Capítulo Seis - O bilhete deixado para trás

69 5 6
                                    

 A conversa começou a atrair olhares curiosos que gastaram os sussurros, então deixaram para mais tarde.

A seleção, por outro lado, foi tomada por mais surpresas que pensariam em ter aquele ano.

Fernando Calabar foi selecionado para Hibiri com firmeza pela cadeira, que não demorou nada em fazer um pingo de água cair no totem de caldeirão.

— Hibiri! — disse o Condor-dos-Andes.

Enquanto a mesa da casa comemorava, Hugo sentiu-se um pouco triste por não tê-lo em Andurá.

Mas o mais surpreendente ainda estava por vir.

Os dois alunos desconhecidos que vira quando chegou atrasado eram, na verdade, intercambistas.

Mas não só intercambistas comuns...

Quando se sentaram, primeiro o rapaz (Rutger Bruns-alguma-coisa) e logo após uma garota (Angelique Donatienne), nenhum dos totens se manifestou. Todos pensaram ser um caso de abancado (quando Xamã demora demais para escolher a casa), mas os alunos revelaram-se como ofensores.

Ofensor era uma casa muito pouco conhecida e pouquíssima ativa em Castelobruxo; isso porque os alunos não recebiam muito bem holandeses ou franceses pelo passado obscuro que ambos teriam colocado o país no passado. Principalmente holandeses, que não queriam ver Castelobruxo nem pintada de ouro como era.

Uma explosão de risadas explodiu no Grande Salão quando viram o Condor-dos-Andes dizer:

— Ofensor.

Por azar (ou sorte, caso fossem tão maus e burros como eles) os ofensores ficavam no lado leste do primeiro andar do dormitório de Acaí, mas sobreviveriam aquilo tudo caso fossem espertos o bastante.

— Silêncio, por favor! — dissera Ayrton, levantando-se. — Senhores, eu preciso falar só por um minuto. Pois bem. Eu só queria que entendessem que tenho o mais profundo respeito pela liberdade dos alunos e suas peculiaridades, mas preciso que mantenham a disciplina total enquanto passamos por esse período em que Adolfo Campos se encontra afastado. Não estou aqui para substituir ninguém, mas é necessário que mostremos que esta escola segue os padrões aceitáveis de uma instituição com tal imagem. Mas enfim, creio que queiram comer agora.

Agitando a varinha, um mar de comida estendeu-se pelas mesas, revelando bolos de cenoura com cobertura de chocolate, muita cocada e doce de leite quentinho.

Os alunos conversaram em voz alta os assuntos das férias, dos jogos de Quadribol do campeonato, dos de Trancabola por toda América e sobre o diretor substituto.

Olhares ainda caíam sobre Hugo, Bruna e até Diego, na mesa de Hibiri, comentando sobre o junho passado, mas os ofensores, sentados tímidos na mesa de Acaí, roubaram a cena.

Ao final do almoço e de uma boas-vindas bem sem graça, os alunos levantaram-se e foram para os jardins; embora um fraco frio de outono ainda cortasse o local, o sol ainda lhes oferecia uma quentura agradável.

Hugo e Bruna, desvencilhando-se de Bárbara e Nadi, correram até Diego, que esperava ao pé da mesa de Hibiri.

Hola vocês dois. Olha, yo necesito...

— Senhores, por favor — chamou Ayrton Souza. — Vocês três, venham aqui por um momento.

Trocando olhares, os amigos viraram-se e se dirigiram preocupados até o homem.

— Eu não tenho objetivo de estragar o resto do seu dia, mas é somente uma breve conversa. Podem me acompanhar?

— Eu peço desculpas senhor, mas não poderia falar aqui mesmo no salão? Estamos sozinhos — disse Bruna, com impressionante educação.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora