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Passava de 3h da madrugada quando Melissa se aproximava do prédio onde morava e, mais uma vez, ela vinha sozinha. Até tentou conseguir alguma companhia, mas ficou na tentativa. Na boate, apenas um homem de meia idade se interessou mas, depois de algumas doses de bebida, ele a deixou.

No caminho de volta para casa ela também tentou encontrar um interessado pelas ruas, mas só viu mendigos, bêbados e drogados.

Já via o seu apartamento quando bebericou no gargalo de uma garrava de conhaque que conseguiu comprar com os únicos 10 dólares que ganhou durante a noite. O dinheiro fora colocado em sua calcinha enquanto apresentava a sua performance. Conhaque não era a sua bebida favorita, mas serviria para aquecer do frio atípico. Deu outro gole, esse maior, e sentiu o líquido descer ardente por sua garganta. Ela começava a ficar tonta, mas não a ponto de comprometer o seu equilíbrio. Apenas a deixava mais reflexiva sobre aqueles últimos meses.

— Porcaria!

Melissa já havia passado por momentos ruins, mas não como aqueles. Não entendia o que estava acontecendo. Ela dançava, trocava de roupas, tentava outros números, mas nada de melhoria.

"Onde estarei errando?"

E como essa dúvida ela não saciaria por agora, resolveu pensar em problemas mais imediatos: aluguel, telefone, gás, luz. Até porque ela via o dinheiro cada vez mais escasso. Mas havia uma certeza: não queria trabalhar em um emprego formal.

"De jeito maneira."

Conhecidas dela, que se prostituíam, tiravam em uma noite o valor que muitos trabalhavam meses para conseguir.

"É isso o que eu quero."

Durante a caminhada, Melissa juntou as mãos em uma prece e pediu:

— Minha santa Margarida, me ajuda por favor!

Talvez a oração tenha sido ouvida. Talvez.

BOIN - Amor das ProfundezasOnde histórias criam vida. Descubra agora