Prólogo - O Aviso da Estátua

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 O presidente sentou-se em sua sala após um dia complicado.

Havia investido uns quantos reais em sua campanha, embora a corrida eleitoral já estivesse ganha fazia muito tempo. Seus adversários já não tinham construído tão bem os pilares necessários para melhorar e convencer o país que mereciam aquele posto.

Quando Fernando Henrique Cardoso melhorou grandemente a economia ao decidir seguir em frente com o Plano Real, não imaginava que poderia alavancar sua influência dessa maneira na política nacional. Talvez até conseguisse sua reeleição em outubro daquele ano.

De qualquer maneira, poderia influenciar algumas decisões se mais alguém de sua chapa fosse reeleito. Somente algumas dicas para que a estabilidade fosse mantida num momento muito peculiar desde a Crise do Petróleo ou a Ditadura Militar, quando se exilou no Chile e – um de seus destinos mais agradáveis – a França.

Foi uma época desagradável, pois não esperava receber tal hostilidade do governo brasileiro mesmo com as dificuldades que, esperava ele, pudessem passar juntos.

Não sabia muito bem nem as próprias intenções, para ser sincero, mas perdeu um tempo precioso no exterior. Seu tempo de estudo foi formidável e contribuiu para sua educação, mas não queria ter desperdiçado tanto tempo.

Suspirou, afastando as lembranças, e abriu as pastas que havia colocado sobre a mesa de despacho, assinando-as em ritmo lento enquanto lia.

Eram documentos importantes sobre alguns detalhes jurídicos sobre a emenda que havia sido aceita há exatamente um mês atrás, quando conseguiu permitir a reeleição em diversas áreas políticas.

Naquela manhã, Itamar Franco veio ao gabinete presidencial deixar aqueles papéis com FHC, pedindo-o que o assinasse e explicando que seria melhor investir no plano.

— Vai ser melhor a gente acompanhar de perto o Plano Real. Teve gente que votou contra — disse ele, estregando a pasta marrom.

— Agora não dá mais pra anular — afirmou Fernando Henrique Cardoso, dando um olhar ligeiro nas letras de aspecto oficial.

— Não, mas não dá pra negar que vão tentar mudar detalhes que podem desestabilizar o nosso foco principal. Se você se reeleger, vamos ter um controle melhor do real.

FHC assentiu, compreendendo o que o homem queria dizer.

Ler e assinar aqueles papéis foi um compromisso adiado durante o resto da manhã – quando acompanhou votações diversas no Senado – e da tarde – período em que investiu alguns materiais na campanha eleitoral, gravou comunicados e aprovou alguns projetos em São Paulo, Mato Grosso e Santa Catarina –, embora agora lembrasse de um fato que lhe causou um susto inesperado.

Eram quase três horas da tarde quando foi ao gabinete pegar um novo paletó. Havia derrubado café quando saiu apressado da frente de uma câmera de vídeo e se preparava para tratar de sua campanha com alguns conhecidos no Complexo Cultural da República João Herculino, onde veriam uma apresentação sinfônica após a conversa.

Entrou apressado e pegou um paletó cinzento no guarda volumes, dirigindo-se de volta a porta. Estava a meio metro dela, com a mão já estendida, quando ouviu uma voz madura chama-lo.

— Senhor presidente, um minuto, por favor.

Assustado, procurou com os olhos a fonte da tal voz.

— Estou aqui no canto direito senhor. — A voz instruiu-o com paciência. — Sim, a estátua. Peço que não comente sobre o que sou.

Uma estátua de bronze de um homem de cabelos revoltosos, uma barbicha antiquada e roupas coloniais o olhava atentamente. Levava uma corda de forca em uma das mãos e um livro em outro, embora parecesse não mover os membros abaixo da cabeça.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora