Capítulo Doze - Acordos e Desacordos

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 — Quindim? — ofereceu o diretor, enquanto tirava um pergaminho de sua frente.

Hugo notou que era uma das notas do Caudilho, onde demorou o olhar por um instante e depois recusou o doce amarelo.

— Não, obrigado diretor — disse ele.

Assentindo, o homem mordeu um pedaço do doce e deixou-o no prato de onde pegara.

— Isso te preocupa também? — perguntou Adolfo, pegando mais um folheto do O Sábio Feiticeiro. — Um desconhecido que pode se tornar fatal ao passar do tempo; uma corrupção que pode fazer com que tudo acabe de um jeito terrível. Eu mesmo já comuniquei O Sábio Pajé, mas não é lá que isso acontece.

— É ele, não é? Orlando? — perguntou Hugo.

— Sem dúvidas, mas isso não vem de suas próprias mãos. Digamos que temos muitos suspeitos, e a esposa dele é a maior deles.

— Esposa de Orlando? Ela não foi...

— Sim, ela foi presa — interrompeu Adolfo, comendo o resto de seu quindim. — Hum... Mas houve outra quebra de segurança na segunda semana de agosto, onde o pai de Juliano Sampaio foi assassinado. O próprio governo decidiu esconder isso até mesmo do jornal, mas creio que não leve muito tempo a partir de agora. — Ele pegou o folheto e o jogou em cima de todos seus pergaminhos. — A imposição do terror já começou; ele vai querer que todos saibam.

Hugo engoliu em seco, imaginando os próximos movimentos do enlouquecido bruxo, notando que estivera deveras distante de isso tudo por um bom tempo.

O primeiro medo que apareceria seria nele mesmo.

A marca pareceu responder e intensificar levemente a sensação de ódio do Garra.

— Os outros países temem um avanço covarde da R.M.B., e com total razão, eu diria — disse o diretor, cruzando os dedos e olhando Hugo com uma expressão instigante. — Somos de longe a maior potência econômica ou organizada da comunidade bruxa sul-americana, Hugo. Porém, o Brasil é grande demais e tem números exagerados de aurores e força-militar. Veja a Guerra do Paraguai; os nutos venceram com força bruta e guerreiros numerosos, mas eu não vejo isso como algo bom. Abaixo de toda a formalidade e educação de nossa burocracia, existe ganância e maldade; essa é a vilã dessa história, e ela encarna Orlando.

— Então o senhor acha que a República quer mesmo tomar os outros países? — perguntou Hugo.

— Não sei, talvez não sejamos mais colônias portuguesas lutando contra a Espanha por território e a República saiba disso. Mas eu sei que Orlando quer se espalhar; que ele quer varrer o controle nuto de todas as nações e transformar a bruxandade em monarcas supremos. Ele só está usando a República pra isso, e não tenho dúvidas disso desde quando saí da COLIBA-SUL.

— É mesmo, o senhor foi julgado por um crime de... ah...

— Responsabilidade.

— Isso — Hugo concordou, vendo o Khuno flutuar adormecido e despejar algumas gotas de sua pelugem próximo ao poleiro. — Eu não entendi por que levaram o senhor. Foi a própria República que estava fazendo a segurança da vitória, não é? Eles que deviam ser responsáveis se teve uma invasão.

— Realmente, mas este argumento foi desconsiderado até mesmo pelos outros países, mesmo que me apoiassem. Quando se trata de assuntos oficiais é complicado desse jeito — disse Adolfo, suspirando. — Me colocaram em frente aos ministros de toda a América do Sul, e até mesmo um representante do Ministério da Magia Francês compareceu; como você sabe recebemos alguns poucos alunos da Guiana Francesa. Estavam todos preocupados com a seguridade de Castelobruxo e eu mesmo já não tenho muita influência na R.M.B. desde que João Leonel tentou mandar nessa escola em 1991.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora