1 - Oliver/Alexis

42.3K 2K 255
                                    

Oliver

- Maria, eu simplesmente não sei mais o que fazer! Ninguém quer ficar disponível 24 horas por dia e nem fazer tantas viagens como eu preciso. E agora? Eu estou perdido! – me deixei cair na cadeira do escritório passando as mãos pelo meu cabelo.

Frustrado. Essa é a palavra que me descreve agora. Totalmente, completamente e incondicionalmente frustrado. Ninguém quer ficar nesse emprego, todos acham a Faith, minha filha de 6 meses é uma linda bebê mas... sempre tem o mas... elas tem filhos, gato, cachorro, papagaio, etc e nunca podem ficar ou viajar constantemente comigo. Simplesmente não posso ficar longe da minha filha, ela é a única coisa que me restou do amor da minha vida, Valentine.

Soltando um suspiro, aperto a ponte do nariz e olho pra Maria, minha fiel escudeira. Maria foi a primeira pessoa que contratei quando eu comecei a ganhar um bom dinheiro e comprei minha primeira cobertura, ela é como uma mãe pra mim, sempre disposta a ajudar mas infelizmente seus afazeres domésticos e sua idade a impossibilitam de cuidar de uma criança tão pequena.

- Não tenho outra escolha, nenhuma agencia dessa merda de cidade tem uma babá pra me oferecer então... vou colocar o anuncio no jornal! – me levantei da cadeira, colocando uma mão no bolso da calça e a outra peguei o porta retrato em cima da minha mesa com a foto de Val, Deus como eu sentia falta dela! – O que você acha Má?

- Eu acho com todo o respeito que o senhor ficou louco senhor Oliver – ela cruzou os braços e me olhava com fogo saindo dos olhos – Você sabe quanta gente maluca existe nessa cidade? Eu não vou deixar minha menininha com qualquer um, já vou te avisando! – ela olhou pro lado, emburrada como uma criança e eu sorri indo até ela, peguei suas mãos e apertei com carinho.

- Má, olha pra mim – ela me olhou ainda emburrada, quem diria que uma senhora tão vivida ainda teria esse tipo de crise, segurando o riso tentei me manter sério – Eu vou pessoalmente fazer a entrevista com as candidatas e vou mandar fazer uma busca sobre a vida de cada uma ok? E quanto a segurança da Faith não se preocupe, irão ter câmeras todo o tempo então ninguém poderá machuca-la, está bom assim?

Ela fungou e olhou pra mim do canto do olho, abri meu melhor sorriso e a abracei. – Eu só quero que a tratem como ela merece, a pobrezinha já não tem mãe, eu só fico preocupada. Ela é como se fosse minha netinha, vocês são tudo que eu tenho. – passei a mão pelos cabelos dela com carinho, ela e Faith também eram tudo que eu tinha.

- E agora senhorita, vamos conversar sobre você me chamando de "senhor Oliver..." – a olhei com uma sobrancelha levantada, tentando me fazer de bravo, mas a levantei do chão e a rodopiei rindo, levei uns belos tapas por isso e caramba... ela ainda era forte!

- Niño atrevido, sueltame! – após deixá-la no chão, ela passou a mão pela minha barba e seguiu para fora do escritório.

Alexis

Eu corria pelo Central Park até meus pulmões começarem a doer e sentir minhas pernas tão moles quanto gelatina. Eu não me cansava tão fácil, afinal aquela era minha rotina todos os dias, faça chuva ou faça sol eu estava ali. Com meu ipod quase no último volume, a voz da Pink soava em meus ouvidos dizendo pra mim:

"Mal tratada, deslocada, mal compreendida. Senhorita "de jeito nenhum, está tudo bem". Isso não me fez ir devagar. Equivocada, sempre antecipando as coisas. Subestimada, olhe, ainda estou por perto."

Então eu corri mais, corri até as lágrimas começarem a embaçar minha visão e então eu parei e apoiei minhas mãos em meus joelhos, respirando rápido e forte. As minhas cicatrizes internas latejavam, meu coração iria sair pela boca. Só que eu precisava disso, por isso eu não deixava de correr, era minha válvula de escape.

"Por favor, por favorzinho, nunca, nunca se sinta como se fosse menos que perfeita. Por favor, por favorzinho, se você já sentiu, já sentiu que era nada, você é perfeita pra mim..."

Mordi meu lábio e olhei pro céu, estava totalmente nublado. Eu sei que as pessoas que passavam por mim estavam achando que eu perdi totalmente o juízo, mas tanto faz, elas não me conhecem mesmo e eu sei que a maioria eu nunca verei mais de uma vez. Isso é New York, baby. Agora com minha respiração voltando ao normal, eu limpei meu rosto e caminhei até um banco que dava pra frente do lago. Abracei minhas pernas em cima do banco e observei uma família que dava comida para os patos. Uma mãe, um pai e um casal de filhos. Tem pessoas que tem sorte e tem pessoas como eu. Que simplesmente não tem ninguém, aliás, não posso mentir. Se não fosse minha melhor amiga Denise eu já estaria não na fossa, porque nisso eu já estou, eu estaria por debaixo da fossa (onde realmente é meu lugar).

Eu não sou uma pessoa má, não me intenda mal, mas eu realmente gosto de coisas luxuosas. Sapatos, bolsas, joias e roupas, eu simplesmente adoro esse mundo e eu sei que sou linda. Não há um homem que não repare quando eu passo, mesmo que eu esteja usando jeans e camiseta. E mesmo que eu goste disso tudo eu nunca, nunca mesmo, disse pra alguém que eu sonho em ter uma família. Afinal, com a mãe e o pai que eu tive não pode se dizer que eram realmente uma família mas mesmo assim eu virei acompanhante de luxo pra poder bancar as despesas médicas dos dois. Eu não me arrependo, mas o pior de tudo é sair dessa vida. Eu não tenho mais nada além de beleza e isso dói.

Eu não quero me casar com um velho caindo aos pedaços simplesmente pela fortuna deles, quero alguém que realmente me ame e cuide de mim. Muitos já me ofereceram tudo pra se casar comigo, mas eu não sirvo pra ser uma esposa troféu. Não mesmo. Eu ganho muito bem e enquanto eu não me apaixonar fica tudo certo.

Me levanto do banco, guardo meu ipod no bolso do moletom e vou em direção ao metrô. Atualmente moro no Village, o que eu considero uma grande subida na vida, já que eu vim do Bronx e por ser de lá eu sei muito bem me virar sozinha. Eu me mudei somente depois que meus pais morreram, apesar dos dois não valerem nada eu não podia deixá-los sozinhos.

Chegando no metro, fiquei esperando-o até que vi meu reflexo em um painel. Deus, eu estava extremamente gorda! Me lembrei da minha adolescência e meus olhos ficaram momentaneamente nublados. Meus pensamentos voaram pra garota anoréxica de apenas 14 anos. Gemi comigo mesma, passando a mão pelo meu rosto até a ponta dos meus cabelos presos no meu rabo de cavalo. Da próxima vez eu faria o dobro da corrida, só pra garantir. Andei até a banca pra ver se tinha algo de interessante, mas o mesmo de sempre. Política, negócios, bolsa e blá blá blá. Comprei um jornal somente pelos quadrinhos, adorava ler Garfield e pela folha de esportes, que cidadão de Nova Iorque não seria fã dos Knicks?!

Entrei no vagão e me sentei. Hoje eu teria um evento importante com fazendeiro do Texas bilionário, precisava me preparar para o meu cliente. 

Uma Babá em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora