Capítulo Dezesseis - Copas de árvore no chão

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 — Ele... matou? — perguntou Bruna, com incredulidade.

Hugo assentiu e os três ficaram um momento em silêncio.

O primeiro jogo da temporada de Trancabola havia acabado de acabar. Os dois contaram, num acesso rápido de animação ao ver o amigo, que Acaí venceu Andurá de 7 a 5.

Pelo menos não foi tão terrível do que em seus primeiros anos, quando Hugo e Bruna conheceram Diego na arquibancada, quando Andurá decidiu jogar sem ter jogadores o suficiente e perderam de 6 a 0 para Hibiri (que não tinha os melhores jogadores).

O interesse pela primeira derrota da casa no ano caiu quando perguntaram como foi a aula com o diretor e ele decidiu ir para um local discreto distante da sala de Herbologia, logo atrás do castelo dourado. Foi ali que contou sobre as atitudes de Orlando naquele passado nebuloso.

No creo que ele conseguiu fazer isso —disse Diego, como se estivesse enjoado. — Com la propia familia ainda...

— Eu não quero defender ele nem nada, mas... Mas ele estava obcecado — comentou Bruna, baixinho, como se estivesse com medo de dizer isso. — Não acho que ele é inocente, mas Augusto dominou a mente dele com a repulsa dos nutos. Não é?

— Eu não sei mais o que pensar dele. Isso sempre me perturbou — Hugo tocou a marca na bochecha. —, mas agora eu não consigo sentir raiva ou medo dele... É algo parecido...

— Ela ainda te hace sentir ele atrás de usted? — perguntou Diego, com o mesmo cuidado perturbado na voz.

— Sim. Ele ainda está atrás de mim, mas eu não consigo devolver essa raiva — Hugo suspirou e bateu o punho no chão. — O que tá acontecendo com o nosso mundo agora vem de tudo isso, e isso é bizarro demais. Ele tinha sentimentos, mas parece que perdeu isso.

Os outros não conseguiram falar nada por um doloroso momento, permanecendo num silêncio que parecia destoante do resto do ambiente – cheio de gritos e risos alegres, voando em vassouras ou sentados na grama. Parecia injusto que eles estivessem perturbados ou os outros estudantes estivessem alegres agora.

— Ei, isso de não ter sentimentos... Me lembrou algo que vi na Biblioteca de Assuntos Avançados — disse Bruna, levantando a cabeça no segundo seguinte. — Eu fui pesquisar sobre Poções antigas com o uso dos Mordicos, porque li sobre soluções para alisar os cabelos com o cálcio deles e...

— Simplifica — disse Hugo.

— Tem uma citação da poção com penas de Condor-dos-Andes que Orlando comentou na Câmara de Astrologia — respondeu ela. — Você tem que pegar uma pena de um pássaro em plena queda, porque eles se jogam das montanhas pra alçar voo, e juntar muito esterco de Bezerro Apaixonado. Mas a parte mais engraçada é que essa poção é conhecida por tirar muito da sensibilidade de quem a toma.

"Existia um sacerdote inca chamado El Rojo durante a colonização espanhola que usava muito dessa poção e acabou ficando com a pele vermelha. Mas ele se tornou tão irrelevante com a família que acabou se juntando a civilização europeia e morreu de velhice sozinho em La Paz."

— Mas essa poción no da um tipo de vida eterna? — perguntou Diego. — Um dos Colonizadores habló algo parecido.

— Não. Isso é um mito. O consumo estendido dessa poção pode dar uma resistência muito grande e estende a vida até um ponto tão estreito que quem a toma pode sentir exatamente a hora que vai morrer. Tudo isso, porém, uma hora acaba e a pessoa vai morrer como qualquer outra, assim como pode morrer com um feitiço ou ferimento.

Saga Castelobruxo - Pratas e Opalas Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora