— Preciso ir.
— Para onde? Já não há mais em ti a chancela da obrigatoriedade.
Ela coçou o ombro ao sentir uma leve trepidação quando o nível de energia da estrela diminuiu. Aquilo a fez se lembrar automaticamente de Pedro.
— Eu sei, mas realmente preciso ir.
Eles se entreolharam achando estranha a atitude.
— Mas vai levar tudo isso? — Saetele apontou para a bolsa preocupado com a preservação dos itens.
— Não haverá tanto problema. — Brashollais se interpôs — A bolsa camufla totalmente os objetos em seu interior. [ALAIDEL]
E ela começou a recolher os itens sobre o balcão.
— No mais, não existe um serviço de guarda de valores para nós. — Falou Saetele.
As palavras deram uma ideia para o dono do local, mas ainda a analisaria com calma.
— Tudo bem! Mas volte com mais tempo para que possamos te passar as informações de cada peça.
— Passar? — Ela ficou curiosa.
— Sim! O tempo em que elas ficaram sobre o balcão, foi suficiente para que ele extraísse os dados, o problema é que como estamos nos organizando, retiramos a impressora e não tenho como te entregar uma lista.
— Uau! Vocês são profissionais mesmo, heim?!
Brasholais sorriu da constatação, mas nada falou. E observaram ela desaparecer diante deles.
A materialização foi dentro do armário da sala de Pedro. Mais precisamente atrás de uma porta que ficava ao lado da janela. A diminuição de sua energia estancou pelo simples fato de estar ali, então um benfazejo percorreu-a dos cabelos até a ponta angular de sua cauda. Ela sorriu. Atravessando a madeira da porta, apenas com o rosto, ela viu o apartamento vazio e então saiu do cubículo. Um pensamento rondava sua cabeça:
"Onde colocarei essa bolsa?"
E agora ia de um lado para o outro, tentando achar um local que lhe inspirasse confiança. Até que parou diante da porta trancada. Era o quarto ao qual o rapaz trancou várias coisas que não usava. Ao entrar, num canto, viu outro armário. Esse era pouco menor que o primeiro e, o fundo, ficava conectado ao quarto dele.
"Pode servir."
Entrando nesse local, encontrou uma prateleira bem acima das demais, e vazia. Ali depositou a bolsa. Observando com mais calma, viu que também poderia ficar ali, já que não tinha mais obrigações de retornar para o Inferno. Só precisaria montar guarda para testar a segurança para seus pertences. Raciocinava tudo isso quando sentiu nova onda de energia lhe atingir com mais força. Buscou ignorar, mas ela era deliciosamente tentadora, e a entidade caminhou lentamente para o quarto do rapaz. Ali dentro o encontrou dormindo.
"ACESSO NEGADO!"
Ele ouviu nitidamente a frase que, mesmo sendo um alerta, lhe trouxe alguma calma. Pedro abriu os olhos quando seus pés tocaram o chão. À sua frente a torre se mostrava idêntica à que vira na parte de baixo, mudando apenas que, agora, conseguia ver o seu final. Ele olhou para a sua direita sentindo que os ares ali eram diferentes. Eles evocavam um misto de santidade e majestade, como se, no próprio ar, flutuasse poder. O lugar era amplo. Numa quantidade imensa de planaltos, desfiladeiros, montanhas, ilhas, e tantas outras coisas que deslumbravam o coração do rapaz. Ele não conseguia se mover, apenas admirar as cores, os relevos, os tamanhos. Uma lágrima brotou e pingou no chão. Então um clarão muito intenso veio por suas costas, refletiu nos vidros da torre e veio sobre ele que se manteve na mesma posição, tentando em vão proteger os olhos com as mãos. O rapaz caiu prostrado e assim ficou por um tempo, até que a claridade diminuiu e ele conseguiu olhar para a origem, vendo, muito muito distante, algo que agora chamava pelo seu nome.
Sem fazer qualquer movimento ou sem tecer qualquer pensamento, Pedro sentiu nova leveza e foi suspenso aos céus, sendo levado naquela direção. No caminho pode admirar nuvens imensas, de cores variadas: lilás, laranja, amarelo, rosa, e todas bem vívidas. Tudo tão perfeito, tudo tão belo. E o desejo que tinha agora, era o de permanecer ali para todo o sempre.
Já para ela a subida foi longa e difícil. Até porque suas asas atrofiaram pela falta de uso, então precisou escalar, com bastante dificuldade, através dos vidros da torre. Foi assim que ela também chegou na desembocadura onde Pedro estivera há pouco. Ao se levantar, a micro poça formada pela lágrima, chamou-lhe a atenção, pois tinha brilho próprio. Se aproximou cheirando e em seguida a lambeu, revelando um sabor extraordinário. Viu de imediato mais uma de suas estrelas se encher e desejou mais. Olhou para os lados na tentativa de localizá-lo, mas não. Tentou rastreá-lo através de pegadas, mas não as achou. Farejou, mas não havia qualquer essência que denunciasse a direção onde ele estaria. Logo, a dedução veio rápida e passou a observar o céu. Assim o viu, seguindo à frente, porém subindo cada vez mais. Sem a possibilidade de fazer o mesmo, ela apenas correu na mesma direção contudo, ele ganhou altura e se perdeu em meio à densas nuvens brancas. Foi ali que a criatura viu, pela segunda vez na sua existência, aquele lugar tão separado. Ela sentiu uma repelência muito forte e isso a obrigou a recuar, recuar sem o seu prêmio.
Naquele momento Pedro atravessava por entre as nuvens que agora se tornavam neblina e, após novo formigamento no corpo, viu a névoa se dissipar, revelando a vastidão daquele novo local. Era como se todas as paredes fossem extensões do universo e, ao fundo, ele viu os grandes pilares, mas não sabia o que representavam. Com paz transbordante em seu coração, Pedro tocou o chão, se sentou, fechou os olhos e acordou.
[Santodos Santos]
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BOIN - Amor das Profundezas
Roman d'amourMissões, missões, missões. Boin se entediava, tanto com o tempo gasto, como com o seu papel nelas. Por isso que nelas, buscava se distrair de todas as formas, mas nem sempre conseguia. É quando conhece Pedro. Não! Espera... Ela não conhece Pedro, el...