Capítulo 26

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Passou- se alguns dias desde que eu e Edu começamos a namorar, ainda não contei a minha avó, pois ela não aceitaria meu envolvimento com ele em hipótese alguma, ela não suporta pessoas brancas, sempre me alertou que são traiçoeiras, é um certo tipo de complexo de inferioridade. Na verdade, acredito que minha avó não gosta de ninguém.

Desde a última vez que falei com Mirella ela sumiu, está levando ao pé da letra o seu "Adeus". Mih foi muito importante na minha vida, mas não posso a obrigar a continuar participando dela, e se for para ela destruir minha felicidade, é melhor que fique longe mesmo.

Meu namoro com Edu vai melhor do que nunca, ele vem aqui sempre que dá, e é muito bom cada vez que o vejo. Sentir seu beijo, seu abraço, sua proteção, é a melhor coisa, quando estou ao seu lado, esqueço todo preconceito, toda maldade do mundo, ele realmente me transmite paz. Me pergunto como conseguir viver tantos anos sem esse amor?!

Confesso estar cada vez mais apaixonada pelo Edu, a forma como ele me trata perante as outras pessoas, como ele lida com o preconceito que temos de enfrentar e infelizmente não são poucos, vê-lo me defender com tudo o que tem, me enche de amor, ternura e felicidade, e só me faz ama-lo cada vez mais.

Assim que começamos a namorar, notei que estava sendo seguida por alguém todos os dias, foi difícil identificar quem era, mas depois conseguir ver. Percebi que Rico anda me seguindo, escondido nos becos, em estabelecimentos, claro que ele não sabe que eu sei, muito menos o Edu. Sei que deveria contar a ele, porém, prefiro não preocupa-lo com bobagens, principalmente depois de tudo o que ja vem enfrentando por mim, não quero sobrecarrega-lo ainda mais. Acredido que seja capaz de lidar com isso sozinha.

Penso bastante sobre isso no decorrer do dia, e chego a conclusão de que preciso resolver essa de uma vez por todas. Afinal, ninguém gosta de ser perseguida e vigiada o tempo todo.

Assim que o expediente se encerra, ando em direção à porta de saída, e ao passar por ela, sinto mãos fortes agrarrarem firmemente meu braço. Puxo-o na intenção de solta-lo do aperto repentino, porém minha atitude é em vão, pois a pessoa é bem mais forte do que eu, e só agora, observando-a melhor, com certa dificuldade por ja ser noite, identifico a pessoa que ainda mantém a mão firme em mim: Rico.

— Mia, por que tem fugido de mim?-Pergunta aflito.

Tento me soltar mais uma vez, porém nada resolve.

— Pode por favor soltar o meu braço? - Pede entre dentes olhando no lugar onde sua mão antes estava e agora somente encontra pequenos vergalhoes dos seus dedos.-Obrigada.- diz alisando o braço a fim de aliviar o desconforto causada pela sua força exagerada.

Mia, me desculpe.- pede parecendo estar realmente arrependido-Fale comigo, por favor- pede com olhos suplicantes.

Falar o que Rico? Imaginei que já estivesse tudo resolvido. -responde

— Escuta... Eu, eu gosto você Mia, será que não percebe?

—E eu amo outra pessoa. Será que não entende? Porque acha que poderia existir algo entre nós dois? Entenda, eu não te amo. Ficar me perseguindo não vai modificar as coisas.- diz e vê Rico arregalar os olhos.- Sim, esse tempo todo eu vi você, mesmo quando se escondia. Por que me perseguir dessa forma?

—Mia, eu só queria, estar perto de você. Falar com você.

—Não entende que não temos mais nada pra conversar? - digo um pouco mais alto.

— Não percebe que seu lugar é ao meu lado?- Tenta novamente.

—Talvez no passado, tenha pensado na mínima possibilidade de isso ter acontecido um dia, porém não mais. Eu amo outra pessoa, é com ela que estou e estou feliz com ele.

— Será que não percebe que juntos temos a oportunidade de crescermos na vida? Que fomos feitos um para o outro?- diz isso e Mia revira os olhos

Rico, põe uma coisa na sua cabeça. esse NÓS não existe, e nem nunca existiu.

—Você não pode ficar com aquele cara. Olha para você e olha para ele? Ele tem tudo e o que você tem?- ele diz e isso atinge Mia como um tapa na cara- Voce é negra e ele não, preconceito em cima de vocês sempre vai haver. Se ficar comigo, não terá esse problema.- diz em expectativa de que o que acabou de dizer faria com que Mia despertasse alguém sentimento por ele, mas a única coisa que passa pela sua cabeça agora é raiva, asco, nojo.

— Se espera que eu ainda tenha o mínimo de consideração e respeito que tive por você um dia, recolha o pouco de dignidade que ainda lhe resta e vá embora, não me force a perder o pouco de consideração que ainda tenho por você. - Diz Mia firmemente

— Mia, me perdoe, eu não quis dizer...- Seu celular toca insistentemente, por um momento ele checa o aparelho, desvia o olhar, parece nervoso ao ver quem era, porém não o atende, desliga-o e guarda-o novamente.

— Não vai atender?- pergunto.

 Não era ninguém importante. - diz cabisbaixo. - Olha Mia, ouça, deixe- me explicar e me desculp...

— Chega!- Mia o interrompe. Não quero ouvir suas explicações, elas não me interessam. vá embora. Por favor.

E assim ele se vai, deixando- me sozinha na saída da sorveteria. Eu estou exausta, essa conversa acabou comigo. Espero que seja a última, pois não sei se serei capaz de lidar com outra conversa desgastante como esta.

Saber o que realmente pensa sobre mim, a forma como vê meu relacionamento com Edu me machucou.

Desde muito pequena tive que aprender a lidar com uma coisa que se quer deveria existir: o preconceito. Não tem nada pior do que ser descriminada e excluida pelo fato de ter pele escura. Me preocupo é com Edu, ele não é acostumado a passar por esse tipo de situação, e agora está tendo que passar por tudo isso por conta do nosso relacionamento. Eu só queria viver meu amor, sem se preocupar em sair com Edu e alguém fazer piadinhas conosco, não me preocupo por mim, mas por ele. Porque não podemos viver nosso amor sem preconceito? Porque é tão difícil aceitar que nos amamos.

E lembrar a forma como Rico mencionou, doeu. Por quê eu não seria feliz com Edu? Por quê eu seria diferente dele? -Lágrimas escorrem pelo seu rosto. - Confesso que já pensei por várias vezes deixar de viver esse amor para que meu Edu não passe por esse tipo de situação. Mas no no fim, meu amor por ele fala mais alto.

Entretanto a realidade de muitos é essa, onde a sociedade emprega padrões racistas ditando que pessoas com padrões, culturas, raças e etnias divergentes não devem se misturar pois não são bem aceitas ,porém, nunca permitirei morrer em mim, a esperança de um mundo melhor. Nós negros precisamos lidar com o racismo desde criança. Precisamos aceitar uma mídia manipuladora que impõe que seu cabelo alisado é melhor. Precisamos ver que a maioria das bonecas é loira dos olhos azuis e não representam seus filhos. Acredito que todos somos iguais, a única característica que separa as pessoas é impressão digital. E a única raça que existe é a humana, e ela não é separada por cor.

Mas eu, Mia, fiz uma promessa a meu pai e Edu que não serei mais submissa a racismo e preconceito de ninguém. Chega, passei minha vida toda calada, sendo omissa a tudo e a todos, mas agora deu, ninguém vai mais me humilhar pela cor da minha pele.

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BJS AMORES💜
Espero que gostem...

CORES DO DESTINO (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora