei, indeciso. Ela assentiu, então eu me levantei.
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Uma Babá em Minha Vida
RomanceOliver Hall era o CEO de uma grande companhia de aplicativos em Manhattan. Fizera sua fortuna trabalhando duro e depois de ficar viúvo, precisava de alguém disponível para cuidar da sua filhinha de seis meses. Alexis era uma jovem, sonhadora e opor...