VI

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Era escuro e assustador, e eu não conseguia respirar por causa da pressão. Os mínimos barulhos já me assustavam e me faziam dar alguns pulos, era tão asqueroso esse ambiente mesmo que eu não pudesse vê-lo. Era meu lugar de tortura, onde tudo que aconteceu em minha vida começa a passar em minha frente, o desprezo e abandono, as palavras e os machucados, as horas e os minutos ali trancada. Meu tórax pesa e minha respiração entrecortada, meus olhos não abrem com medo do escuro que esta dentro, meu corpo chacoalha, minha mente gira em forma de queda e eu acordo. 

O despertador finalmente resolveu tocar, não me importa o culpado dessa demora seja do tempo ou apenas mais uma das loucuras que estão tomando lugar em minha mente. Passo a mão no rosto tentando finalmente acordar por completo, observo todo o alojamento tomando ciência que estava vazio e apenas eu ainda estou dormindo. Respiro fundo tomando postura e me levanto em um salto, por mais que eu não esteja ansiosa para sair hoje a noite eu precisava, arrastando os pés vou parar no banheiro onde me banho rapidamente e logo coloco a farda do exercito. Minha franja sempre no mesmo lugar me permite ficar sozinha com meus pensamentos, saio do alojamento indo de encontro aos outros que estavam no campo de treino apenas esperando que os próximos jogos comessem, ou lutas, isso não era muito o que eu gostava de ver afinal não podia tirar sangue do "coleguinha" era contra as regras machucar gravemente seu adversário. As mãos nos bolsos e passos desleixados, me sentei na arquibancada esperando os próximos nomes serem chamados pois sabia que o meu não seria.  Todos os jogos eles jogavam um papel fora e esse papel continha o meu nome. Digamos que depois do incidente do primeiro ano eles resolveram me manter longe de qualquer atrito contra outro aluno. As lutas costumavam ser tediantes e vários saiam machucados mas nada muito grave por que quem tivesse a ousadia de fazer isso iria passar a noite inteira no arsenal limpando as armas. Até meus irmãos e Ermet lutaram e eu apenas assisti, vi que eles estavam se segurando o máximo possível para não matarem seus oponentes. Algumas garotas também lutaram e acabaram saindo quase carecas dali, algumas lutas eram realmente vergonhosas de se ver. Com o tempo todos lutaram e só restou um garoto algumas classes mais velho e eu, a regra era clara se sobrassem dois alunos eles teriam que lutar entre si. O garoto tinha duas vezes o meu tamanho. Os professores correram para discutir se iam mesmo permitir que um garoto mais velho lutasse contra mim, uma garota raquítica de apenas treze anos. O diretor não demorou a tomar o controle da situação, só dois dias depois do incidente com o garoto do primeiro ano foi que eu descobri que ele era filho do diretor, a ordem tinha sido dada e assinada em baixo. O diretor queria ver o garoto me dar uma surra e vingar seu filho que agora tem alguns pontos no rosto igual a mim.

O garoto ria e se movimentava em passos de Boxe, ele era alto por esse motivo não conseguia manter uma guarda muito baixa. Enquanto ele pulava igual idiota eu soltei os braços ao lado do meu corpo, foi uma arte de luta que eu aprendi sozinha. Ele rio e seu cabelo loiro parecia poeira no vendo quanto veio em minha direção, não precisei de muito esforço para desviar de seu soco baixo e sem força suficiente, joguei meu corpo para a direita e agarrei seu braço com minhas mãos usando da minha força forcei seu punho e seu rádio para a mesma direção e o quebrei como um pequeno pedaço de madeira. Todos ficaram parados em pé olhando o que eu tinha acabado de fazer, eu sabia que tinha saído do limite e iria ser castigada duas ou três vezes por aquele incidente. Dois soldados me levaram arrastada até o arsenal e me jogaram lá dentro trancando a porta logo depois. O olhar de todos para mim era de puro deboche, Lucca e Lucien estavam decepcionados mas o olhar de Ermet era quase de orgulho e foi a isso que eu me agarrei fortemente. Enquanto eu pegava o pano e começava a limpar arma por arma ficava pensando naquele olhar de orgulho e me senti satisfeita com o que tinha feito.

Estava quase acabando o setor das pistolas quando escuto a porta ser aberta e em seguida fechada novamente, olho de soslaio e vejo Ermet se aproximar devagar com as mãos no bolso do seu uniforme. Sua postura era invejável mas seu olhar nunca pediu submissão. Ele parou ao meu lado mas eu fiz de conta que não o havia visto, simplesmente ignorei a sua presença.

- Sabia que aquele garoto também é um semideus? - Ele perguntou contendo um sorriso vitorioso nos lábios.

- Não, eu não sabia. - Dei as costas para ele e continuei meu bom serviço.

- Ele é filho de Anfitrite. - Falou por fim e ficou me olhando. - Fez um ótimo trabalho, nem eu teria feito melhor.

- Está brincando não é? Todos me odeiam e o diretor provavelmente já está vendo uma forma de me expulsar. - ele rio.

- Um bom soldado não aquele que faz o que lhe mandam mas aquele que faz o que é necessário para conseguir vencer. Se o diretor pudesse te expulsar teria sido quando quase matou o filho dele, mas eles precisam de soldados assim. - Ele bateu levemente em meu ombro e sorrio. - Parece que alguém vai começar a ir em missões sigilosas.

- Como? - Ele saiu sorrindo de dentro do arsenal e trancou a porta novamente. Parece que a aventura vai começar agora, pronta ou não eu não perderei essa oportunidade.

Relíquias Do Olímpo (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora