Pedro acordou de supetão por causa do sonho incômodo. Estava um pouco suado e ofegante, mas respirou fundo e logo se restabeleceu. Então olhou no relógio.
"2 horas."
Acendeu a luz do abajur, ao lado da cama, e se levantou. A inquietação daquele momento era o frio que sentia demais, até porque dormia apenas de short. Passou a mão nos braços tentando esquentá-los.
"Na volta eu pego uma coberta."
A parte do corpo que estava mais quente era o volume embaixo da única peça, fazendo ela parecer uma barraca.
"Ai. Ai."
Foi à cozinha, bebeu um copo com água e retornou ao quarto. Da porta, se dirigiu até o armário e pegou um grosso cobertor. Perto da cama o abriu e lançou sobre o lençol. Até pensou em vestir a camiseta do pijama, mas não gostava mesmo, e imaginava que o cobertor resolveria. Deitou-se, apagou o abajur e se cobriu. Tentou arrumar uma posição para que o volume não o incomodasse. Mas tudo aquilo estava estranho. Parecia que agora ficara mais frio ainda. Virou-se para um lado, depois para o outro, ficou em posição fetal. E nada fazia subir a temperatura. A impressão que tinha é que havia um condicionador de ar ligado debaixo das cobertas.
"Putz! Deve tá nevando lá fora."
Para piorar, no silêncio do quarto, parecia que um som reverberava vindo de algum lugar que ele não conseguia precisar.
"Como esses vizinhos conseguem ser tão barulhentos nesse horário? Deus amado!"
Professou no instante em que ouviu o barulho de algo que se assemelhava a um ronco, mas muito grave mesmo.
"Diabos!"
Talvez fosse a melhor expressão.
Na raiva apertou o membro sentindo a ereção.
Pedro virou-se para o outro lado, descobrindo a cabeça e, mesmo com a escuridão, teve a impressão de ver alguma coisa rosada, como se tivesse brilho próprio. Pouco impressionado, e contido, fixou o olhar naquelas formas cada vez mais nítidas à meia distância. Tentando ver melhor, ascendeu a luz do abajur, mas ela não parecia clarear tanto. Não naquele ponto. Forçando as vistas, começou a ver a silhueta de algo que estava bem próximo dos seus pés. Um calafrio percorreu seu corpo e o medo avançou sobre sua mente. Teve um vago pensamento de buscar proteção, mas não conseguiu traduzir isso em ação. Agarrava o cobertor quando o pavor, gradualmente, lhe tomava. Então veio o desejo de fuga, mas quando olhou para a porta e voltou o olhar para aquilo, viu duas grandes e arredondadas íris rosas, flutuando em globos oculares totalmente pretos. Elas focavam ele e, por um breve instante, o hipnotizaram. No momento seguinte ele sentiu o frio da morte em seu coração, o medo chegou à sua alma e um pensamento em sua mente:
"Assim será o meu fim?"
E se lançou para trás, contra a cabeceira da cama, tentando se proteger.
A criatura se mantinha imóvel, encarando-o também. Assim Pedro verificou que a pele daquele ser tinha marcas em alto relevo, talvez algum símbolo, e que era de um cinza profundo. Viu também que a coloração rosa-choque estava em pontos específicos: chifres, cílios, íris e boca.
Logo o seu coração palpitou ao ver a mão da criatura avançar sobre o colchão, agarrar a coberta e puxá-la sobre si. Pedro quase desmaiou enquanto descia da cama e se arrastava até se prensar entre a parede e o guarda-roupas. Queria chorar, queria gritar, mas não conseguia fazer nada disso. A simples respiração lhe era difícil.
Na cama, enrolada no cobertor, a criatura se sentou, depois se colocou de pé. Assim o rapaz observou-lhe os seios, a cintura, a cauda. Ela se espreguiçou e bocejou. O barulho desse bocejo fez os objetos sobre o criado mudo, tremerem. Pedro tapou os ouvidos tentando protegê-los enquanto o suor minava de sua testa e de suas axilas. Prensado contra a parede ele a forçava e, se pudesse, a arrebentaria para fugir. Sem dar atenção a ele a criatura respirou fundo e sentou-se no colchão, olhando tudo a volta. Coçou a cabeça próximo à base do chifre e, só então, ela percebeu que o rapaz não tirava os olhos dela.
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BOIN - Amor das Profundezas
RomanceMissões, missões, missões. Boin se entediava, tanto com o tempo gasto, como com o seu papel nelas. Por isso que nelas, buscava se distrair de todas as formas, mas nem sempre conseguia. É quando conhece Pedro. Não! Espera... Ela não conhece Pedro, el...