Capítulo Quatro - O lado norte do mercado

81 6 2
                                    

 Ambos desceram pelo elevador disponível no nível superior do primeiro andar. O aparelho parecia velho, pois ainda tinha grades e era necessário girar uma manivela para movê-lo.

Obviamente ambas as coisas se faziam sozinhas, cabendo aos passageiros do local somente apertar um dos botões que iam do um ao cinco.

O Departamento de Transportes e Contato Internacional Mágicos era duplamente mais lotado quando chegou, embora fosse visivelmente idêntico.

Os Secretários da Magia, porém, não paravam de andar para lá e para cá, levando papéis e falando palavras de ordem. Pequenos estrondos eram ouvidos quando um dos pássaros que ficavam num poleiro ao lado dos Secretários soltava uma pedra dura e a deixava cair num pequeno buraco no chão.

Um grande número de Gaios Explosivos apareciam e desapareciam a todo momento.

Jânio levou o filho até o nível inferior e entraram numa seção sem portas, que parecia até mesmo maior que todas as outras.

O piso era escuro e lustres jogavam luz nos azulejos que refletiam não sua imagem polida, mas sim um tipo de raio-x que revelava quais objetos os bruxos levavam nos bolsos ou maletas.

Pararam em frente a um balcão com grades de ferro onde diversos bruxos aguardavam. A bruxa que os atendeu preencheu um papel previamente antes de perguntar para onde queriam ir.

— Para a Rua da Alfândega, número 496, Brás, São Paulo. Por favor Regiane, o mais próximo do prédio possível. É para o meu filho — disse Jânio.

— Tudo bem. Oi Hugo — cumprimentou a mulher.

— Oi Regiane — respondeu o rapaz, ainda com a voz trêmula.

Regiane Andrina era uma das pessoas mais simpáticas que Hugo conhecera na República desde que vinha até lá com seu pai. Foi ela quem lhe pagou diversas vezes um espetinho de churrasco ou uma latinha de refrigerante na praça em frente ao Palácio Pedro Ernesto.

A mulher deu-lhes uma permissão carimbada e assinada para permitir um pedido de Chave de Portal, que deram a um outro funcionário na orla de uma pequena fila.

— Vá direto para casa — disse seu pai, rígido, antes de deixa-lo a frente de uma das Cabines Zumbidoras.

Assentindo, Hugo esperou que o funcionário, trazendo rádio nuto quebrado, encantasse o objeto e o permitisse entrar.

As cabines eram locais apertados e frios feitos para que os transportes fossem seguros e discretos, embora isso não tirasse a sensação horrível.

Realmente a viagem começava muito quente no começo, quando Hugo foi içado para cima, então o frio da cabine ajudou no início. Sentiu a friagem da rua, um cheiro de gasolina, cores cinzentas sendo jogadas em seu rosto e enfim botou os pés no chão.

Estava num beco próximo ao seu apartamento, com o rádio velho aos seus pés, então não demorou a andar de volta a sua casa. Estava mentalmente exausto, e foi como ficou até o fim do dia.

Por outro lado, foi uma questão de tempo para que Jânio Ribeiro visse que o testemunho do filho funcionou e que sua pose rígida não era mais necessária.

Nos últimos dois dias de julho, acompanhou de perto a R.M.B. digerir os testemunhos dos jovens. Grande parte do Departamento de Execução das Leis da Magia concordou que as palavras eram verdadeiras.

Quando, em cinco de agosto, pareceu ter plena certeza que tudo estava certo, devolveu todos os objetos mágicos do filho e guardou o Olho Mágico no armário de vez.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora