Capítulo 8

40 1 0
                                    


O dia estava com nuvens carregadas de chuva que cobriam o sol deixando as ruas escuras, o que fazia lembrar-me do sonho, meu coração começou a acelerar, entrei em pânico, escutei passos agudos atrás de mim, virei-me rapidamente e vi uma mulher com saltos finos andando esbeltamente, assim que ela passou por mim comecei a andar ao lado dela para me sentir mais segura, sua postura era ótima, ombros retos, peito estufado, pernas finas entrepassando uma pela outra, cabeça levantada como se fosse dona do mundo, seu vestido rodado azul marinho valorizava todas suas curvas desde sua cintura extremamente fina até seu quadril largo, seu cabelo longo e castanho não precisavam do sol para brilhar, sua bochecha e lábios eram rosados, sua pele perfeita sem nenhuma marca, seu olho era verde claro com cílios grandes e volumosos, me sentia péssima perto dela e me perguntava por que não podia ser assim.

Seu telefone começou a tocar.

– Alô? – Ela perguntou com a voz baixa.

– Como você é bobo. – Comecei a prestar atenção em sua voz, me parecia familiar.

– Estou indo trabalhar... Estou na rua. – Ela começou a dar risada e logo me lembrei da noite passada, era a mesma risada do telefone.

– Não posso Mateus. – Era ela, tinha certeza.

Cerrei meus punhos e olhei para baixo, meu corpo estava transbordando de ciúmes que acabara virando raiva, sem pensar me virei e a empurrei com força fazendo-a cair no chão, sai correndo a tempo de escuta-la gritar.

– Sua ruiva filha da puta. – Olhei rapidamente para trás ela estava caída no chão com o joelho ralado e sangrando.

Por um momento me senti péssima até pensei em voltar para me desculpar, mas logo esse sentimento passou. Corria pelas ruas desertas sem parar para respirar, estava tão alterada de raiva, sentia que iria explodir a qualquer momento, meu coração batia acelerado, desacelerei os passos ao avistar a porta do local onde trabalhava, as paredes de madeira e porta de vidro me faziam identifica-lo de longe, me acalmei e a abri, entrei e pus meu avental, cheguei até meu balcão de atendimento e me joguei no chão, algumas lagrimas escorreram de meus olhos, eu estava tão frustrada, meu coração ainda estava acelerado, eu não tinha forças para respirar, fechei os olhos e comecei a falar comigo mesma.

– Por que fiz aquilo?

– Eu não sou nada dele, ele pode fazer o que quiser.

– Eu sou tão estupida.

– Ele estava no telefone com ela, com certeza ela contou para ele. – Coloquei as minhas mãos em meu rosto e respirei fundo.

– Preciso me acalmar, eu sei que ele está me manipulando para agir assim, o jeito que ele me olha, como ele fala comigo me fazendo ficar confusa, suas ações, eu sei que esse é o joguinho dele, mas mesmo assim eu caio e me deixo levar.

– Como posso ser tão idiota?

Após alguns segundos deitada no chão ouvi a porta abrir e logo me pus em pé, comecei a passar a mão sobre a roupa para desamarrota-la, abri a torneira que ficava em frente a mim e lavei as mãos, liguei as máquinas de café às pressas e arrumando minha postura me pus em prontidão.

– Bom dia Carol. – Uma de minhas amigas se sentou nos bancos frente ao balcão.

– Oi Larissa. – Ela se apoiou no balcão e seu cabelo azul piscina cobriu todo seu rosto.

– Está cansada? – Ela deu uma pequena risada.

– Você nem imagina, precisei acordar mais cedo pois tive que ir ao médico. – Eu preparei uma xicara de café e a dei para ela.

– Ainda o problema com seu peso? – Ela passou a mão no rosto colocando seu cabelo atrás da orelha, deixando seus olhos âmbar a mostra.

– Sim. – Respondeu dando um longo suspiro.

– Eu já falei que você está ótima, pare de perder seu tempo se preocupando com coisas bobas. – Ela tomou todo o café de uma vez só.

– Você tem razão, eu sei que tem, mas é difícil. – Colocando a mão no rosto ela se levantou.

– Você vai trabalhar? – Perguntei enquanto limpava a xícara.

– Hoje não, estou de folga, na verdade como é sexta eu estava pensando em termos um fim de semana só nosso o que você acha? – Ela falava com tanta empolgação, me fazia sorrir.

– Como assim? Tipo sair por aí? – Ela sorriu e se aproximou saltitando.

– Eu já tenho um plano! – Me aproximei para ouvi-la atentamente.

– Hoje vamos ao parque, apreciar a natureza, depois faremos uma festa do pijama na minha casa, amanhã vamos sair para curtir a noite e domingo ficamos mofando em casa, o que acha? – Seus olhos brilhavam enquanto ela falava, era tão fofa parecia ter saído de um anime.

Saia de prega preta, meias longas que passavam do joelho, uma blusa rosa de ursinho, tênis preto envernizado, cabelo colorido e bochechas rosadas, ela era baixa e magra, tinha vontade de aperta-la todas as vezes que a via.

– Tudo bem acho que vai ser legal. – Ela abriu um grande sorriso.

– Já faz tempo que não me divirto. – Enquanto ela pulava loucamente de felicidade eu apenas dava risada e limpava o balcão.

– Então está certo, vou fazer algumas coisas agora, mas volto antes do seu turno acabar.

– Tudo bem, se cuida. – Sorri.

– Bye bye. – Ela saiu saltitando pela porta.

Assim que ela passou pelas portas de vidro me joguei em cima do balcão de madeira respirando fundo.

– Acho que isso pode ser legal, afinal já faz muito tempo que não tiro um tempo para conversar com alguém. – Falo para mim mesma.

A porta se abre novamente e meu dia começa.

AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora