[Praias Brancas]

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Era o segundo equipamento que precisava de manutenção, e ainda faltavam os dois últimos.

"Poderia ter sido pior"

Ele olhou para o lado, vendo os quinze caixas eletrônicos. Até sorriu nesse momento.

— Vai demorar muito, Pedro?

O gerente do banco quase surgiu ao seu lado. Era a terceira vez que aparecia ali e fazia a mesma pergunta.

— Mais uns 30 minutos.

— Mas, Pedro, assim o expediente chega ao fim.

— Entendo, Jorge. Mas não há muito o que eu possa fazer. E te digo que vocês tiveram uma baita sorte. O raio não chegou a danificar as placas dos equipamentos. Apenas apagou alguns dados e posso recuperar.

— Isso não é nenhuma sorte.

— Ah não? Se uma placa dessas queima, eu tenho que fazer todo um processo para a substituição: retirar a placa, fazer os testes, levar a peça queimada para a empresa, trazer a peça nova de volta, fazer a instalação, fazer a configuração, atualizar e entregar. Coisa que deve levar, mais ou menos, duas horas por equipamento. Como foram dezoito caixas, multiplicando por dois...

— É... vendo por esse lado, acho que tivemos sorte.

— Mas justo na sexta-feira, e em dia de pagamento?!

— Veja pelo lado bom. Ainda hoje tudo estará pronto e, no final de semana, os saques estarão liberados.

— Ok. É o que temos pra hoje, não é?

— Certeza.

Às 20h Pedro terminou tudo. Na agência agora, apenas os seguranças, que abriram uma das portas para que ele saísse. O rapaz colocou todos os equipamentos no carro da empresa e saiu. Estava exausto.

Como técnico externo de manutenção, já teve dias melhores, principalmente quando a equipe era maior. As reformas no sistema bancário aumentaram a automação, gerando mais serviço. Em contra partida, houve mais desemprego, e a empresa onde trabalhava foi atingida, demitindo 50% do pessoal. Agora eram raros os dias em que não trabalhava ao menos 6 horas.

Em menos de 20 minutos estacionava o carro na garagem da empresa. Os relatórios de demandas já eram quase prontos, e ele apenas preenchia com a identificação do equipamento. A partir dali o sistema fazia toda a catalogação. Saiu da empresa faltando poucos minutos para às 21h. O ônibus para casa veio e a viagem de volta para casa foi rápida. Chegou no prédio às 20h52. Entrou no apartamento e correu para a cozinha. Aqueceu o resto de ontem da comida chinesa e a devorou em minutos. Yakisoba era um prato que ganhara o seu respeito recentemente, por isso comprava com certa frequência. Tomou um banho mais demorado e escovou os dentes. Antes das 22h se deitou e apagou.

O tronco da árvore era em gomos que, do chão, iniciavam grossos e subiam afinando, rumo as frondosas folhas espetadas. Por causa da forte claridade, estas folhas projetavam convidativa sombra sobre a areia. Não por cansaço, mas por admiração, Pedro estava sentado, deslumbrado com o que via à frente: num horizonte longínquo, as águas de um azul profundo, se confundiam com o azulado vívido de um céu tranquilo, onde nuvens brancas margeavam distantes, como se dissessem que não chegariam ali. Para Pedro era como se estivesse diante de uma pintura, uma obra de arte que, de tão perfeita, hipnotiza o espectador.

A brisa morna vinda do mar chegou até ele, fazendo-o desejar entrar naquela vastidão oceânica e apenas flutuar, deixando as águas o levarem para onde quisessem. Mas se conteve, e lançou o olhar para lugares mais próximos e divisou as ondas investindo sobre a areia.

"White Shores..."

Lembrou-se da frase lida em um livro, e aquilo lhe deu ainda mais prazer. As areias da praia eram de um branco tamanho que, por vezes, o confundia com neve. Olhando para a esquerda viu uma elevação rochosa recoberta pela vegetação de uma floresta nativa que tomava tudo por ali.

Pedro se levantou e desceu até a faixa litorânea, onde agora caminhava rente às águas, sentindo a areia morna a cada pisada em que o seu pé afundava. Então parou. Parou quando seus olhos encontraram rastros estranhos que, dá água, passavam pela areia e se perdiam pela vegetação. Ele olhou para a mata, como se procurasse alguma coisa diferente, mas não encontrou nada. Voltou o olhar para as marcas e não conseguiu compará-las a nada que já tivesse visto antes. Depois de algum tempo, as ignorou e deu continuidade em seu trajeto, rumo ao corpo montanhoso bem à frente. Chegando bem próximo de seu objetivo recostou-se em uma árvore, fechou os olhos, e acordou.

BOIN - Amor das ProfundezasOnde histórias criam vida. Descubra agora