Capítulo Três - Os questionamentos do bruxo manco

80 7 4
                                    

 Hugo passou tão rápido pela porta, numa adrenalina descontrolada, que esqueceu de desacelerar o passo para esperar os amigos.

Passavam num pequeno corredor de azulejos escuros, quando Bruna conseguiu alcança-lo.

— Oi — disse Hugo, discretamente.

A garota de imediato lhe lançou um olhar de raiva e censura, como se estivesse espantada de ter tanta coragem de falar.

— Oi — respondeu, e acelerou o passo até estar em sua frente.

Hugo olhou para trás por um instante, vendo Diego com a cabeça baixa e preocupado com o que aconteceria. Parecia ter ouvido muitas coisas de seu pai.

O homem parecia muito bravo com o filho lá trás.

Finalmente chegaram a uma sala alta e levemente iluminada por velas grossas. As paredes eram de madeira polida e lisa e o chão de azulejos brancos.

Um púlpito estava ao lado de uma pequena mesa com uma máquina de escrever e uma mesa larga se estendia pela sala, com cadeiras divididas em sua extensão.

O clima parecia mais quente ali, confortável, embora isso não diminuísse a vontade de sair correndo.

Uma bruxa jovem, com uma capa preta e roupas sociais, estava em frente à máquina de escrever, parecendo nervosa e com os dedos agitados.

Ao seu lado estava um senhor de cabelos brancos, rosto enrugado e sem um dos dentes da frente (diziam que havia sido arrancado por um opositor durante a votação contra as discussões da disposição de João Leonel em 1991). Vestia um terno extremamente limpo, gravata azul e uma capa ainda maior que lhe cobria os ombros.

Um pequeno sino estava em sua frente e estava agitando a varinha no ar enquanto conversava com a jovem antes dos estudantes entrarem.

— Ah, boa tarde senhores e senhorita. Sentem-se, por favor — disse Alan Arnaldo, o chefe da Seção de Mal Uso de Magia e Afins. Era o chefe de seu pai. — Estão bem? Eu espero que sim.

E tossiu seco por um instante, virando a cadeira para a mesa enquanto os três tomavam seus lugares.

Hugo e Bruna sentaram lado a lado, embora Diego tomasse o local no outro lado.

— Ah meus jovens, o que vocês fizeram? Eu poderia mandar vocês pra Tyibá por envolvimento ilegal em investigações oficiais. — Olhares foram trocados num instinto de desespero. — Mas não vou, é claro. Um comentário humorístico para aliviar a tensão. Eu diria que nem aquela prisão tem estado tão segura para prender jovens tão aventureiros.

O bruxo riu, tossindo em direção a escrivã mirim ao seu lado, que sorria com desconforto. Limpou discretamente pingos de saliva quando o homem voltou a sua atenção para os adolescentes.

Hugo ficou intrigado com o comentário, como se a prisão dos bruxos tivesse sofrido outra quebra de segurança. Quem mais Orlando poderia querer tirar de Tyibá além dos Colonizadores?

— Uma brincadeira. Mas eu tenho de dizer que foi muita irresponsabilidade e não devemos repetir isso — disse Alan, se recuperando das risadas. — Não vou lhes mandar para Tyibá por causa disso; esta audiência serve somente para ajudar nossos aurores, fiquem tranquilizados. E... Ah... Rita, podemos começar?

— Sim senhor — respondeu Rita.

Hugo achava que a conhecia quando entrou, mas agora se lembrava de Rita Vander, uma aluna que estava no sétimo ano quando estava no seu segundo ano.

Alan tossiu brevemente.

— Muito bem. Dou como iniciada a audiência de Diego Sánchez, Uyara Tainá e Hugo Ribeiro, estudantes de Castelobruxo, que, na época do ocorrido, estavam no quarto ano de ensino mágico. — O bruxo apontou para o sino e ele tocou, ecoando uma sonoridade que deu a sensação que realmente não havia mais saída a partir dali. — Serão ouvidos hoje em consequência dos acontecimentos de 20 de junho de 1997 na Escola de Magia e Bruxaria Castelobruxo; também sobre o aparecimento do considerado morto, Orlando Lesieg, Ministro da Magia durante a data de 11 de março 1964 até 15 de março de 1985, procurado atualmente pela Guarda Auror brasileira.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora