Capítulo Dezenove - A primeira Suprema Ordem dos Bruxos

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 As aulas, um fardo facilmente associável à água no alto da cabeça de um Kappa Tropical do norte do Pantanal Mato-grossense, começaram a se tornar ainda mais complicadas com o passar do mês.

Os professores retomaram a rotina de desesperados trabalhos e redações trabalhosas, enquanto começavam a apresentar novos feitiços complicados.

Hugo pressionou-se emocionalmente na segunda-feira, dia 12, em Defesa Contra as Artes das Trevas, que foi extremamente difícil dado ao gesto de varinha do Feitiço do Patrono.

Foi o encanto mais difícil que Hugo já aprendera, e não conseguiu conjurar mais que um escudo opaco para afastar um boneco se pano flutuante que Heloísa enfeitiçou para se parecer com um Dementador.

Hugo agradeceu que a Elite de Contenção de Animais Mágicos controlasse muito bem a população de Dementadores brasileiros nas áreas que sofriam com maior pobreza ou seca no Brasil.

Os maiores focos eram no Rio de Janeiro e no sertão pernambucano, embora não passassem de três dezenas, no máximo. O que realmente era preocupante no país era um grande número de Mortalhas-Vivas, que estava presente até mesmo em meios urbanos, dentro de bueiros durante o dia; porém não eram tão acostumadas a invadir as casas como em Nova Guiné, na África.

Hugo relembrou o agoniante momento em que o animal frio o abraçou na noite de natal. O terror que envolveu cada instante até que o Patrono do pai o salvou.

Teria pensado mais se Cristina Candeias não tivesse lhe chamado a atenção com um grito entrecortado, na aula seguinte.

— Sim? — disse ele, levantando a cabeça.

— Pode me dizer como os bruxos estruturavam suas comunidades entre os nutos nos alpes? — perguntou a professora, com o lábio torcido como se tivesse acabado de desafiar o aluno.

— Ah... Fala dos incas ou...?

— Sim, dos incas.

Hugo folheou algumas páginas do A História Mágica do Brasil, mas percebeu logo que o livro não tratava da civilização da pré-colonização espanhola.

Releu trechos ligeiros do caderno.

— Eu... Ah... Eles vivam perto dos nutos, como chefes espirituais. — respondeu.

— E qual era a principal função do bruxo dentro das cidades incas? — questionou Cristina.

— Ah... Bom... Chefes espirituais?

Cristina, que parecia estar a ponto de uma crise de nervos, apertou o espaço entre os dois olhos, suspirando enquanto se virava para ele.

Alguns dos alunos riram.

— Menos dois pontos para Andurá por sua ignorância. Senhora Bruna, acho que pode nos esclarecer.

— Eles agiam como adivinhos ou profetas, professora — respondeu ela, mesas à frente. — Os nutos pediam auxilio com objetos perdidos, plantações ou nomes de filhos. Usavam muito Filomancia e Aritmancia para aconselhar eles.

— Ótimo. Cinco pontos para Andurá.

Hugo sofreria ainda mais com a própria Filomancia na quinta-feira, quando Adivinhação lhe exigisse que mascasse uma folha de coca desintoxicada após ser fervida em sangue de Mapinguari.

Tinha de arrancar a planta da boca (que tinha um gosto horrível de remédio e xixi de duende) e a colocar num prato, vendo-a assumir uma forma talvez compreensível.

— Este metano de adivinación foi muito usado pelos anciões incas durante siglos. É uma das formas mais interessantes de prever ou interpretar mensajes durante os siglos de oro inca — disse Idomeu Açu, enquanto acompanhava os alunos. — Masquem bem a folha até que esteja muy pequeña, e só então a coloquem no prato. A imagem poderá ser vista de vários puntos de vista até se achar uma interpretação.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora