Capítulo Dez - Atitudes não tomadas

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 Os três subiram a Enorme Escadaria com uma rapidez incomum.

Cruzaram o primeiro andar e, somente após descerem as primeiras escadas, Hugo se arriscou a falar algo.

— Professor, eu...

— Em silêncio — disse Gustavo, em passo acelerado. — Vocês estragaram as chances de um diálogo. Isso é uma escola, não um campo de batalha, eu já disse.

Hugo e Fernando se entreolharam por um segundo e voltaram a acompanhar o professor.

Pararam somente quando chegaram no Grande Salão, quando Gustavo Reis fez aparecer o alçapão no chão enevoado. Desceram por uma escada e atravessaram um corredor escuro.

O trajeto através de ambos os outros corredores iluminados por archotes foi tão rápido quanto tenso, chegando logo a uma estátua ao pé dos últimos degraus.

Organização Estudantil — disse Gustavo.

— Algum problema, professor? — perguntou Enrico Barcelos.

— Um simples caso de disciplina, só isso.

Assentindo, a estátua saiu do caminho e permitiu que os três passassem pelas cortinas antes do Salão do Diretor, embora quem estivesse ali não fosse Adolfo Campos.

Ayrton Souza estava debruçado sobre uma série de papéis, estudando-os atentamente enquanto segurava uma pena em posição de escrita.

As cortinas vermelhas do cômodo acima das escadas, onde o diretor possivelmente dormia, haviam sido trocadas por um marrom triste e desfocado, fazendo-o parecer menos interessante do que parecera antes.

O mapa estelar vivo atrás do poleiro de aves, numa parede mais distante da entrada, exibia agora a constelação de Leão além da de Cão-Maior.

Surpreso, Hugo não achou que aquilo fosse somente coincidência.

­— Senhor Ayrton, por favor — chamou Gustavo Reis.

O homem levantou a cabeça, cansado, e deixou a cadeira de lado para vir se juntar aos presentes.

— Eu já disse que pode me chamar de diretor, professor. Estou atualmente neste serviço.

Gustavo o olhou por um momento, escolhendo palavras que não resultassem em sua demissão ou confronto, e apontou para Fernando.

— Este aluno atacou outro durante a seleção do Clube de Duelos, mesmo com minha tutela restritiva a falta de honra em uma batalha de bruxos — disse o professor de Combate, virando-se agora para Hugo. — Este daqui já realizou um ataque contra o mesmo aluno, agora desarmado. Como deve saber, as punições disciplinares tem de ser discutidas num caso desses. Venho até o senhor pedir que seja decidido este caso.

Ayrton pareceu ter sido estuporado, pois tombou levemente para trás e piscou os olhos rápido demais, coçando o queixo e tossindo. Obviamente não havia sido treinado para aquele caso, embora tenha sido escolhido como diretor substituto.

Vestia uma longa capa branca e verde-escuro, embora trajasse uma simples camisa e calça pretas. A primeira flutuou baixo quando andou até Fernando.

— Meu jovem, eu sei que não teve a intenção, mas...

— Eu tive sim senhor — respondeu Fernando, com a voz vacilante. — E-ele vivia me perturbando, desde que cheguei aqui. Eu não sei o que ele viu em mim, só sei que acha que pode me azarar sempre que quiser.

— Ah... e... e você não faz nada? Ora rapaz, você é um duelista. Precisa ter força — disse Ayrton, arregalando os olhos ao repassar as próprias palavras. — Mas não reagir com violência, claro. Enfrentar batalhas é necessário, só isso que digo.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora