Capítulo 16

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Mal posso acreditar no que aconteceu hoje. Eduardo foi me procurar na sorveteria, e eu movida pela emoção, acabei contando-lhe do passado, e meio que contei do meu amor por ele. Ele me olhava assustado, surpreso com tudo que ouvia, quando terminei, ele disse não acreditar no que ouvira. Eu quis morrer quando percebi que havia jogado tudo no ventilador, nunca conversei com ninguém sobre meu sentimento por ele, e ele mal chegou, e eu já fui logo contando-lhe tudo. Por me transmitir segurança, paz, calmaria, foi tão fácil falar dos meus sentimentos, mesmo sem perceber, pois quando me dei conta já havia falado tudo. Quando ele me tocou me senti nas nuvens, foi a primeira vez que estive tão próxima a ele.

Tenho que ser mais forte das próximas vezes que o rever, ele deixou claro que voltaria, e eu não vou me entregar a um amor de infância, que acredito não ser recíproco.

Estava a caminho de casa quando meus pensamentos foram interrompidos pelo toque do meu celular.

Ligação on.

Oi, como está? - ﹰDisse ﹰRico

— Oi?!

Lembra de mim?

— Não, se identifique por favor. - Perguntou Mia

— Rico, moça.

— Ata. -Respondeu Mia séria.

Não gostou da ligação? -Questionou Rico

— Olha peço desculpas, mas a verdade é que queria que nem tivesse ligado.

— Porque me tratar assim? Não deu nem de para te mostrar quem eu realmente sou. -Perguntou Rico

Peço desculpas novamente, mas deixei bem claro aquele dia que não queria envolvimento com ninguém.

— Vamos sair, pra conversar mesmo, sem compromisso?

— Pode ser. -Disse Mia sem ânimo depois de muito pensar.

Sério, mal posso acreditar. -Mal contendo sua felicidade.

- Mia ficou calada.

Te pego amanhã as 7:30, onde prefere?

— Na sorveteria, onde trabalho. Te passo o endereço por sms.

— Tudo bem. - Disse Rico

— Ok. - Concordou Mia

Ligação OFF

Maldita hora em que as meninas foram passar meu contato pra esse cara, não estava afim de me envolver com ninguém, e do nada esse cara me aparece cheio de expectativas. Agora por "educação" tenho que sair com uma cara que não estou interessada.

Bom estou na porta de minha casa, vamos ver o que me aguarda, certamente ofensas e mais ofensas de minha "avó", abri a porta e entrei, ela estava sentada no sofá assistindo TV.

— Cheguei vó

— Estou vendo

— Como passou o dia?

— Desde quando se importa? - Disse zangada

— Eu me importo e sempre me importei com a senhora.

— Problema seu, pra mim não faz diferença, nunca me importei para o que você sente, não vai ser agora.

— Sabe vó, eu espero do fundo do meu coração que Deus tenha misericórdia da senhora. - Com os olhos lacrimejando.

Misericórdia de mim? Porque? Por ser a única que quis cuidar de um ser desprezível como você? -Disse se levantando.

Não sei porque me humilha tanto assim, você é negra assim como eu. -Em prantos)

Não, eu não sou como você. Eu sei que sou preta, aceito isso e sempre aceitei, ao contrário de você, que sempre quis se achar uma pessoa da alta, de pele branca.

— Vó, não foi nem uma, e nem duas vezes que te contei dos preconceitos que eu sofria na escola, e você nunca, nunca foi a escola me defender dos meu colegas e nem muito menos de alguns dos meus professores que eram preconceituosos comigo. Então não venha me dizer que me acho uma pessoa da "alta" de pele clara porque não é verdade, você, como várias outras pessoas me lembram de minuto em minuto que sou negra como se isso fosse errado. Diversas vezes eu te contei do bullying que eu sofria, e você ria, se divertia com tudo, dizia que isso faz parte da vida de preto. Como pode vó? Eu sempre te amei e você nunca me defendeu como uma avó deveria defender sua neta. -Disse alterada em prantos.

— Nunca mais ouse a falar comigo nesse tom. -Acertou - lhe um tapa.

- Mia não disse nada e foi para seu quarto chorando.

Essa foi a primeira vez, mas se ousar a falar comigo nesse tom, pode ter certeza que vou fazer isso várias vezes. -E sorriu.

Deus porque ela me trata assim? Eu já disse um milhão de vezes que eu não tive culpa pela morte da mamãe, eu sofro assim como ela, ou até mais, afinal, ainda sou obrigada a ouvir ofensas diárias. Não tem um dia sequer que eu não chore, parece que se ela não me fazer chorar seu dia não está completo. Eu só queria me sentir amada por ela. Desde criança esse é meu sonho, por isso ainda estou com ela, ainda a protejo e cuido dela, e também por gratidão, é claro. Não deixo faltar nada a ela, remédios, roupas, calçados, alimentos, tiro de mim pra dar a ela, uso roupas usadas, para comprar novas para ela, claro que compro só quando sobra um pouco de dinheiro, o que realmente é raro acontecer, mas quando acontece, compro para ela, e nada para mim. Ela ignora meu carinho por ela, minha dedicação, meu afeto. De fato ela me odeia, eu sei, mas ela já está idosa e bastante doente, não posso deixa-la sozinha, não posso deixar que morra sozinha. - Dizia isso tudo entre soluços.

Preciso me recompor. -Enxugando as lágrimas. Vou tomar um banho e descansar do dia de hoje, que foi bem agitado por sinal, primeiro a história do Eduardo, depois a ligação do tal de Rico, e agora isso com minha Avó.

Depois de um banho demorado, procurei algo mas leve para vestir e me deitei para dormir. Mas o sono não vinha, a única coisa que vinha em minha mente era Eduardo, seus olhos, seus cabelos, seu toque. Depois do que aconteceu, daquela nossa conversa, eu pude perceber que meu amor por ele não é era apenas um amor de criança, e, sim um amor verdadeiro, que reviveu no momento em que o vi, porém, não vou me deixar levar por esse sentimento que só me causará sofrimento, parece que estou vendo as palavras de minha avó ecoarem na minha cabeça: "Preto e Branco não dá certo".

Chega desses pensamentos, preciso dormir, amanhã levanto cedo para trabalhar, o dia será longo...

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Espero que estejam gostando da história!!!
Bjs ❤

CORES DO DESTINO (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora