Capítulo 20

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O jantar estava ótimo, magnifico, entretanto, fui pega de surpresa com aquela pergunta inusitada que Rico me fez, não por ter dúvidas sobre o que sinto por Eduardo, mas sim pelo fato de que eu não me sinto confortável falando dos meus sentimentos, ainda mais com ele. Eu optei por não responder, mas também nem precisou, ficou tudo muito óbvio.

Assim que terminamos o jantar, Rico me deixou na porta de casa, de fato ele foi um cavalheiro a noite toda, não tentou nenhuma aproximação mais íntima, as vezes passava umas cantadas baratas, mas ficou por isso mesmo. É, talvez ele não seja tão ruim quanto pensei, pelo menos amigos podemos ser. Assim que ele me deixou em casa, ele partiu rumo a sua casa, então eu entrei, vi que minha avó já dormia em seu quarto, estranho, ultimamente ela está dormindo demais. Vou levá-la ao médico para ver se tem algo de errado. O lado bom dela já estar dormindo é que por hoje, só por hoje, não vou ser ofendida. Estava com a mão na maçaneta da porta quando ouvi passos se aproximando, e logo uma respiração bem próxima a meu corpo.

— Isso é hora de chegar numa casa de respeito?

— Vó? Pensei que estivesse dormindo. -Perguntou assustada.

— Pra que? Pra você enfiar homem aqui dentro de casa? Onde estava?

— Fui a um jantar com um amigo.

— Olha aqui menina, eu acho bom você se cuidar, pois eu não vou cuidar de bebê nenhum, não basta você que tive que aturar durante todos esse anos. -Disse essas palavras que entraram no peito de Mia como mil facas e foi saindo em direção a seu quarto.

Não, nem por hoje eu deixei de ser ofendida, estou no meu limite. As pessoas me perguntam o porque de eu ainda estar aqui, as meninas mesmo, Crhis e Mih já cansaram de me falar pra ir embora daqui( elas sabem que minha avó não me suporta pela morte da minha mãe, e sabem também o preconceito que ela tem a pessoas brancas). Bom eu sempre respondo a mesma coisa, GRATIDÃO! Não posso abando-la agora, doente, cada dia pior.

Chega ser engraçado o fato dela me cobrar "cuidado", já que ela nunca me ensinou absolutamente nada, tudo que aprendi foi com pessoas de fora, ela nunca sentou e conversou comigo sobre métodos preventivos, aprendi o básico na escola, e nunca mais pesquisei tanto sobre o assunto, até porque eu nunca...Enfim, tudo que sei, foi por propagandas  na TV, palestras e etc. Agora ela vem se achar no direito de me cobrar algo?

Sabe o que é o o pior de tudo? O fato de que eu falho todos os dias com a promessa que fiz a meu pai, de nunca deixar me humilharem pela cor da minha pele. Toda via, o que mais acontece é  isso, e eu continuo sempre submissa a tudo e a todos. Quando ouço algo do tipo racista, é como se algo me sufocasse a tal ponto que eu não consigo dizer nada. Quando criança, eu acreditava que quando crescesse isso iria passar (doce inocência), acreditava que as crianças faziam isso por ser "coisa de criança" , mas não, quando eu cresci tudo continuou, ou melhor, piorou.

O fato é que no Brasil o racismo existe sim, e não é mimimi, é  algo sério. Dizem que nós negros, fomos libertos da escravidão, mas será mesmo que fomos? Não! Ainda continuamos sendo escravos, escravos da sociedade que insiste em querer julgar mal as pessoas de pele negra. Quantas vezes quando criança, eu estava andando com meu pai, e estávamos de um lado da calçada, a pessoa que vinha na mesma calçada que a gente, quando via meu pai, na mesma hora mudava de calçada, isso quando as senhoras não escondiam a bolsa para mais próximo do seu corpo. Deus como dói lembrar de tudo que me pai já passou, e mesmo assim não se abalava, ao contrário de mim. - Já com rosto molhado em lágrimas.

CORES DO DESTINO (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora