Capítulo Quinze - O melhor amigo de Orlando

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 A Amazona desceu sem manifestar desconforto com os olhares que acompanhavam seu corpo pútrido (mas cheiroso) com uma galinha desesperada em suas mãos.

Pelo que parecia, Juan devia estar desesperado de vergonha por estarem vendo-o numa forma tão medíocre.

Hugo e Fernando seguiram silenciosamente e, quando o primeiro viu Bruna e Diego jogando Snap Explosivo, quis ter contado isso a algum dos dois amigos.

Cruzaram as mesas com comida fedorenta e seguidos pelo olhar de dezenas de fantasmas tremeluzentes, brilhando assustadoramente em frente aos lustres. Ambos os garotos torceram o nariz para os pratos apodrecidos, mas não taparam-no; isso seria uma manifestação de uma falta de respeito imensurável.

— Senhor diretor, tem um minuto? — perguntou a Amazona.

— Certamente — disse Adolfo, levantando-se de uma conversa com Martín Constanza. Seu rosto pareceu triste ao ver Hugo. — Pode falar, senhora.

— Acho que devíamos ir até um local mais discreto.

— Diga-me poucos detalhes então, por favor. Não posso deixar uma festa formal desse jeito. — Adolfo acenou para um fantasma de barba e com cabeça destroncada. — Não se preocupe Joaquim, continue sua refeição.

— Estes dois rapazes estavam fazendo um duelo não permitido próximo às Câmaras com... bem... este outro aluno. — A Amazona mostrou-lhe a galinha, que agora estava quieta. Seus olhos exibiam desespero e vergonha. — Sei que o Clube de Duelos vai começar mais tarde este ano e que os treinamentos devem ser devidamente marcados com o professor Gustavo Reis, então acho que o senhor pode resolver este caso melhor.

Adolfo torceu levemente o lábio e assentiu. Chamou-os para um canto (que estava escuro pela luz fraca preparada para o Dia das Bruxas) e pegou Juan-galinha.

— Pode voltar para sua ronda, senhora. Muito obrigado, e boa noite — disse ele para a Amazona, que assentiu e voltou a subir as escadas. O diretor olhou para a galinha e para os jovens. — Certo, primeiramente quero que me digam quem é este rapaz.

Hugo e Fernando se entreolharam, perguntando-se qual desejava falar primeiro, mas Hugo suspirou por fim.

— Juan Blanco.

— Mas podemos explicar, diretor. Por favor — disse Fernando, desesperado. — Ele zomba da gente desde o começo do ano. Tudo que eu faço, principalmente, é motivo pra ele chutar minhas coisas e...

— Ele tem perseguido nós dois senhor, eu juro que é verdade — disse Hugo, entregando-se ao desespero também.

— Sempre acaba me azarando na aula de Combate.

— Ele diz que eu sou mais que ele.

— Tudo bem, já é o suficiente. — O diretor levantou a mão. — Eu entendo. Mas por que não direcionaram este problema a direção antes?

— Nós fizemos isso, mas aquele cara não fez nada — disse Fernando. — O que estava aqui antes do senhor.

Adolfo, como compreendendo imediatamente, assentiu suspirando e puxou a varinha da manga das vestes.

— Se isso for real, creio que isso contará como um castigo — disse o diretor, soltando Juan-galinha no chão.

O animal saltou, assustado, e correu para longe. Parecia querer fugir antes que todos percebessem que ele era Juan Blanco, o valentão, mas suas pernas pequenas e asas inúteis não foram o suficiente para o gesto feito pelo homem logo atrás de si.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora